Por João Messias THE ROCKER
São Bernardo em Movimento – Ação Cultural
Local: Paço Municipal de São Bernardo do Campo
Data: 04/09/2011
Só de se fazer um evento deste porte a Prefeitura de São Bernardo do Campo, juntamente com o Departamento de Cultura merecem aplausos, por darem espaço para o Metal de forma gratuita e com uma ótima estrutura para as bandas divulgarem seus trabalhos.
E o melhor, que o evento contou apenas com bandas do ABC paulista, o que prova a força que a região ainda tem no Heavy Metal, e neste dia se apresentaram grandes nomes daqui como Necromancia, Ação Direta, Guillotine, Social Chaos, Forka, Justabeli, Seven7h Seal, Chaoslace, Necromesis, Chaos Inc, Bioface, Murder e Olam Ein Sof.
E este tipo de evento me faz lembrar dos festivais "Open Air" que ocorriam mensalmente em Santo André no final da década de 90, onde tinhamos a oportunidade de conhecer novas bandas, rever os amigos, enfim, aumentar o conhecimento em torno do Heavy Metal.
Nas linhas abaixo segue o que de melhor aconteceu nas apresentações e no evento em geral:
Olam Ein Sof: Uma viagem aos Elfos
Começando pontualmente ao meio dia, com um sol típico de verão, o evento começou com o mestre de cerimônia Dr. Rock (velho conhecido do público rocker do ABC), dando as boas vindas ao público que ainda chegava ao local (inclusive este que escreve estas linhas), e após a "benção" do doutor se iniciou a apresentação do duo Olam Ein Sof.
Formado por Marcelo Miranda (Violão/Mandolim) e Fernanda Ferreti (Voz/Violão), o Olam Ein Sof faz uma música baseada na cultura Celta/Folk/Medieval, mas que tem como diferencial ser um som sombrio e épico, e para reforçar este aspecto, nesta apresentação participaram no violino André Almeida e na percussão Marcio Cavalcanti, além da dançarina Zara Violet, que unidos ao duo fizeram uma grande apresentação e que representaram fielmente o clima atmosférico presente nos álbuns da banda!
Uma ótima abertura que não deixou de ser uma forma diferente de iniciar o evento!
Murder: Sangue Novo No ABC
Formado por jovens músicos, o quinteto faz uma mescla de Thrash/Death/Grind com muito peso, devido aos timbres "bem gordos" dos instrumentos de corda, mostrou que lapidando algumas coisas, eles podem chegar lá, pois além de pesadas, suas músicas são um convite ao pogo, incitando as primeiras rodas do dia.
Além das músicas próprias, a banda levou covers para Pleasure To Kill (Kreator), Troops Of Doom (Sepultura) e Piranha (Exodus), que encerrou a apresentação.
Como eu disse, lapidando algumas coisas eles podem se dar bem. E certos exageros são até normais, pois como eu disse acima, os integrantes da banda são bem novos e só o tempo e os shows colocarão as coisas nos lugares certos.
Bioface: Metalcore Na Área
Fazendo um som que mescla tendencias que vão do Thrash, Hardcore e Metalcore, a banda conta com bons riffs e um ótimo baterista, que unidos a letras em português, conseguiram satisfazer o público que ainda chegava ao Paço Municipal.
Como curiosidade, apesar de fazerem um som onde as bandas se caracterizam pela agitação e movimentação constante, a banda consegue passar o recado numa postura bem mais tranquila que os seus colegas de estilo.
Chaos Inc: Mescla de Escolas
Representando o Thrash/Death Metal, a banda chama a atenção por mesclar de forma interessante e homogenea os dois estilos.
Os vocais vão numa linha próxima a escola sueca do Death Metal (Entombed, Unleashed), e o instrumental mais voltado para o Thrash das grandes fases do Sepultura, Slayer e Pantera, que conta inclusive com uns fraseados interessantes das guitarras, além de muito peso e brutalidade, que ganhou o público com as músicas do seu EP e covers corretos do Morbid Angel e Behemoth.
Necromesis: A multiplicação dos instrumentos
Eu já conhecia o som do trio quando conferi uma apresentação deles na abertura do show dos poloneses do Besatt, ocorrida em fevereiro deste ano e eles já haviam me chamado a atenção pelo seu Death Metal técnico e limpo, que tem como influências as bandas Atheist, Sadus e Death, mas devo confessar que a apresentação de hoje foi muito melhor.
É incrível como apenas três instrumentos deixam o som "cheio" sem precisar de outra guitarra ou mesmo teclados e a banda usa todo esse lado técnico para o bem da música. Mesclando músicas dos seus dois trabalhos o trio fez a primeira grande apresentação do dia!
Chaoslace: A vez do Death Metal Tradicional
Também conhecida por abrir shows do Besatt, a banda é adepta do Death Metal Tradicional, mas com passagens que nos remetem ao início do Thrash Brazuca, em especial as bandas mineiras, mas que infelizmente foi prejudicada pelo som, o que impossibilitou a audição merecida.
Mesmo com esses contratempos, o trio mandou sons de seu EP e covers do Sepultura e Ratos de Porão, essa bem aos moldes do Death Metal.
Seven7h Seal: Mudanças bem vindas
Depois de um período de mudanças e agora com a entrada do vocalista Leandro Caçoilo (Soulspell, Sancti, êx-Eterna), a banda mostrou que continua com a mesma pegada energética de sempre.
Com um instrumental que mescla o Heavy/Thrash de bandas como Forbidden, Fight e Testament, aliados aos vocais de Caçoilo (um dos melhores vocalistas do país), que aqui vai numa linha bem mais agressiva que suas outras bandas, tem tudo para figurar entre as maiores bandas nacionais.
Mesclando músicas de todas suas fases, a banda ainda nos brindou com uma excelente versão para Neon Nights do Black Sabbath, que deve ter deixado Dio orgulhoso, além de uma inédita, a poderosa Mechanical Souls, inspirada no filme Blade Runner, que encerrou a apresentação.
Se o novo material vier tão bom como esta faixa, mais um grande trabalho do quinteto está a caminho.
Justabeli: Fazendo Jus Aos Anos 80
Já com seus 10 anos de estrada, o quarteto pratica um Speed/Thrash/Black Metal muito bem feito, que chama a atenção pelo clima nostálgico de suas músicas, com direito a agudos e aqueles riffs a lá "cortador de grama" e pelo estilo do vocalista, que lembra um misto do Cronos (Venom) com o Conam, além de um jeitão a lá David Vincent (Morbid Angel) no manejo do baixo.
Caminhando para o final da apresentação, a banda convida seu antigo guitarrista, e leva alguns sons, inclusive uma homenagem ao êx-vocalista da banda Evil Mayhem, que faleceu tempos atrás.
Uma grande apresentação que manteve o nível do show anterior.
Forka: Into The Pit
Mais uma banda que eu fiquei feliz em conhecer!
Os caras, numa performance insana, mostraram que não estavam para brincadeira, soando como trilha sonora das lutas de UFC!
Tendo como base o Thrash e descambando para o Metalcore em muitos momentos, o quinteto mandou sons dos seus dois trabalhos, como as videoclipticas Feel Your Suicide, Manipulation e Knowing Your Suffering, mantendo-se desta forma até o final de sua apresentação , que terminou com uma versão bombástica para Raining Blood do Slayer!
Social Chaos: A Hora do Crust
Já era noite quando os representantes do Crust/Grind subiram ao palco. O som do quarteto é ríspido e direto, mas que em muitos momentos esbarra no Punk Rock "Old School" pelas levadas de bateria e outros no Death/Doom da Florida, com riffs no melhor estilo barbeador eletrico e algumas partes lentas, o que dá personalidade a música que fazem e que saciou o público presente, que já estava em boa quantidade.
A banda destilou sons de todos os seus trabalhos e mostrou toda a segurança que seus 10 anos de estrada e giros pelo velho mundo podem proporcionar.
Gillotine: Mais Anos 80
Assim como o Justabeli, o Guillotine é da escola oitentista, mas a coisa aqui toma outro rumo, pois a banda tem muita influência do Heavy Tradicional e a pegada do Metal Alemão e mostraram uma síntese bem dosada destes dois estilos. O som lembra muito as bandas que o selo Woodstock Discos lançou no Brasil nos anos 80 como Iron Angel, Assassin, Onslaught, Abattoir, entre outras.
Além dos sons próprios o quarteto mandou uma versão podrona para Remember The Fallen do Sodom, que contou com os vocais de Simone (Midnightmare, e que chegou a cantar na banda por um curto período), que agitou o público.
Nesta apresentação, a banda também estreava o novo line up, com Renê agora nas guitarras e vocais e o baterista Gil (também Necromesis).
Ação Direta: Sob a benção do Hardcore
Prestes a completar 25 anos de estrada e lançar um novo álbum, esta verdadeira instituição do Hardcore fez uma apresentação conforme as expectativas: direto, visceral e com muitas rodas de pogo.
Apesar da proposta musical intacta, percebe-se que com o tempo, a banda está tendo uma maior influência Thrash, deixando o que era bom ainda melhor.
A banda toda joga como um time, dando o sentido de unidade, mas não tem como não comentar a performance do vocalista Gepeto, pois fora dos palcos ele é uma figura pacata e até certo ponto tímida, mas quando sobe ao palco, o moço se transforma, e agita numa postura insandecida, que define com todas as letras o que é Hardcore!
Grande apresentação!
Necromancia: Fechando a noite com muito Thrash
Grande nome do Thrash paulista e prestes a lançar seu novo trabalho, o álbum Back From The Dead, com previsão para outubro, o trio formado por Marcelo "Indio" D'Castro (Guitarra/Vocal), Roberto Fornero (Baixo)e Kiko D'Castro (Bateria) mostrou como fazer muito barulho com apenas três instrumentos.
Com um ótimo público, o trio levou sons de todas as suas fases como No Way Out, Greed Up To Kill, Cold Wish e Death Lust (regravação dos anos 80 que estará no novo disco), que contou com um momento inusitado: no meio do solo, a corda da guitarra arrebentou e a banda fez uma pausa até que houvesse a troca do instrumento e depois a banda retornou de onde havia parado, onde segundo palavras do próprio Marcelo "Isso é Metal", e não há como discordar.
E apesar da apresentação curta, a banda encerrou o festival mantendo o mesmo pique do inicio do show, deixando muitos bangers com um sorriso de orelha a orelha, feliz pelo espaço para o Metal ter voltado na região em grande estilo.
E como não poderia deixar de ser...
... Não tem como não agradecer a Prefeitura de São Bernardo pelo apoio ao Metal da região, Dr. Rock, ao Kedley, do Depto de Cultura e Lazer (e também guitarrista do Midnightmare) pela organização e a todos envolvidos que proporcionaram mais uma data que ficará na história do Heavy Metal no ABC, pois neste dia, a questão dos horários foi seguida a risca, não comprometendo nenhuma das bandas participantes e muito menos quem dependeu do transporte público para retornarem as suas casas!
Que tenham muitos eventos como estes e que o público faça a sua parte como fez nesta noite!
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