28 de maio de 2014

EXECUTER: OITENTISTA SIM, DATADO JAMAIS

Helliday, novo trabalho de quarteto paulista mostra como beber nas fontes clássicas do estilo sem soar como cópia e transmitir personalidade

Por João Messias Jr.
Imagem: Divulgação

Helliday
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Em seus 27 anos de carreira, o pessoal do Executer sempre teve o hábito de realizar algumas proezas em sua trajetória na música. Lá nos começo dos anos 90, foram uma das primeiras bandas a fazer demo tapes com capas coloridas, organizar o próprio festival e talvez, a maior delas: manter a mesma formação até hoje.

Após um hiato, o quarteto formado por Juca (voz), Elias (guitarra), Paulo (baixo), Béba (bateria) retornou com força total, produzindo trabalhos com frequência, tendo como mais recente registro o álbum Helliday, lançado no início deste ano.

Mantendo a linha característica do grupo, que é uma mescla do thrash oitentista das escolas americana e germânica, os caras não fizeram o “copie e cole”, mas injetaram personalidade, como pudemos ouvir na abertura com a faixa-título e a seguinte, 4:00 AM (Insomnia), essa com riffs iniciais que beiram o metal tradicional, que depois ganha backing vocals e se transforma num petardo thrash, mostrando o talento dos camaradas de Amparo. O estilo que consagrou bandas como Saxon e Iron Maiden é uma constante em quase todo o disco, inclusive No Sense possui alguns minutos dedicados a essa vertente, tudo bem encaixado, sem emendas ou costuras. Já Dawn Speech é agressiva e perfeita para o banging.

Outra vertente que aparece aqui é o crossover, como os backing secos de Brain Washing Machine e Deadly Virus. A thrasher The Big Pocket of the Shark encerra de forma magistral o disco. Dona de riffs que alegrará os fãs mais devotos do estilo, ganha de vez o ouvinte com o ritmo veloz e hipnotico conduzido pelos caras.

E tudo isso não está restrito nas canções, pois tudo o que está presente em Helliday (capa, encarte, fotos e produção) mostra um retrato de que é possível sim ser fiel às suas origens olhando para frente e sem comprometer ou descaracterizar o que foi feito lá atrás.

23 de maio de 2014

FOR HEADS: “A SENSAÇÃO DE OUVIR A PALAVRA APROVADOS É SENSACIONAL”

Não é novidade pra ninguém que o heavy metal é algo presente em nossa vida desde cedo. Para uma minoria, uma moda passageira, mas para outros, é algo que segue até o fim dos dias. Junto com a fidelidade, sempre surge nos fãs de música pesada, a vontade de fazer algo a mais para que o estilo propague cada vez mais. Alguns montam bandas, outros fotografam, escrevem e uma boa parte para o jornalismo, como o pessoal do For HeadS. Os então estudantes Afonso Rodrigues, Flávio Camargo e Rodrigo Paneguine escolheram o metal como tema do seu TCC e dessa escolha foi criado o documentário Metal SP, que contém depoimentos de figuras importantes da cena, como Ricardo Batalha (Roadie Crew), Régis Tadeu, Julio Feriato (Heavy Nation), que falam do momento atual da cena metálica no Brasil e dos primeiros tempos.

Confira a primeira parte desta entrevista, em que os meninos contaram da escolha do tema, convidados e a famosa e temida hora da banca.

Por João Messias Jr.
Fotos: Divulgação

For headS com Ricardo Batalha
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NEW HORIZONS ZINE: Vocês se juntaram para fazer um trabalho de TCC, do qual foi concebido o Metal SP, que faz um recorte da cena do heavy metal em São Paulo. Como surgiu a ideia?
Afonso Rodrigues: Primeiramente, obrigado pelo convite! Eu, o Flávio Camargo e o Rodrigo Paneghine, além de outros colegas de turma formávamos um grupinho na faculdade, desde o início da graduação em Jornalismo em 2010. Porém, em 2012, quando o tema TCC surgiu, o grupo se dividiu devido ao fato de que cada integrante tinha um assunto em mente para tratar no trabalho de conclusão de curso. Eu sempre tive vontade, obviamente, de fazer algo que gostasse e que pudesse não ser apenas o capítulo final de minha graduação como jornalista, mas o início de algo maior na qual eu pudesse dar prosseguimento na minha carreira. Então, eu tinha vontade de falar sobre Jornalismo Cultural/Musical (que é a minha editoria favorita no Jornalismo). Vi que existiam TCCs sobre Jornalismo Investigativo... Internacional... Enfim, gostaria de saber como era trabalhar na área, qual era o retorno... De modo geral, compreender esse segmento em um âmbito histórico e profissional com entrevistas com jornalistas no formato documentário (Rádio & TV era a minha segunda opção de graduação)... Algo quase “metalinguístico”. (risos) Ao longo daquele ano cada integrante seguiu o próprio caminho ou de forma independente partindo para uma monografia ou entrando em outros grupos de TCC. Porém, em outubro de 2012, o Rodrigo me propôs a ideia de retomarmos a parceria com os velhos colegas e, assim, terminamos o curso de Jornalismo juntos. Eu topei e Flávio também. No início de 2013, começamos a ter a orientação da maravilhosa professora Lilian Crepaldi. Já no primeiro encontro, ela pediu que fizéssemos um recorte mais específico: “Bem, eu estou vendo que vocês se vestem de preto, são amigos... Gostam de Rock, não é? Porque vocês não fazem algo voltado à música?” Aquilo era tão óbvio pra mim que na minha cabeça era algo fora de cogitação. Porém, percebi que era a hora perfeita de quem sabe falar de Heavy Metal (minha paixão) sério pela primeira vez. Já começava a imaginar como seria legal, no futuro, olhar para trás e ver que fiz um documentário (meu formato favorito) e sobre Metal (meu estilo favorito)! Minha biografia ficaria ótima! (risos) Dei a ideia e expliquei os motivos de ser assunto interessante, como o fato de que nos últimos anos mais e mais shows de bandas internacionais estão acontecendo aqui em São Paulo, além do interessante “boom” do nascimento de blogs e sites especializados, por exemplo. Vimos que não tinha nenhum documentário com tema semelhante na internet. Nascia aí o projeto “Metal SP”! Nome em referência às clássicas coletâneas “SP Metal”. Que era, de fato, entender o cenário atual do Metal paulistano de diferentes pontos de vista entrevistando músicos, jornalistas e fãs.

Flávio Camargo: Quando o grupo foi formado definimos que o projeto seria um documentário com foco no jornalismo cultural, preferencialmente relacionado com música. Na hora de dar início ao projeto definimos, de forma superficial, temas que despertassem a vontade do grupo como o classic rock, o rock oriental e o heavy metal. Esse último foi escolhido pelo ineditismo do recorte que faríamos.
Eu não sou tão próximo do gênero, embora conheça e admire algumas bandas. Por isso vi o projeto como um desafio. Pude conhecer algo novo e colaborar com a produção de algo original.

Rodrigo Paneghine: Após muitas ideias que não levaram a nada, nosso grupo original se separou. Cada qual em um canto, surgiu a ideia dos três se juntarem para fazer um documentário. A ideia inicial, de falar sobre música, foi do Flávio. O Afonso cogitou o tema ser sobre heavy metal. A partir daí foi apenas refinar o assunto e chegar ao gênero com foco na cidade de São Paulo.

For headS com Julio Feriato
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NHZ: E como foram os preparativos, as ideias de entrevistados. Diga-nos essa etapa de preparação e planejamento?
AR: No início, foi difícil, pois jornalistas sem contato é nada... Como não fazíamos parte do meio, não tínhamos o contato de bandas, assessorias ou jornalistas. É claro, eu já tinha uma grande lista de nomes que eu gostaria de ver no documentário. A professora Lilian, então, passou alguns nomes de entrevistados possíveis e que ela conhecia. O Rodrigo trabalha no prédio de Segurança Pública do Estado de São Paulo e lá ele fez amizade com o Nelson Corneta. O Nelson foi o nosso primeiro entrevistado. Ele foi o representante da categoria “fã de Metal”. (risos) Foi bom começar com alguém mais próximo ao invés de fazer o primeiro teste de cara com algum músico ou jornalista. Começamos devagar e aos poucos fomos fazendo outras entrevistas. Uma delas com o jornalista João Messias Jr, você o conhece? (risos) Conforme íamos entrando no meio mais facilmente conseguíamos os contatos. Assim, surgiram grandes nomes como Amilcar Christófaro (Torture Squad), Fernanda Lira (Nervosa) e Edu Falaschi (Almah, ex-Angra). Outros nomes surgiram com as facilidades que a internet nos proporciona. Fizemos contato com alguns entrevistados por e-mail e por “in box” na rede social Facebook (risos).

FC: Desde o início tínhamos uma ideia clara de como o projeto deveria ficar. Nenhum de nós queria, simplesmente, um vídeo longo com vários depoimentos que não despertassem o interesse do espectador. Por isso definimos uma lista de nomes que nos interessavam, tanto pela bagagem quanto a forma de transmitir o conteúdo. Já os detalhes logísticos do documentário foram definidos com o barco em curso mesmo.

RP: O Afonso, com seu conhecimento do cenário, surgiu com uma lista de possíveis entrevistados. Em trio, planejamos os que seriam melhores. Apesar de nem todos responderem, a maioria foi bem receptiva. Ao mesmo tempo, levantamos uma pesquisa sobre heavy metal e subgêneros, orientados pela professora Lilian Crepaldi.

For headS com Edu Falaschi
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NHZ: O interessante do documentário é que vocês não ficaram restritos ao passado e conseguiram em pouco tempo sintetizar bem o que foi a cena, falando com algumas referências da cena, como Ricardo Batalha (Roadie Crew), Regis Tadeu e gente nova que vem representando como Julio Feriato e Fernanda Lira (Heavy Nation). Como surgiram os contatos e o que acharam da recepção dos mesmos sobre o documentário?
AR: Bem basicamente, o nosso foco foi tratar do cenário atual e não o do passado. Algo novo está surgindo. A cena está sim se movimentando. Os headbangers estão se movimentando e criando conteúdos. Não dá para ficar apenas em saudosismo. Queríamos fazer um retrato histórico atual. O Rodrigo foi o nosso “Relações Públicas”. Ele foi o responsável por batalhar, na maioria das vezes, para conseguir os contatos com os entrevistados. A recepção dos entrevistados, felizmente, foi 101% positiva! (risos) Ganhar elogios vindo de Júlio Feriato, Ricardo Batalha, Fernanda Lira... É algo que me deixou tão feliz que eu salvei e-mails e até tirei “prints” dos comentários positivos no Facebook! (risos) Isso é gratificante... É como se fosse um atestado te dizendo: “Vocês marcaram um golaço! Continuem assim.” O legal é que os próprios ajudaram na divulgação. Logo, ganhamos muitas visualizações do vídeo no YouTube graças a eles. A notícia do lançamento (em 25 de janeiro de 2014, em homenagem ao aniversário da cidade de São Paulo) do “Metal SP” foi repercutida em vários veículos: Whiplash, Metal Samsara, Stay Heavy, Canal TV Aberta, Combate de Rock da UOL, Double Blog, New Horizons Zine...

FC: Em um primeiro momento tínhamos nomes e não sabíamos como entrar em contato. As primeiras entrevistas tiveram um longo intervalo. Entretanto, após entrevistar nomes como Ricardo Batalha e Maurício Java as coisas ficaram mais fáceis pelos contatos que eles nos deram. Aliás, a maior parte dos entrevistados se conhecia, o que comprova a solidez da cena na cidade. A minha impressão foi muito positiva em relação à receptividade dos entrevistados. Todos ficaram animados e ansiosos para saber como o projeto ia ficar.

RP: A maioria foi bem receptiva. Alguns mais difíceis de conseguir contato (assessoria não responde, não possui facebook / twitter pessoais, etc), porém muitos foram por meio direto. Batalha, por exemplo, respondeu os e-mails e logo marcamos um local / horário para gravar. Em geral, todos foram bem solícitos.

For headS com Régis Tadeu
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NHZ: Após as entrevistas, mudou alguma coisa em relação aos entrevistados? A admiração virou algo negativo?
AR: Pra mim, nada mudou. Continuo admirando o trabalho de cada um dos entrevistados. É algo até engraçado, pois a sensação que tive foi a de segurança, já que ao invés de surtar com a presença dos entrevistados, eu me senti como se já os conhecesse! (risos) A diferença é que agora eles estavam em 3-D ali na minha frente. (risos) Conversei com o Ricardo Batalha sobre a Roadie Crew em off, demos risada com Júlio Feriato, Fernanda Lira e Amilcar, debati com Régis Tadeu e até tomamos café da tarde com o Edu Falaschi (risos)! A imagem de ídolos intocáveis que nunca cultivei continuou não existindo e, provavelmente, não existirá. Essa “frieza” minha até me surpreendeu. Não me olhava com um apenas um fã entrevistando um ídolo. Eu me via como um jornalista entrevistando outro profissional. Mas destaco dois casos distintos em particular... Quando fomos entrevistar o Régis Tadeu, novamente, não gerei expectativa, mas deu para perceber que meus companheiros de grupo estavam interessados em saber se o Régis era mesmo aquele “personagem” amargo da TV. A sinceridade dele foi algo que sempre admirei e é isso o que faz ser diferenciado com crítico. Aprendi muito com ele quando fomos até o condomínio onde mora. Minha admiração por ele aumentou um pouco, sim. É provavelmente, o meu maior ídolo neste meio do Jornalismo Musical. O lado negativo foi que um dos entrevistados se portou visivelmente de uma forma fria conosco. A sensação é que ele estava pensando: “Tá... Vamos acabar logo com isso que eu tenho mais o que fazer...” Apesar disso, a entrevista foi muito boa, porém ela para por aí... Quero contar todas as histórias dos bastidores do processo de construção do documentário em um livro. Tem muita coisa boa e cômica ali! Ah!... Tenho que confessar, porém, que ao final da entrevista com o Falaschi eu peguei um autógrafo (risos)!

FC: Entre os três integrantes eu sou o mais afastado do gênero, por isso das entrevistas acabei tirando minha primeira impressão dos personagens que entrevistamos e ele foi positiva em todos os casos.

RP: Ao contrário. Confesso que, no caso de alguns entrevistados, conhecia superficialmente. Antes das entrevistas, nós pesquisávamos sobre os cantores e jornalistas, e isso me mostrou bandas e trabalhos que eu desconhecia.

For headS com Bruno Sutter
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NHZ: Em documentários, a parte mais tensa é a edição, pois há muita coisa boa que, devido ao tempo, não aparece da devida forma ou é limada. Houve  algumas partes que foi muito triste ter de deixar de fora?
AR: Felizmente, este sentimento de perda não ocorreu, pois desde muito cedo eu já tinha combinado com o Rodrigo que o documentário seria lançado com a marca For headS. Logo, a ideia era de que após o lançamento do “Metal SP” na internet eu irei também lançar as entrevistas de forma avulsa com materiais inéditos, como se fosse uma banda lançando faixas bônus ou o conteúdo não utilizado para o álbum oficial (risos). Aos poucos estou conseguindo publicar estes materiais. Tem muita coisa boa também ali. Aos curiosos, inscrevam-se no nosso canal no YouTube e curta a nossa fan page no Facebook para não perderem as novidades.
FC: Nós sabíamos que o documentário tinha um limite de 24 minutos desde o início, por isso tentamos realizar entrevistas mais diretas e focadas justamente para evitar tanto material extra. Obviamente acabamos com muita coisa de qualidade que não pode ser usada. Mas não há como ficar triste já que todo o conteúdo que ficou de fora será exibido por meio do For Heads, que o Afonso Rodrigues vêm tocando muito bem.

For headS com João Messias Jr.
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NHZ: Como foi a apresentação do trabalho para a banca? O que a banca e convidados acharam de For Heads?
AR: A sensação de escutar a palavra “aprovados” é sensacional... Uma coroação. Passamos por alguns problemas técnicos na hora da banca. No caso, os entrevistados que aparecem com microfone (Alex Rangel, Bruno Sutter e Ricardo Batalha) estavam mudos no vídeo. Após o momento de tensão, conversei com o pessoal da parte técnica de vídeo da faculdade e o problema foi resolvido, porém alguns internautas ainda reclamaram deste mesmo problema na net. Enfim, a banca foi uma oportunidade única(risos)! Ao invés de me sentir amedrontado, estava muito relaxado afinal era o melhor tema possível pra mim. Pude me sentir como uma espécie de professor de eavy Metal ao explicar para a banca as diferenças entre subgêneros no mesmo. (risos) Parecia que não era uma banca... Eu falando e defendendo o Metal na minha banca final de graduação em jornalismo... Isso é algo que sempre lembrarei e destacarei na minha vida. Eles gostaram do “Metal SP”. Afirmaram que ao invés de queremos “abraçar o mundo” e falar do gênero como um todo resolvemos falar apenas do cenário da cidade de São Paulo. Outro ponto positivo de destaque foi o de “quebra de estereótipos”. Um dos professores se surpreendeu com a postura do público ao ver o tamanho, a diferença de idade e sexo: “Na cena da fila (em referência a nossa cobertura ao show do Black Sabbath) estavam todos tão felizes que pareciam que estavam indo â um parque de diversões”. A ideia do prosseguimento do projeto com o veículo For headS também foi elogiado principalmente quando disse que a proposta era a de criar conteúdos que fossem tão bons que qualquer pessoa pudesse querer ver, independente se é super fã de Metal. Que seria algo mais leve, aberto e didático.

FC: Acredito que conseguimos na banca o melhor cenário possível para tal evento: os professores e o público estavam aprendendo sobre o assunto. Ter a oportunidade de apresentar um tema como o heavy metal para pessoas que não conhecem tanto (situação que eu vivi durante a produção) é recompensador. Nos faz pensar que atingimos o objetivo de um trabalho de conclusão de curso, que é justamente produzir conteúdo acadêmico de qualidade que proponha um debate.


RP: Excelente! Alguns entrevistados estiveram presentes e a banca adorou. Um comentário de um convidado que não vou esquecer foi "não pensava que este era um cenário tão rico. Preciso conhecer mais".

Na próxima semana colocaremos a segunda parte desta entrevista

20 de maio de 2014

ALIANCA HEADBANGER: A PRIMEIRA DE MUITAS EDIÇÕES

Edição de estreia do evento foi realizada no 74 Club, em Santo André e contou com as bandas Forkill, HellArise e Necromesis

Por João Messias Jr.

Forkill
João Messias Jr.
Em uma entrevista, o saudoso Ronnie James Dio disse que as bandas de sua época faziam de tudo para sair dos pequenos clubes e quando fui fazer essa resenha justamente essa matéria me veio na lembrança. Entendo os pontos de vista do saudoso baixinho, pois assim como num emprego, todos querem crescer e se estabelecer. Por outro lado, se não houver os devidos cuidados, o calor humano, a espontaneidade e a energia vão para o vinagre e a coisa acaba virando um emprego comum, em que muitas vezes você está nele apenas pela grana.

Por essas e outras, que apesar de cobrir shows maiores, algo que me motiva e dá prazer são os eventos pequenos e bem organizados, que nos fazem ver de forma clara e sincera que a base da cena está firme e forte, contrariando as pessoas que  dizem que o rock morreu. E um desses eventos que embora novos, como o Aliança Underground, que em sua primeira edição mostrou promissores valores da música pesada. Fruto de uma parceria entre a Warlock Produções e a Ataque Extremo, o festival e realizado no 74 Club, reuniu neste último sábado (17) as bandas Forkill, HellArise e Necromesis, este último responsável pelo pontapé inicial da festa.

Necromesis
João Messias Jr.
Conhecidos do público, Mayara Puertas (voz), Daniel Curtolo (guitarra e voz), Gustavo Marabiza (baixo) e Gil Oliveira (bateria) fizeram o que o público queria: um death metal variado, com nuances do technical, progressivo e partes brutais, evidenciados nos vocais de Mayara. Todas essas características podem ser notadas em The Life is Dead, que faz parte do novo EP do grupo, Echoes of a Memory. 

Com sua discografia se tornando mais extensa, a trupe não se esqueceu dos sons mais antigos e mandaram Building An Underworld e Demonic Source, esta da primeira demo, The Dark Works of Art, todos muito bem recebidas pela galera, formada por sua maioria amigos e conhecidos, o que é interessante e válido, pois não adianta nada você tocar bem e ser estúpido e arrogante com o público.

HellArise
João Messias Jr.
Já eram quase 21h quando a HellArise subiu ao palco. Após um período de incertezas devido às mudanças de formação, as remanescentes Flávia Morniëtári (voz) e Mirella Max (guitarra e backings) agora estão acompanhadas por Kito Vallim (baixo), Felippe Max (bateria) e o guitarrista convidado Diogo Rodrigues. Comemorando o lançamento da versão física do EP Functional Disorder, viabilizado pelo crowdfunding, mostrando que ainda sim o poder está em nossas mãos por meio dos financiamentos coletivos.

A banda, sem cerimônias e rodeios, mandaram o melhor do death/thrash sons do EP, como More Mindless Violence, More Than Alive e I don’t Belive, todas pesadas, fortes e intensas, com um plus. Pois o que você ouve no EP, ouve ao vivo, sem truques e maquiagens. O set contou com uma versão de Violent Revolution (Kreator), a faixa-título do disquinho, que une com harmonia o peso do thrash com as harmonias do metal tradicional. A grooveada Human Disgrace e Rest In Pieces (Good Old Feeling), essa com um belo trabalho das guitarras, cujos solos se aproximaram do hard rock. Agora é torcer para que finalmente as coisas aconteçam para o grupo, pois já o fazem por merecer.

Forkill
João Messias Jr.
Faltando dez minutos para às 22h, o Forkill mostrou o porquê de serem considerados um dos melhores grupos de thrash no Brasil. Joe Neto (guitarra e voz), Ronnie Giehl (guitarra), Gus “Guzzy” NS (baixo) e Mark Kosta (bateria) fazem um thrash agressivo e energético, soando como uma versão atualizada das bandas da Bay Area com um diferencial nas vozes, que possuem muito de Tank e Motorhead, o que casou bem aqui. Com um álbum devastador na praça, que recebe o nome de Breathing Hate, os caras não tiveram dó dos pescoços (e almas) dos presentes e mandaram sons como Vendetta, a faixa-título e The Joker, que infelizmente contou com alguns problemas na guitarra de Ronnie. Sanado o imprevisto, mandaram mais sons, como a slayerizada Wardance e as inéditas Old School e Let There Be Thrash, que mostram que não apenas a pegada fora mantida, mas ainda mais agressiva.

Os caras encerraram a noite com a “antiga” Brainwashed” e uma versão mais rápida e agressiva para Seasons In The Abyss (Slayer), que contou com o final de Raining Blood, fechando essa primeira edição do evento, que teve um balanço positivo, com bom público, som audível para os presentes e grupos de qualidade. Evidências presentes no evento, que promete soltar a segunda edição em breve.

14 de maio de 2014

SOUTH AMERICAN VOICE: OS GUERREIROS NÃO PERDERAM A PEGADA, TAMPOUCO A FÚRIA

Projeto reúne músicos de grupos renomados na cena hardcore como Ratos de Porão, Ação Direta, Paura e Sociedade Armada

Por João Messias Jr.

South American Voice
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Interessante quando surgem bandas e projetos formados por músicos das antigas, como o S.A.V. (South America Voice), pois nesse caso o som remete o ouvinte para a música que consagrou a maioria dos envolvidos aqui: o hardcore. Capitaneado pelo guitarrista Zé Flavio (Vulcano, Psychic Possessor, Sociedade Armada e Safari Hamburgers), que gravou as músicas em 2003, reúne ícones da cena nacional como os vocalistas João Gordo (R.D.P.), Fernando (Sociedade Armada) e Fabio Prandini (Paura), o disco , que recebe o emblemático nome de Bem Vindo Ao Nosso Velho Mundo Novo, apresenta 13 faixas com fortes referências ao punk/hardcore dos anos 80, que de diferente possui apenas a qualidade da produção e gravação.

Os Donos do Poder, cantada por João Gordo, é um irresistível punk 77 com um refrão irresistível. Já Diário de Um Adolescente mostra uma extensão vocal diversificada de Fabio Prandini, assim como Exodo e Lutar, essa última mais cadenciada e pesada.

Paz e Amor, cantada por Gepeto (Ação Direta) é um dos pontos altos do trabalho, pois a canção recebe enxertos ska, o que deixou o que já era bom ainda melhor. Aiô Silver é mais hardcore e Ignorância no Olhar é a mais diferente do trabalho, com partes mais pesadas e cadenciadas, essa também a cargo de Gepeto nas vozes.

Bateu Levou, vociferada por Fernando,  é perfeita para os palcos e a faixa-título é um HC direto com um discurso interessante intercalado em meio a pancadaria. Mais Justiça Social encerra com chave de ouro o trabalho, esbanjando energia e contrastes interessantes de voz, tudo regado com um jeitão punk street.

Um disco que apesar dos destaques, é uniforme, honesto e que mostra perfeitamente como o punk/hardcore é, sem tendências e modismos.

13 de maio de 2014

PAST UNDONE: NEM SÓ DE MOONSPELL VIVE O ROCK PORTUGUÊS

See You Tomorrow, segundo EP de quarteto lusitano, aposta na mistura de rock, metal, jazz e música clássica

Por João Messias Jr.

See You Tomorrow
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Iniciar o título com esse clichê pode espantar o leitor de querer saber das linhas abaixo, mas propositalmente resolvi colocar essa frase, pois evidencia algo semelhante o que ocorre tanto em Portugal quanto em sua antiga colônia: os fãs não procuram conhecer outros grupos, apenas as que aparecem nas grandes mídias metálicas.

E lá da terra do Cristiano Ronaldo aparece por aqui o grupo Past Undone. Formado por André Reis (guitarra), Liliana Boaventura (baixo), Sara Henriques (voz e teclado) e Vitor Dantas (bateria), apresentam em seu EP, See You Tomorrow uma mistura curiosa que abrange jazz, rock, metal e sinfônico, que apesar de alguns tropeços atinge seus objetivos.

A faixa-título que abre o trabalho, possui uma atmosfera melancólica e ganha passagens elegantemente pesadas no final. Já a longa Time to Pray começa como um AOR, mas em seu decorrer ganha grooves e um excelente trabalho de bateria. Talvez se fosse mais curta, teria mais impacto, em especial pelos solos e pelos vocais de Sara, que soam como uma mistura curiosa entre Patrícia Tapia (KHY, Mago de Oz, ex-Nexx) e Liv Kristine.

Time to Pray, que encerra o trabalho, começa com arranjos mais intrincados e a que melhor encaixou o som proposto pelo quarteto, inclusive nas partes mais sombrias e pesadas, em que as referências do jazz aparecem.

Em resumo, há algumas coisas que podem ser melhoradas, assim como a arte da capa, mas como se trata de um EP, creio que o próximo e vindouro trabalho trará resultados ainda melhores.

12 de maio de 2014

ELETROACORDES: QUANDO O MÍNIMO SE TORNA O MÁXIMO


Trio gaúcho mostra que o segredo de um bom disco está na simplicidade

Por João Messias Jr.

Respire Fundo
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Há momentos que você enfrenta um dia daqueles, principalmente no trabalho. Chegando em casa, você quer  apenas colocar um bom rock pra relaxar.  Coisa simples, básica e bem feita, com letras que fogem dos assuntos metafísicos, científicos e apocalípticos, apenas caras que toquem bem e falem coisas palatáveis aos nossos ouvidos.

Se estiver nessa vibe, uma ótima dica é o EP Respire Fundo, da banda gaúcha Eletroacordes. O trio formado por Rodrigo Vizzotto (voz e baixo), Fabrício Costa (voz e guitarra) e Elio Bandeira (bateria) faz um rock and roll simples com toques das décadas dos 50/60, música pop, melodias grudentas e arranjos de vozes e guitarra no mínimo soberbos. Quando eu digo simplicidade, não estou dizendo que os caras se restringem apenas aos três acordes, nada disso, mas que aqui tudo o que você ouve, é na medida certa e sem exageros.

Quem foi que Disse!, faixa que abre o CD, possui  alguns momentos que chegam perto do reggae. Já Encare os Fatos esbarra no pop, cujo jogo de vozes e o solo simples cativam o ouvinte. E aí, um rock and roll grudento a terceira tem uma letra que todo mundo já viveu, seja sozinho ou com os amigos, isso sem falar em mais um solo gostoso de ouvir. Mas o melhor ficou para as duas últimas faixas. Respire Fundo possui um clima melancólico e um refrão grudento que “dá a deixa” para a balada Deixa Pra Mim, dona de apelo radiofônico, os dois pés no pop, letra intimista e um piano bem encaixado fecham o EP com chave de ouro, cujo conceito que tentei explicar nessas linhas tortas está explícito na capa.

Para aquele dia estressante, eis uma banda perfeita para relaxar e curtir, exceto se você ainda estiver dentro daquela caixinha chamada radicalismo.

9 de maio de 2014

VOIVOD: A CONSAGRAÇÃO DEFINITIVA NO BRASIL

Quarteto canadense fez apresentação bombástica para seus fãs brasileiros

Texto e fotos: João Messias Jr.

Necromancia
João Messias Jr.
O dia 30 de abril pode entrar para a história do metal nacional, pois finalmente os headbangers brasileiros tiveram a oportunidade de conferir ao vivo o som dos canadenses do Voivod, que assim como seus conterrâneos do Kataklysm, tiveram datas confirmadas anos atrás, que foram canceladas devido a imprevistos no percurso.

Interessante de tudo é que a banda formada por Snake, Piggy (falecido em 2005), Blacky e Away nos anos 80, possui um som curioso, que mistura no mesmo caldeirão thrash, punk, ficção científica, psicodelia, isso numa época que não havia referências no metal para tanto, pois essa miscelânea passava longe do progressivo do Rush, Queensryche e com a vantagem de agregar fãs de diversos segmentos sem abrir mão da integridade musical, que gerou álbuns clássicos como War and Pain, Killing Technology, Nothingface e até mesmo o contestado Angel Rat.


Necromancia
João Messias Jr.
Como a apresentação foi marcada para uma véspera de feriadão, o trânsito estava um caos, mas deu tempo de chegar no Hangar 110 às 20h30, bem na hora da apresentação do Necromancia. Marcelo “Índio” D’Castro (guitarra e voz), Roberto Fornero (baixo) e Kiko D’Castro (bateria e backing vocal) fizeram seu thrash classudo, que agradou ao pessoal que já estava em ótimo número dentro da casa.

Privilegiando o ótimo Back From the Dead de 2012, mandaram Under the Gun, Playing God e Death Lust, esta última, uma regravação das antigas presente no mais recente trabalho. Embora na maioria das apresentações as bandas de abertura sofram pela ansiedade dos fãs em ver a atração principal, não foi isso que aconteceu nesta noite. Dos trabalhos anteriores o trio mandou a trabalhada Cold Wish (com passagens que nos remete ao grunge e ao stoner), The Blooding e a energética Greed Up to Kill. Sem mais palavras: uma baita apresentação, que soa até injusta chamar de abertura.

Voivod
João Messias Jr.
Já eram 21h50 quando o Voivod começou seu show. Logo nos primeiros acordes de Kluskap o Kom, do mais recente disco, Target Earth, Snake (voz), Chewy (guitarra), Blacky (baixo) e Away (bateria) viu a recepção calorosa do público. Esse som é interessante, pois começa numa levada punk rock e depois ganha contornos psicodélicos. Tribal Convictions, de Dimension Hatross é mais hipnótica e mostrou músicos pra lá de empolgados, em especial Snake e Away, que não tirava os olhos da plateia enquanto espancava a bateria. Como a noite estava apenas começando, os caras mandaram Target Earth, faixa-título do mais recente álbum de estúdio, que com seu ritmo robótico-atmosférico e refrão grudento, soube prender o público, que lotava a casa nessa hora. O álbum Dimension Hatross foi novamente visitado com a trabalhada Chaosmongers e a caótica Psychic  Vacuum. 

Voivod
João Messias Jr.
O curioso é que por mais variada que seja a música do grupo, o que chama a atenção são os vocais, pois não são urrados,  tampouco berrados, mas sim “naturais” com um pé no punk, que ao vivo se aproximam de grupos como Sex Pistols. A sorumbática Warchaic foi mais uma do novo disco e a nostalgia veio novamente com The Unknown Knows de Nothingface, com levadas punk rock e Forgotten in Space, de Killing Technology. A nova Mechanical Mind encerrou a primeira parte do show. Alguns minutos depois o quarteto retornou com a visceral Voivod, de War and Pain, que teve mosh atrás de mosh, que teve até banger se enroscando no microfone de Snake, problema facilmente resolvido. Uma menção ao antigo guitarrista Piggy, que teve o nome gritado pelo público foi a deixa para a última da noite, Astronomy Domine, cover do Pink Floyd, presente em Nothingface e que ficou conhecida dos brasileiros por sua exibição no saudoso Fúria Metal.

Voivod
João Messias Jr.
Confesso que não sabia como encerrar estas linhas desse show histórico, que agradou a todos os presentes, que foi muito bem organizado, com som redondo até na hora da primeira banda, casa cheia, enfim...adaptando algumas palavras do Índio do Necromancia a verdade é que talvez a garotada de hoje não entenda a importância do Voivod no metal, mas quem já chegou nos 30 ou 40 anos sabe a magnitude que foi esses caras terem vindo para cá.

Sentimento evidenciado por diversos músicos da nossa cena, que figuram ou figuraram em grupos como Genocídio, Macchina, Skinlepsy, Acid Storm, Worst, Saturn entre outros que não me recordo agora.



8 de maio de 2014

DNR: O AMIGO SEM CERIMÔNIA

Com influências do metal, grind e HC, quarteto faz é dono de um som direto, urgente e pesado

Por João Messias Jr.

DNR
Divulgação
Na vida temos vários tipos de amigos, que vão de prestativos, invasivos, introvertidos, reservados e aqueles que não tem dó, falam tudo que tem direito doa a quem doer.  O mesmo vale para a música, que tem um acervo que varia desde aquelas músicas que demoram minutos para mostrar seu sentido e valor até as mais diretas, que você saca sem cerimônia e, graças a isso, se diverte muito, como é o caso do primeiro álbum full do  DNR (Do Not Ressucitate).

O quarteto de Jundiaí formado por Raphael Zavatti (guitarra e voz), André “Morto” (guitarra), Zé Cantelli (baixo) e Thiago Zavatti “Spa” (bateria) reúnem em sua música elementos do thrash, hardcore e grind, só que adicionando peso, muito peso, o que diferencia sua música em relação aos grupos que seguem essa mistura.

Reclame, faixa que inicia o álbum na verdade é uma intro que mistura noticiários, televangelismo e programas de auditório que abre caminho para a brutal Novas Grades. Já Controle Inativo, apesar do baixo inicial citar que vem um HC pela frente, surpreende, pois é mais lenta (quase sludge) e depois vira uma porradaria insana. Mas os momentos de diferencial aparecem em Atrofiando Mentes e Ação e Reação, que possuem algumas passagens que, talvez pelo dinâmica, se aproximam do rap, sem soar como Stuck Mojo ou Biohazard, felizmente.

Desarmônico é um tema instrumental que mostra que apesar do peso e brutalidade, mandam muito bem em nas cordas, graves e bumbos. O disco encerra com Parasitas, que possui muita energia e um fim que se conecta com a intro inicial. Interessante dizer que a produção feita pela própria banda e o trabalho de mixagem de Juliano Oliveira e Emiliano Brescacin deixou a coisa uniforme, sem artificialismos e sujeira em demasia.

Assim como um amigo sincero, a música dos caras pode não agradar os que preferem algo digamos, mais bonitinho e algumas vezes mascarado, mas o disco é fiel até o osso, como podemos ver em um trecho da já citada Ação e Reação. “Viver na impermanência ou ser mutável/Mas a essência não se deteriora/Rever os fatos e os planos, seguir em frente e se levantar.”

Se for sua praia, não pense duas vezes!

7 de maio de 2014

PANZER: COMEMORANDO 23 ANOS DE ESTRADA COM A GRAVAÇÃO DO PRIMEIRO DVD

Apresentação realizada no Espaço Som, contou com ótima presença de público e repertório baseado no último trabalho, Honor

Texto: João Messias Jr.
Fotos: João Messias Jr. e Ana Carla

Panzer
João Messias Jr.
Alegrias, conquistas, tombos, recesso e redenção. Assim podemos definir a trajetória do grupo de thrash/stoner Panzer. Já são 23 anos de luta, uma pausa após dois discos e um retorno digamos, mineirinho, por meio de um single (Rising), um EP (Brazilian Threat) e o novo álbum, Honor, o Panzer agora dá um grande passo gravando seu primeiro DVD, realizado no último sábado do mês de abril (26), no Espaço Som, próximo ao metrô Clínicas, em Sampa, que ultimamente vem sendo uma ótima opção para os grupos se apresentarem de forma digna.

A festa, que contou com cerca de 100 convidados (o evento foi gratuito mediante reserva de lugares) inicialmente previsto para às 19h, teve início 40 minutos depois com Rafinha Moreira (voz), André Pars (guitarra), Rafael DM (baixo) e Edson Graseffi (bateria) iniciaram com Speedy, Affliction e Red Days, do álbum The Strongest, de 2001. Desta trinca, destaque para a segunda, com riffs que (apenas no começo) lembram The Laws of Scourge (Sarcófago) e a terceira, que é um belo pé na porta na cara do ouvinte, todas com aquela pegada thrash, com o stoner aparecendo subliminarmente.

Panzer
João Messias Jr.
Antecedida pela intro The Morning After, The Last Man of Earth foi a primeira de Honor. Essa, além de uma das melhores do mais recente trabalho, define muito bem o que é a banda hoje. Heretic é dona de riffs old school, berros dolorosos e muita agressividade.

Alguns podem pensar que por se tratar de uma gravação, os músicos ficariam mais estáticos e inibidos, mas foi totalmente o contrário que tivemos aqui. O lance estava tão descontraído que em determinado momento, Rafael DM foi à frente do palco e arrancou a caneta deste que escreve essas linhas, recuperada pouco tempo depois.

Em meio ao peso de Intruders, percebe-se o lado stoner da banda mais aflorado, assim como em Victim of Choices. Já Rising, a agressividade retorna com estilo e Savior, assim como em Honor, contou com a participação de Silvano Aguilera (Woslom), num contraste interessante de vozes. Alma Escancarada, pode enganar pelo seu começo quase hardcore, mas a mesma ganha contornos variados.

Panzer e público
Ana Carla
Tudo perfeito certo? Nem tanto. Por ser uma gravação, o público estava muito calmo. Estava. Até que em Rejected, do debut Rising, a primeira roda da noite enfim se abriu e se manteve na saideira N.S.A. também do primeiro disco, com DM indo junto ao povo. Algumas músicas foram repetidas para que tenha bastante material para a edição, o que foi válido, pois as canções tiveram rodas, o que será muito mais bonito para o DVD, que além da apresentação, terá como extras depoimentos de grandes nomes da cena.


Parabéns Panzer e ao público, que teve a oportunidade de participar de uma festa bacana, que felizmente foi sem maquiagens e forçadas de barra!

6 de maio de 2014

FABIANO NEGRI: A MELANCOLIA GANHA CONTORNOS E SABORES MALÉFICOS

Potsdamer Platz, nome do novo single do vocalista, aponta novos caminhos em relação ao seu início de carreira

Por João Messias Jr.

A evolução é engraçada. Ela nos faz caminhar em determinadas direções e passado um tempo ao olharmos para trás, quanta coisa mudou. Alguns casos para melhor, outros, nem tanto. Principalmente se tratando da carreira do vocalista Fabiano Negri, conhecido por sua carreira solo, Dusty Old Fingers (Classic Rock) e no início de carreira no Rei Lagarto (hard rock). Aqui, no seu novo single solo, Potsdamer Platz, o  cantor passeia por diversos estilos e contornos inéditos em sua música.

A canção chama a atenção pelo belo vídeo que foi ao ar há poucos dias. Com direção musical de Ricardo Palma e do próprio Fabiano, impressiona pelo figurino, inspirado na cultura cigana e flamenca, que simboliza as fases de um relacionamento, do quanto ele é bom no começo, daquela vontade de ficar junto, com a fase destrutiva, onde a obsessão afoga o amor e o triste fim, que deixa consequências (ou sequelas?) para os dois lados. Além das etapas citadas, o vídeo tem o vocalista trajado com uma roupa que mescla o angelical com o profano e um artista pintando um quadro, cuja arte se revela no fim do vídeo.

Musicalmente a canção possui um ar melancólico, clima presente no seu debut A Practical Guide to Throwing Money Away, mas com uma diferença marcante. Aqui a melancolia anda junto com ares sinistros e assustadores, em muitos momentos soa como uma música alemã mesmo, mas não aquelas da Oktobeerfest, mas aquelas trilhas mais sinistras da música clássica germânica. E talvez aí esteja a grande sacada da canção, porque ela não soa como rock, metal, folk ou pop, “apenas” MÚSICA DE QUALIDADE para escutar, refletir...e mostrar para os amigos é claro. Outro atrativo é a participação do seu antigo companheiro de Rei Lagarto, James Twin.

Ficamos no aguardo do próximo trabalho, que por meio deste single, deixou uma boa impressão e ansiedade da linha musical do álbum completo.

O vídeo de Potsdamer Platz pode ser visto no link abaixo:

5 de maio de 2014

VIOCETY: ENTRANDO COM OS DOIS PÉS NA CORRIDA DA CENA UNDERGROUND

Banda lança seu primeiro trabalho, o EP Instinct em audição que contou com a presença de imprensa e convidados

Texto: João Messias Jr.
Fotos: João Messias Jr. e Island Press
Imagem: Divulgação

Capa do EP Instinct
Divulgação
Com a quantidade e por consequência de bandas e lançamentos, cabe aos grupos usarem medidas e estratégias diferenciadas para apresentarem sua música e para num primeiro momento, angariar público e posteriormente cravar um lugar de respeito na cena underground.

Audições e pocket shows vem sendo a melhor alternativa para as bandas independentes, pois conseguem fazer um show com qualidade para um público que embora pequeno, esta lá única e exclusivamente para conferir o som dos anfitriões.

E na tarde do último sábado do mês de abril (26), a banda Viocety, formada por  Gustavo Cunha (voz), Aloisio Mello (guitarra), Leonardo Schimidt (bateria) e o recém-chegado Rafael Garcia (baixo) reuniu imprensa e fãs para a audição e a apresentação ao vivo das músicas do seu primeiro trabalho, o EP Instinct, cujos baixos foram gravados pelo produtor do disquinho, Paulo Soza (Tempestt).

O encontro, realizado no Nimbus Studio, teve início às 16h, com os músicos oficializando a entrada do baixista Rafael no grupo e contaram um pouco do processo criativo das canções que fazem parte do disco, como Lead and Flesh, que foi a primeira finalizada, cuja letra fala de suicídio.

Viocety ao vivo
João Messias Jr.
Após a audição do trabalho, a banda plugou os instrumentos e apresentou as canções, que chamam a atenção por não andarem em apenas um estilo, pois transitam pelo thrash, metal moderno e até um pouco do prog atual (esses últimos mais vistos pela guitarra de sete cordas e o baixo de cinco), com destaque para a já citada Lead and Flesh, que é dona de andamentos quebrados e a agressiva e direta Game of Life. Além das músicas de Instinct, o grupo apresentou duas composições novas (inacabadas) e covers para os ícones do thrash Annihilator e Anthrax.

O encontro contou com um espaço para perguntas, que giraram em torno da satisfação pessoal em terem lançado o EP, divulgação das músicas em plataformas como Soundcloud e Bandcamp e a interessante transição do vocalista Gustavo, que veio do heavy e está agora numa linha mais voltada ao thrash. Claro que não faltaram as inspirações e referências de cada um, que apresentou uma variedade, desde o metal clássico de grupos como Slayer, até grupos mais comentados atualmente como John Wayne, Gojira e Avenged Sevenfold.

Viocety, imprensa e convidados
Island Press
Já eram mais de 18h quando a audição se encerrou, que foi positiva tanto para a banda quanto para os convidados, dentre eles os ilustres Raphael Dantas (Andragonia) e Tato Deluca (Aclla). E podemos dizer ao Viocety que o primeiro passo foi dado, de forma positiva. Mas o caminho dessa eterna corrida chamada underground é longo e espinhoso. Tenham perseverança e trabalhem com afinco que os frutos aparecerão.

Apenas uma nota a comentar. O encontro foi feito para poucas pessoas. Não é questão de puxar saco de assessoria ou da banda, mas a dita cena do rock (imprensa e público) não deve apenas estar presente nos grandes shows, pois neste o mainstream já tomou conta. Devem cuidar (e bem) de sua base, que são os eventos pequenos, principalmente aos que oferecem estrutura. Pois grupos que hoje desfrutam de status como Sepultura, Torture Squad e Krisiun começaram desta forma. Pensem a respeito.

PASSANDO A MENSAGEM

Com influências diversas, quarteto catarinense explora em suas letras a insatisfação contra o governo e corrupção Por João Messias Jr. As pr...