31 de março de 2014

CHEMICAL: “QUANDO ESTAMOS NO PALCO, NOS EMPOLGAMOS DE FORMA ESPONTÂNEA”

Formado em 2008, por músicos que já passaram por grupos como Zero Vision, Calibre 12 e atualmente contando com os integrantes Alex Freitas (voz e guitarra), Tiago Visceral (guitarra), Corvo (baixo) e Ricardo Nutzmann (bateria),o Chemical mostra ser uma banda que tem tudo para cair nas graças dos fãs de thrash. Embora sejam donos de um som mais brutal, os riffs da dupla de seis cordas busca inspiração em caras como Alex Skolnick (Testament) e Gary Holt (Exodus), que aliado ao peso da cozinha, gera músicas contagiantes e perfeitas para bangear, como podemos ouvir no álbum New Dimension.

Nessa entrevista feita com a linha de frente do grupo, eles nos contam sobre a repercussão do citado álbum, sobre as apresentações ao vivo e muito mais:

Por João Messias Jr.
Fotos: Divulgação e Cristina Sininho Sá

Chemical
Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: A banda, apesar de nova, com cinco anos de estrada, surgiu do Sorcery, grupo que tinha alguns dos integrantes nos anos 90. Como rolou essa, digamos volta às origens.
Alex: Rolou por acaso. Eu tinha gravado em casa uma demo, com bateria programada mesmo, com o todo repertório do Sorcery que estava perdido em fitas de ensaios velhas. Gravei despretensiosamente pra ter o registro das músicas, ai mostrei pro Corvo, que já tocava comigo no Machina Monstro, ele pirou e disse: “mano você tem que montar essa banda”. No mesmo dia, do nada apareceu o Alemão, que curtiu o som também e topou na mesma hora, como estávamos em um estudio, já fizemos uma jam tocando Slayer, Sepultura...só “thrashera véia”. A “química” já rolou ali, naquele momento.

NHZ: O grupo tem uma sonoridade que nos remete ao final dos anos 80 e 90, com destaque para as guitarras, que ao mesmo tempo são brutais e apresentam passagens trabalhadas, que alegrarão fãs de caras como Gary Holt (Exodus) e Alex Skolinick (Testament). Como vocês planejam/planejaram essas partes das canções?
Tiago: Nós tivemos ao longo da vida muita influencia de bandas com grandes guitarristas como o Skolnick do Testament e Gary Holt do Exodus. Eu gosto do som da guitarra mais “sujão”, aquele lance de amplificador no talo, diferente das coisas eletrônicas que temos hoje. Mas também aprecio os guitarristas técnicos como o Satriani e essas influências geram uma mistura boa no nosso som.
Corvo: O som do Chemical é agressivo naturalmente pelas ideias que elaboramos quando estamos ensaiando e bolando as músicas, sempre puxamos para o lado mais pesado e brutal.

NHZ: O guitarrista Alex Freitas fez parte do Zero Vision, cujo debut Acrid Taste fez muito barulho nos anos 90, que apresentava um thrash com muitas influências do industrial. Passado todos esses anos, como você vê esse trabalho?
Alex: Hoje muito se cultua o thrash de raiz, mas o Zero Vision surgiu em uma época em que muito se cobrava evolução e originalidade das bandas, que tinham que evoluir sempre, não podendo se repetir, pois eram muito criticadas. O ZV nasceu dessa necessidade de expandir horizontes e criar um som próprio. Enquanto a maioria das bandas de thrash tentavam emular o sucesso do Metallica com baladas e um thrash mais americanizado, o Zero buscou por influências mais sombrias na música industrial e movimentos alternativos obscuros da época, antes mesmo do surgimento do new metal americano. Acho que o ZV era uma banda a frente do seu tempo, e até hoje não é compreendida pelo público brasileiro.

Chemical
Cristina Sininho Sá
NHZ: Continuando a falar nos anos 80/90, período em que alguns de vocês tiveram suas primeiras bandas, tudo era feito na raça e havia uma maior união entre as diversas vertentes musicais, algo que não ocorre com tanta frequência hoje. Como encaram essa transição de períodos e quais as coisas boas de se ter uma banda no século XXI?
Tiago: Na época era tudo mais difícil. Conseguir gravar era muito caro e nem sempre a qualidade ficava boa, hoje com a era digital as coisas ficaram mais práticas. É mais rápido e barato conseguir lançar material, agendar alguns shows e comercializar produtos. Por isso existem muitas bandas apontando por aí. O lance é que foram surgindo diferentes vertentes e com isso o público foi se dividindo. Mas naquela época de demos e zines, as bandas tinham um reconhecimento maior por parte de todos devido ao trabalho e correria para se fazer as coisas. A galera se juntava mais pra poder realizar shows e eventos, assim era comum a galera andar mais junta independente do estilo.

Corvo: Na época era o que a gente tinha de opção e desssa forma, tentávamos fazer nosso melhor. A parte boa hoje é a gente poder continuar levando adiante a mesma essência das outras décadas com a tecnologia e informações atuais tocando thrash metal.

NHZ: Voltando ao Chemical, vocês lançaram neste ano seu primeiro álbum, New Dimension. Como está a aceitação do disco perante público e mídia?
Tiago: Está sendo muito boa. Tanto o disco como nosso clipe “Bloody Streets” estão sendo bem elogiados por todos em geral.
Corvo: O que me deixa mais contente é que o público está entendendo nossa mensagem, nossa proposta.

NHZ: Ao vivo a banda possui uma performance insana e coesa e músicas como Worms, Chemical Disease e Doi-Codi.
Tiago: Realmente quando estamos no palco nos empolgamos de forma espontânea. É natural, pois a gente se remete as bandas que nos influenciaram durante anos com suas performances ao vivo.

Corvo: Pra mim é impossível tocar nossos riffs e ficar parado, não dá pra evitar a agitação.

New Dimension
Divulgação
NHZ: Para encerrar, recentemente estive num fest que a banda se apresentou no ABC paulista. Além do som, achei interessante a postura do grupo, que ficou até o final do evento, postura que hoje é rara, graças ao individualismo que impera na cena. Apesar dos anos de estrada, ainda se empolgam ao tocar e conhecer o som de grupos novos e conhecer pessoas?
Tiago: Sim, com certeza! Nós somos velhos, como dizem por aí “do rolê” (risos). Gostamos de ir aos shows. Eu mesmo vou em vários lugares quando posso, assisto shows desde black metal até hardcore. Respeitamos todos sem discriminação, tanto é que já tocamos com grupos punk, hard rock e heavy metal sem nenhum problema. Queremos agregar, o que vale é a união e o respeito, gostamos de conhecer as bandas e pessoas, além de apoiar quem está aí na correria como nós.

Corvo: Sim conhecer bandas novas sempre é bom. Aliás, nossa banda mesmo é nova e acho importante rolar essa troca de informações entre as bandas e o público

NHZ: Muito obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem aos leitores desta publicação.
Tiago: Gostariamos de agradecer a vocês e a todos que vem nos apoiando e pedir pra galera apoiar mais o metal nacional e as bandas de som autoral.

Corvo: Obrigado a todos, continuem acompanhando nosso trabalho nas redes sociais, nossa agenda de shows e sempre que puderem compareçam aos eventos.

26 de março de 2014

WORST: “COM A VELOCIDADE DA INTERENET, PRECISAMOS DE MAIS CONTEÚDO E SER MAIS ÁGIL QUE NO PASSADO”

Assim se define o Worst. Com três anos de estrada, dois discos, vários vídeos e centenas de shows, o quarteto paulista é um exemplo de que se trabalhar muito e com direção, as coisas prosperam. Thiago Monstrinho (voz), Douglas Melchiades (guitarra), Ricardo Brigas (baixo) e Fernando Schaefer (bateria) lançaram recentemente seu segundo álbum, que recebe o título de Cada Vez Pior. Com um ritmo mais visceral que o do debut, Te Desejo Todo Mal do Mundo, o quarteto apresenta em sons como Só Depende de Você e Pesadelo músicas para serem cantadas/berradas por gerações.

Nesta entrevista feita com o baterista Fernando Schaefer, o músico fala do ritmo intenso das atividades, shows, manifestações e de forma rápida sobre um famoso ator austríaco que fez muito sucesso na TV por meio de filmes como Conan e Comando Para Matar.

Por João Messias Jr.
Fotos: Divulgação e Ricardo Brigas

Cada Vez Pior
Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Continuando o ritmo intenso de atividades, vocês lançaram recentemente seu segundo álbum, Cada Vez Pior, que é o segundo trabalho em três anos de atividade. Como é criar canções num período tão rápido e que as mesmas tenham qualidade?
Fernando Schaefer: Nunca paramos de compor! Já começamos a compor o terceiro!
O processo é bem natural. Acho que por termos dois bateristas na banda, eu e o Monstrinho, facilita o entendimento e “aproxima” as composições!

NHZ: Assim como o anterior, Te Desejo Todo o Mal do Mundo, vocês mantiveram a parceria com a Against. Vocês chegaram a procurar algum outro selo para lançarem o material?
Fernando: Não! A Against mais do que um selo, gravadora, é nossa família!
Acreditamos 100% na Against e pretendemos continuar assim!

NHZ: Assim como o CD, vocês investem em vídeos. Mal o novo trabalho saiu e possiu clipes oficiais para Sem Dó e Acreditar. Como é investir nessas mídias e que tipo de retorno elas proporcionam para a banda, além dos views?
Fernando: Temos uma parceria forte com a Fuerza Films. Acredito que hoje com a velocidade da internet, precisamos de muito mais conteúdo e ser muito mais ágil do que no passado. Sentimos ao vivo que sempre as musicas dos clipes sobressaem ás outras.

Worst
Divulgação
NHZ: Agora vamos falar de forma um pouco mais detalhada do trabalho. Uma das letras que chama a atenção é Só Depende de Você, que fala das pessoas lutarem para mudar a situação do país. Justamente que em todos os cantos do país estão acontecendo os mais variados tipos de manifestações, seja por melhores condições de trabalho ou contra eventos como a Copa do Mundo. O que acham dessas manifestações e acham que a longo prazo teremos alguma mudança graças a essas ações?
Fernando: Essa música fala mais de mudança de vida. A música Pesadelo que fala mais sobre isso. Acho válido, apoio as manifestações. Só que diferente do que a mídia em geral passa, acredito que mudança mesmo só começará a acontecer com terrorismo. Infelizmente.

NHZ: A canção Honra Dilacerada tem um início interessante, com um trecho do filme Comando Para Matar, que combina perfeitamente com a letra, que fala de uma espécie de justiceiro, que vai contra tudo e todos que vão contra seu objetivo. Como surgiu a ideia de usar essa parte da película?
Fernando: Cara sou fã do Schwarzenegger!!!!
Amo esse filme e sempre tive aquela cena na cabeça! Achei que casava com a música e resolvi colocar! Achei que ficou ótimo!

NHZ: Musicalmente músicas como a já citada Só Depende de Você, Acreditar e Nunca Fez Nada possuem uma energia boa, levada para cantar junto, além dos riffs inspirados e batidas variadas de bateria. Essas canções já figuram nas apresentações ao vivo?
Fernando: Já estamos fazendo shows do Cada Vez Pior.  Agora no começo ainda dividimos o set entre o primeiro (Te Desejo Todo Mal do Mundo) e esse, mas com o tempo, do debut só tocaremos os "hits" e daremos ênfase no CVP.

NHZ: Falando em apresentações, a banda irá se apresentou no dia 16 em Santo André. O que acharam do show e da reação do público a massa sonora do Worst?
Fernando: Os shows tem sido incríveis!!!!
O fato de cantarmos em português aproxima muito o público que se identifica e canta junto todas as musicas.

João Messias e Fernando Schaefer
Ricardo Brigas
NHZ: Para encerrar, vou entrar na seguinte questão. Para uma banda ter lucro ou pelo menos empatar os investimentos, ela tem de se apresentar e no mínimo ter um bom show. Como a banda é conhecida pelos shows intensos e agressivos, conseguem ter um bom retorno do público neste aspecto?
Fernando: Nunca um investimento na banda NÃO teve retorno. Sempre conseguimos tirar dos shows. Estamos conseguindo investir e ganhar! Tudo na sua devida proporção, sem devaneios de caches impagáveis e estrutura de rock star!


NHZ:  Obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem aos leitores desta publicação!
Fernando: Obrigado a todos que gostam, amam, tatuam o WORST!!!! Aos haters, que são muitos, quanto mais vocês nos odiarem, mais cresceremos!
Valeu!

25 de março de 2014

SOUL STONE: EM PUNHO A BANDEIRA DO METAL TRADICIONAL

Quinteto mineiro vai contra as tendências atuais e apostam no estilo que consagrou grupos como Iron Maiden e Judas Priest

Por João Messias Jr.

Metal Machine
Divulgação
Engraçado como são as coisas no mundo da música. Não é porque existem estilos em voga não veremos grupos apostando em vertentes digamos mais “vintages”, como o heavy metal tradicional. Sim, o estilo que consagrou bandas como Iron Maiden, Judas Priest e Saxon é o que ouvimos em Metal Machine, álbum da banda mineira Soul Stone.

A capa, com um ferreiro forjando uma guitarra, é mais uma evidência do que o grupo formado na época por João Paulo (baixo), Zafa Gonzaga (guitarra), Marcelo Guarato (guitarra), Lucas Rezende (voz e teclado) e Tati Ribeiro (bateria) fazem, com uma mistura de variáveis do estilo, do tradicional ao mais épico e melódico, que garante linearidade ao disco, que aliás, é dono de um bonito acabamento em digipack.

Metal Machine abre  com a potente e agressiva Cold Shiver, que de cara mostra o excelente trabalho do cantor Lucas Rezende, que puxa agudos como os mestres Rob Halford (Judas Priest), Ripper Owens e Ralf Scheepers (Primal Fear), assim como The Dark e Black Tomorrow que encerra o disco.

Felizmente os caras souberam variar o trabalho e apostaram diferentes caminhos para as canções. Alguns exemplos estão nos riffs mais cadenciados de Snake Pit, na épica The Unbeliever, que trarão na lembrança o Savatage, a melódica Eyes On Fire e a bela balada One Pray For All the Tears, que nos remete as músicas “românticas” que grupos do estilo faziam nos anos 90.

Talvez uma produção mais moderna (alguém pensou em Andy Sneap?) deixaria o resultado melhor, mas o trabalho em si está bem gravado e nítido, isso é apenas uma opinião pessoal.

Aos fãs de música pesada e honesta, eis um grupo para ser ouvido!

21 de março de 2014

WORST: A VERDADE NUA E CRUA, COMO DEVE SER

Quarteto paulista promoveu no último domingo o show de lançamento de seu segundo trabalho, Cada Vez Pior, cujas letras confirmam a marca registrada da banda: o ódio contra injustiças e desigualdades

Texto e fotos: João Messias Jr.

Worst
João Messias Jr.
Conhecidos do público do ABC paulista, o quarteto Worst fez o lançamento do seu segundo álbum, que carrega o sugestivo título de Cada Vez Pior. 

O local escolhido foi o Lollapalooza, em Santo André, que é uma casa localizada no centro da cidade. Apesar de sempre apresentar grupos autorias, ela ainda é conhecida pelas apresentações de bandas covers, mas parece que aos poucos está mudando esse conceito. A noite ainda contou com duas bandas: os paulistas do Kombato e a banda “da casa”, o Articulado, que deu início aos shows, ás 19h15. 

Articulado
João Messias Jr.
Jefferson (voz), Rafael (guitarra), Norberto (baixo) e Rodrigo (bateria) fizeram uma apresentação mais forte do que a última que tinha visto, em janeiro. Não que a anterior havia sido ruim, mas talvez por estarem num local mais intimista, o show ficou mais forte. Como na canção Campo Minado, que mostrou o que determina uma boa canção: riffs fortes e bem sacados. 

Nesta apresentação, o grupo mostrou algumas músicas novas, que farão parte de um futuro lançamento. Um Mais Um foi uma delas, que mostrou batidas tribais, guitarras dissonantes e muito peso, dando uma prévia do que virá pela frente.

Kombato
João Messias Jr.
De forma rápida e sem rodeios, ás 20h10, o Kombato mostrou aos presentes seu som. Donos de um thrash bem agressivo, o quarteto formado por Juan Arteiro (guitarra e voz), Lucy Shalub (baixo e backings), Lucas Gatti (guitarra) e Renan Bianchi (bateria) tem tudo para conquistarem um espaço maior na cena, pois como o grupo é formado por músicos experientes, sabem mesclar a brutalidade com algo mais cadenciado. A música que abriu o set, Waiting to Die e Refuse the Chip mostraram essas características. O set foi muito curto, 20 minutos apenas, que foram suficientes para apontar o potencial da banda, que é muito boa mesmo.

Worst
João Messias Jr.
Após uma pausa para a troca dos equipamentos, ás 21h15, os donos da festa, Fernando Schaefer (bateria), Thiago Monstrinho (voz), Douglas Melchiades (guitarra) e Ricardo Brigas (baixo), iniciaram a sua bombástica apresentação com Transbordando Ódio, do seu segundo álbum, o recém-lançado Cada Vez Pior. Sem papas na língua, o quarteto, por meio de seu vocalista, citava todas as mazelas que acontecem hoje com a população, como em Só Depende de Você.  Com rodas inspiradas e contando com a participação dos presentes nos backing vocals, a apresentação foi uma mescla dos dois discos, com destaque para Acreditar, Pesadelo, Sem Dó e Honra Dilacerada, os caras mostraram o porque de serem considerados uma das melhores bandas de hardcore/metal atualmente, pois são profissionais, coesos, pesados e agressivos na medida certa. Vícios e Te Desejo Todo O Mal do Mundo, faixa-título de seu debut encerrou esse baita show.

Um rolê que só não foi perfeito porque neste mesmo dia estavam ocorrendo outros eventos na região e em Sampa, o que prejudicou bastante o quesito público, que realmente só apareceu na apresentação do Worst, uma pena, pois tudo foi bem organizado, até na questão do horário, pois passava um pouco das 22h, os shows já tinham encerrado, o que possibilitou a todos voltarem para casa sem traumas e assim, descansarem o esqueleto para o dia seguinte.

20 de março de 2014

MYSTIFIER: BLACK METAL NÃO SE RESTRINGE AOS DISCURSOS, A MÚSICA É FUNDAMENTAL

Trio baiano foi a apresentação principal no aniversário da rádio Exmera, que também contou com a participação dos grupos Sardonic Impious, Ocultan, Sodomizer e Justabeli

Texto e fotos: João Messias Jr.

Mystifier
João Messias Jr.
Algumas bandas são fundamentais para a história do metal e no segmento do segmento obscuro é a banda baiana Mystifier. Com 25 anos de estrada e álbuns obrigatórios como Wicca e Goetia, o hoje trio, que tem como figura o guitarrista Beelzeebubth está em São Paulo para uma maratona de shows que envolve a capital e interior. A apresentação que será comentada aqui será a que ocorreu no último sábado (15), na Fofinho Rock Bar, organizada pela Avengers Produções, além de ser o aniversário da Rádio Exmera. Junto da atração principal, a noite contou com quatro nomes conceituados da cena nacional: Sardonic Impious, Ocultan, Sodomizer e Justabeli.

Justabeli
João Messias Jr.
Sob uma chuva torrencial que caia pelos lados do Belém e Tatuapé, que infelizmente caia dentro da casa (inclusive no palco), ás 23h, o Justabeli deu início a maratona de shows dessa histórica noite. Estreando a nova formação com o guitarrista Victor Próspero (Seventh Seal), o trio chamou a atenção logo de cara com fitas camufladas sob a bateria, o que simbolizou o que os presentes que já entravam na casa iriam ver: uma mescla honesta de speed, black e death metal oitentista. Após uma intro “para entrar no clima”, os caras mandaram Die in the War e Massacre of the Crusades, essa última chamou a atenção pelas passagens longas e empolgantes. Já em Grito de Guerra as vozes divididas entre W. Feres (berrado) e Victor (gutural) mostraram um diferencial das formações anteriores do grupo. Além da banda estar mais compacta, o que deixa o som ainda mais forte e intenso. Como a banda teve meia hora de set, Satan’s Whore e Hell War encerraram a primeira atração da festa. Vamos torcer para que venha um novo trabalho tão poderoso como foi à apresentação.

Sodomizer
João Messias Jr.
Era quase meia-noite quando o Sodomizer deu início ao seu set. Igualmente oitentista, mas caindo mais para o speed metal, com músicas longas, trabalhadas e com riffs puramente oitentistas, que alegrarão os trues. O trio formado por Warlock (voz e guitarra), Leatherface (baixo e backing vocals) e Incitatus (bateria). Assim como eu disse do Justabeli, os caras sabem como fazer um som cheio e intenso com três integrantes, como uma orquestra, o que digamos, não é para qualquer um, como na abertura com Let Satan Take Your Soul. Bring Your Dead chamou a atenção por alguns motivos: por ser dedicada ao pessoal do Mystifier, pelo baixo soar como um trovão, de tão pesado e (negativamente) por problemas na caixa de bateria. Mas a banda foi profissional e com o problema sanado, executaram a canção de onde pararam. Night of the Witch, o dono dos graves colocou uma máscara e além desse detalhe, destaca-se pelas vozes cruas. A saideira, Cenobites, contou com a participação de Fausto (Nightmare) nos backing vocals, coroando de forma (bem) positiva o show.

Ocultan
João Messias Jr.
Sob um manto negro, colar com símbolos afros e um tridente, Count Imperium sobe ao palco e marca o começo da apresentação do Ocultan. Com 20 anos de estrada e que além do vocalista, contam hoje com Lady of Blood (guitarra), Magnus Hellcaller (baixo) e Malus (bateria), provaram ser um dos grandes nomes do black metal nacional, graças ao ritmo hipnótico, denso e ao mesmo tempo crú de suas canções. Privilegiando seu último trabalho, Shadows From Beyond, de 2013, os caras mostraram canções densas e hipnóticas, como Fúnebre e Morto e Enterrado, do citado disco. O vocalista, dono de uma postura firme e (porque não) assustadora não deixava de agradecer aos presentes, que já lotavam o espaço. Com uma atuação segura, os caras passearam pela sua carreira em sons como O Caixão, O Triunfo da Escuridão, O Orgulhoso Exu Beelzebuth e For the Supreme Occult, que após seu encerramento, a banda ouviu os headbangers gritarem o nome da banda, algo que vale muito.

Sardonic Impious
João Messias Jr.
Igualmente black metal, mas beirando o virtuosismo mesclado a agressividade, o Sardonic Impious é mais uma evidência de que não é necessário garimpar no exterior bons nomes da música profana. 
O quinteto chama a atenção pelas canções bem trabalhadas e por um vocal de comando. Radael sabe como comandar o público, graças a postura intimidadora, como no hino de guerra Apocalypse 666. Baphomet é outra que se destaca, pela intro melódica e vocais lentos e tétricos, além do trabalho de bateria diferenciado. Missa Negra, conhecida dos presentes foi a última dos caras. Ao lado do Miasthenia e Murder Rape podem ser consideradas uma das bandas mais talentosas do estilo.


Mystifier
João Messias Jr.
Eram 3h40 quando chegou o momento mais aguardado da noite. Após uma demora de quase uma hora, Beelzeebubth (guitarra e backing vocals), Sorcerer Do'Urden (voz, baixo e teclados) e Poisonou (bateria) sobem ao palco ovacionados pelo público, que abarrotava o local. Donos de um som que alterma momentos ríspidos, cadenciados, tétricos e com muitas partes doom, o trio mostrou que embora a ideologia seja importante no black metal, se o som não for bom passa batido. Como a abertura de (Invocatione) The Almighty Satanas, que apesar de iniciar rápida, chama a atenção pelas partes mais lentas. A banda agradecia aos presentes a todo instante e retribuía com mais músicas, na apresentação que teve como base os clássicos álbuns Wicca e Goetia, lançados nos anos 90. Defloration (The Antichrist Lives) é brutal e primitiva, mas um dos ápices do show foi Aleister Crowley & Ordo Templi Orientis, graças ao seu início sabbathico. Já passava de uma hora de apresentação quando eles fizeram um momento especial. Beelzeebubth foi para a pista e com o guitarrista junto aos fãs mandaram Nightmare (Sarcófago), que fechou o fest da forma que os eventos merecem: com chave de ouro. Uma pena não ter ocorrido a gravação do DVD, pois esse foi um daqueles eventos que mereciam ser imortalizados desta forma.

Uma noite que ninguém teve do que reclamar, a pois casa estava cheia, todos os grupos são musicalmente muito bons (alguns excelentes), a organização foi boa e o até o que poderia atrapalhar acabou não acontecendo, pois a chuva deu uma trégua, e desse forma não teve como alagar a pista e o palco, como pudemos ver na apresentação do Justabeli. E que venham os próximos!

17 de março de 2014

CONFRONTO: "O PRINCIPAL É VOCÊ ESTAR BEM E FELIZ COM O QUE ESTÁ FAZENDO"

Na segunda parte da entrevista, os integrantes do Confronto comentam sobre a escolha da Urubuz Records para lançarem Imortal, a vida de uma banda na estrada e a escolha dos parceiros Sob Controle e The Ultimate Music na consolidação do trabalho.

Fotos: Paulo Barros e Maurício Santana

João Messias e Confronto
Paulo Barros
NHZ: Imortal foi lançado pela Urubuz Records, responsável por trazer ao Brasil os lançamentos de selos gringos como Metal Blade e AFM. O que os motivaram a assinar com eles e o que estão achando da parceria, apesar do pouco tempo que o disco foi lançado?
Eduardo Moratori: Na verdade não teve uma motivação. A gente estava fazendo o disco e o rapaz é amigo nosso de longa data e a conversa fluiu.

Felipe Ribeiro: Quando a gente estava gravando o disco, a gente fez com muita calma e a gente não estava assinado com um selo, uma gravadora. Porque a gente queria estar livre para fazer o que bem entendesse e com calma. Durante o processo de gravação, a Urubuz Records entrou em contato com  a gente e eles começaram a conversar, pois tinham um interesse muito grande de lançar a gente. Na verdade, teve interesse nos discos anteriores, o que acabou não rolando.

Felipe Chehuam: E dentro de outras possibilidades, que a gente teve de outras gravadoras, escolhemos a Urubuz por isso, porque achamos que o trabalho deles é muito bom, por esse vínculo com os lançamentos lá de fora que eles tem feito aqui, a distribuição é muito boa e o disco chega nas lojas do norte e nordeste, além de vendas no exterior. Esse foi um dos motivos que fechamos com ele. Conseguimos chegar numa sintonia de ideias. Foi muito bom para ele e foi muito bom pra nós. Não tenho nada do que reclamar.

Felipe Ribeiro: Não só em questão de negócio, mas dele curtir a banda e gostar do som e vice-versa.

Felipe Chehuam: E pela primeira vez lançamos nosso disco por uma gravadora do nosso estado. Todas as outras vezes foram selos de São Paulo e de outros lugares. E por esse contato que a gente tinha com ele lá, víamos de fato, os lançamentos dele circulando nas lojas e de fato ficamos interessados em conversar com ele numa boa.

Felipe Ribeiro: Acho que a prova do sucesso é que o disco está esgotado. Resta um mínimo de cópias.

Felipe Chehuam: Numa era em que quase não se vende disco. Hoje o que move uma banda a vender discos são os shows.

NHZ: Tem de fazer show pra caramba.
Felipe Chehuam: Tem de fazer show. Porque você motiva o moleque, uma menina que talvez não tivessem essa motivação pela internet. Pela internet é muito fácil, você vai lá no bandcamp, no Youtube, escuta ou baixa o disco. Mas você fazendo um bom show na cidade do interior, no Nordeste,  Norte ou  Sul, e você está lá na cidade do cara, eles se sentem motivados a comprarem o disco. Acho que o que movimenta a venda de CDs é isso.

Confronto
Maurício Santana
NHZ: A banda já fez shows por alguns estados brasileiros e no exterior. Como vêem a diferença de um lugar para o outro. São Paulo e Rio são grandes centros e o público destas cidades tem mais facilidade para adquirir o material dos grupos. Como enxergam essa questão em locais mais afastados dos grandes centros, as pessoas possuem maior interesse?
Felipe Ribeiro: Geralmente em lugares mais afastados as pessoas têm de querer adquirir o material físico. Lugares como São Paulo tem muita coisa acontecendo. Se ele não compra nesse show, mas ele sabe que vai ter outro e vai poder comprar ou baixar o disco. No interior não, às vezes é uma vez por ano que a banda toca ali, não tem loja ou local para aquisição de material e aí eles tem uma gana maior de adquirir o material.

Felipe Chehuam: É fácil dele conseguir porque se ele não comprar ali ele compra depois. Na cidade do interior não, o cara quer aproveitar e comprar. E rola também um calor humano muito grande enquanto mais afastado da cidade e dos centros.

NHZ: O pessoal é mais carente.
Felipe Ribeiro: Exatamente.

Felipe Chehuam: Ás vezes a estrutura nem é tão boa que nem a da cidade, mas o calor humano compensa. Porque você está vendo quanto é difícil pra galera se organizar pra fazer aquele show. Mas eles fazem e todo mundo fica feliz e se realiza com o evento. Tu vê no olho das pessoas essa felicidade, e na nossa também. Você viaja horas e horas dentro de um carro ou numa van é bem recebido. Isso não tem preço.

NHZ: Vocês contam com o suporte da Agência Sobrecontrole e da The Ultimate Music. Qual a importância destes veículos para a propagação do nome Confronto?
Sem essas parcerias as bandas conseguem essa consolidação?
Felipe Ribeiro: Conseguir até consegue, o problema é que nem sempre você tem como fazer tudo. Gravar, tocar, fazer turnê, atender centenas de e-mails e entrevistas, correndo atrás de shows. Para a banda funcionar, tem muita coisa por trás que você sozinho não consegue.

Felipe Chehuam: No nosso caso está funcionando muito bem. Mas eu tenho certeza que existem casos com outras bandas que também funcionam só com a internet. Eu acho louvável, admiro, bato palmas para esses grupos que ficam online 24 horas  resolvendo tudo entre eles. A gente deve muito á Ultimate e a Sob Controle, pois alcançamos outros patamares.

Felipe Ribeiro: Para você ter uma ideia, se não fosse por ele (Assessoria da Ultimate Music) hoje a gente não conseguiria responder o e-mail pra responder a entrevista. Enquanto estávamos indo para o programa (Estúdio Showlivre), ele já resolveu isso com você. Só passou a hora pra gente. Agora que chegamos e estamos respondendo você.

Felipe Chehuam: Isso facilita a nossa vida. A amizade com a Sob Controle é de história. O nosso primeiro show em São Paulo foi feito com o responsável da produtora quando ela nem existia. Ele fez por amizade porque gostou da banda, achou interessante.

Felipe Ribeiro: Assim como acompanhamos a história da Sob Controle, assim como ele acompanha a história do Confronto. Rola uma vibe muito legal.

Felipe Chehuam: Em 2007, em nossa terceira tour europeia, ele foi conosco, na amizade. Lá ele aprendeu muita coisa. Desde que a banda existe estamos juntos.

Confronto
Mauricio Santana
NHZ: O Confronto possui 15 anos de existência. Normalmente os grupos celebram com dez, quinze anos celebram algo. Embora Imortal tenha saído há pouco tempo, pensam em fazer algo para celebrar esses anos?
Felipe Chehuam: Com dez anos fizemos um DVD chamado 10 Anos de Guerra. Estamos praticamente fechados para fazer um novo DVD esse ano.

Felipe Ribeiro: Provavelmente vai acontecer.

NHZ: Não sei se vocês podem falar se vai acontecer no Rio de Janeiro ou em São Paulo.
Felipe Ribeiro: Não sabemos ainda.
Felipe Chehuam: Há propostas para fazer em terras jamais tocadas (risos). Vamos analisar todas as possibilidades. Acredito que sendo ou não o show principal em nossa cidade, haverá bônus com imagens do Rio de Janeiro.

NHZ: Para encerrar, passem uma mensagem para as pessoas que estão na luta, pensam em montar uma banda, querem fazer shows e desbravar territórios. Ou mesmo pra quem batalha na cena, pra quem vai no show, escreve.
Eduardo Moratori: Faça porque gosta. Esse é o principal, pois se você gosta de música, corre atrás que uma hora você consegue.

Felipe Chehuam: O principal é você estar bem e feliz com o que está fazendo. Se a banda tem pretensões de alcançar grandes vôos, busque, trabalhe por isso. Também admiro aqueles que querem montar banda pra se divertir, acho que é válido. Tudo depende do que quer, e  pessoa quer.

Maximiliano: E gostar.

Felipe Chehuam: A gente está fazendo o que gosta. Ás vezes tem essas dificuldades de contratempo, de horário, de perder noite de sono, mas tudo isso estamos fazendo porque temos vontade mesmo, pois não é fácil. Para fazer o negócio bem feito, você tem de se sacrificar e se dedicar, pois aqui no Brasil é mais complicado. Temos problemas sociais, o país está em turbolência, uma série de coisas. Hoje vivemos uma época em que há bandas gringas tocam aqui aos montes, isso é muito bom, pois se pode ver o grupo que você quiser.

Felipe Ribeiro: Coisa que não se via há dez anos.

Felipe Chehuam: Só que isso não é tão bom pra quem não tem banda. Porque esse grupo está tomando a oportunidade do promotor de fazer um show fazer um evento com bandas nacionais.

Confronto
Mauricio Santnan
NHZ: Até porque elas não estão tocando em lugares grandes, estão se apresentando em locais pequenos e médios.
Felipe Ribeiro: O problema não é só esse. Você paga cerca de 100 reais para ver uma banda gringa. É caro, a maioria das pessoas não tem grana e acabam escolhendo e preferem ver o grupo do exterior, pois terão outras oportunidades de ver a banda daqui.

Felipe Chehuam: E isso prejudica. Não só pra gente, mas todo mundo (bandas nacionais) falam disso.

Felipe Ribeiro: Eu vou em show de banda gringa também. Acontece.

Felipe Chehuam: O incentivo que eu deixo pra galera é fazer o que quer, o que gostam. Que não desistam na primeira briga e conflito, pois banda é convívio.

Maximiliano: É um casamento.

Felipe Chehuam: Você passa por diversas fases e épocas, e você vai crescendo. Estamos há 15 anos com a mesma formação. Já passamos por diversas fases e momentos de alegria, tristeza, de problemas. Tem gente que não consegue administrar isso, já vi muita banda acabar na primeira turnê. Pois dava tudo certo enquanto eles se encontravam no final de semana.

Felipe Ribeiro: Passou um mês juntos...

Felipe Chehuam: Passou um mês juntos na van, a banda volta de turnê e acaba. Porque ali é um momento que está convivendo com os caras. Está dormindo, acordando, passando perrengue, frio e fome ás vezes. Ali é um momento que você fala: “Será que é isso que eu quero, será vale a pena?”.

NHZ: As pessoas só olham o lado bom da coisa.
Felipe Ribeiro: A maioria das pessoas só olha quando você está em cima do palco feliz, se divertindo.
Felipe Chehuam: Ás vezes você viaja 20 horas pra tocar 30 minutos, depois mais 20 horas pra voltar. Incluindo um monte de coisas, aeroporto, atraso, problemas, pois tudo isso acontece. Aí é questão de principalmente gostar do que faz.

14 de março de 2014

KAPPA CRUCIS: (AINDA) É POSSÍVEL FAZER ROCK DE VERDADE

Quarteto mostra que é possível SIM resgatar a alma dos anos 70 e transportar este sentimento nas músicas de seu novo trabalho, Rocks

Por João Messias Jr.

Rocks
Divulgação
Escutando o segundo trabalho do Kappa Crucis, acabei refletindo sobre duas situações ocorridas em períodos distintos, mas que são pertinentes nos dias de hoje: com a profissionalização da música, para não serem preteridas, algumas bandas lançam discos que sempre faltam algo, principalmente uma maior maturação nas canções. Nos anos 70, que para alguns foi o período mais produtivo do rock, as bandas lançavam material todo o ano (algumas vezes dois registros), mas quase tudo era sinônimo de coisa boa, pois a música sai da alma e não do mercado. Creio que não é necessário citar o acervo de clássicos que foram lançados nesse período.

O quarteto de Apiaí formado por F. Dória (bateria e backing vocal), G. Fischer (voz e guitarra),R. Tramontin (baixo) e A. Stefanovitch (teclados), se por um lado não entrou na onda de ficar lançando discos a todos instante, por outro, aprendeu a lição que os mestres ensinaram há mais de 40 anos, com um trabalho que transborda feeling, introspecção e que atinge em cheio o ouvinte.

Com uma capa que diz transmite a sensação descrita acima e uma boa gravação (que curiosamente é limpa e clara) feita no Ger Som Stúdio e masterizado em Montreal (Canadá), o disco possui canções lineares, o que permite uma audição por completo do trabalho (mais setentista impossível). Cada canção possui individualidades, como os climas fúnebres/sacros de What Comes Down. Já faixa seguinte, Mecathronic tem o sentimento oposto e eleva o astral de todo homem de bem. O classic rock aparece nas faixas School of Life e Flags and Lies, inclusive com solos inspirados em caras como Keith Richards (Rolling Stones) e Ace Frehley (ex-Kiss).

Invisible Man é uma semi-balada que tem como base a melancolia e um interessante “diálogo” entre baixo e guitarra. Nobody Knows é aquela canção que deve ser obrigatória nos shows. Começa rápida e ganha uma parte mais lenta no meio e depois volta pro rock com um ótimo trabalho de cordas e teclas e um coro épico no final.

Só que o melhor ficou para a última faixa, The Braves and The Fools, que possui uma energia pra cima e ótimas vocalizações, que fogem dos berros, urros e gritos e além de transmitirem bem estar, se mostra o disco ideal para os momentos de reflexão, principalmente se está para tomar importantes decisões.

Apesar dos instrumentistas serem competentes, a grande sacada aqui está nos vocais de G. Fischer, pois como disse acima, foge da pseudo-agressividade e aposta em cantar de forma limpa e natural, o que garante originalidade e credibilidade, graças ao seu timbre bonito de voz.

Então, se quiser se “desintoxicar”(mesmo que por alguns instantes), desse maluco mundo pós-moderno, que tal fazer isso ouvindo esse baita disco?

13 de março de 2014

CONFRONTO: "IMORTAL FOI UM DISCO QUE A GENTE RESGATOU MUITO DAS NOSSAS ESSÊNCIAS"

A internet é talvez a maior das revoluções que ocorreram nos últimos anos. Em especial para nós jornalistas, pois a distância praticamente inexiste para fazer matérias na mesma velocidade com grupos do seu próprio município ou de países longínquos na Indonésia ou Nepal. Mas, em contrapartida, talvez pela facilidade de conseguir informações, temos de tomar o cuidado para que nossos textos, entrevistas e resenhas não se tornem frios e superficiais. É fato que esse caminho não tem volta, mas há formas de manter a chama acesa. Uma delas acabei fazendo recentemente, que foi nesta entrevista com os cariocas do Confronto, que estiveram em São Paulo na semana passada participando de eventos de promoção de seu novo trabalho, o já aclamado Imortal.

Munido de gravador e bloco de perguntas, saí do ABC, rumo ao metrô Conceição, na sede da Agência Sobcontrole para entrevistar o quarteto. E posso dizer que embora procure colocar paixão em todos meus textos, foi muito bacana fazer essa entrevista ao vivo, falar com os caras, sair do roteiro. Mesmo com o barulho dos aviões passando a todo instante com zumbidos infernais, foi uma das entrevistas mais legais que fiz, principalmente pelo fator desafio, lembrando as transcrições do meu TCC.

Nesta primeira parte da entrevista, Felipe Chehuan (voz), Maximiliano (guitarra), Eduardo Moratori (baixo) e Felipe Ribeiro (bateria) contam da apresentação feita no Estúdio Showlivre, a repercussão de Imortal, particularidades de determinadas músicas e muito mais.

Confiram!

Por João Messias Jr.
Fotos: Mauricio Santana
Imagem Imortal: Divulgação

Confronto
Maurício Santana
NEW HORIZONS ZINE:  A banda realizou há pouco (N. do R.: esta entrevista foi realizada na última quinta-feira) uma apresentação no Estúdio Showlivre. O que acharam da experiência e qual a importância de eventos como este para a divulgação da banda?
Felipe Chehuam: Acabamos de chegar literalmente. Acho que é de extrema importância pra divulgação do trabalho do nosso novo disco, Imortal. A gente teve essa experiência no Sul, no Programa Radar assim que o CD saiu mesmo, no dia 5 de outubro e agora estamos repetindo tocando mais uma vez frente às câmeras e ter a possibilidade de através da internet divulgar nosso som pra quem está em outros lugares. Inclusive recebemos mensagem do mundo inteiro, teve gente da Alemanha que assistiu. Enfim, acho de extrema importância.

NHZ: A banda sempre procurou dar uma pausa de no mínimo três anos entre um trabalho e outro. Mas do álbum anterior, Sanctuarium para o mais recente, Imortal foram cinco anos. Pensando de forma corporativa, isso não pode ser prejudicial no crescimento do nome Confronto?
Eduardo Moratori: Não porque a gente está sempre em turnê. Então fazemos sempre turnês longas e esse intervalo do Sanctuarium foi porque saiu no meio daí um DVD, que se chama 10 Anos de Guerra.
  
Eduardo Moratori: Teve a turnê do Sanctuarium, do DVD e aí lançamos o disco novo.

NHZ: Agora vamos falar um pouquinho das canções de Imortal. A faixa-título soa como um sopro de protesto a tantas atrocidades que ocorrem no país, na política, com o povo se manifestando contra. Vocês se surpreenderiam ao ver esse com como carro-chefe de algum protesto, pois ela dá o sentido do povo ter de acordar e fazer as coisas.
Felipe Chehuan: Acho que não porque inclusive a gente está de total apoio o tempo inteiro através dos nossos veículos nas mídias sociais. Apoiamos a grande maioria dos processos, pois estamos do lado do povo. Imortal assim como quase todas as letras do Confronto, desde a sua essência lá atrás, sempre foram de incentivo mesmo, como você falou, ao levante do povo, da massa. A gente é uma banda oriunda de um lugar muito pobre e sempre teve exemplos de problemas perto de casa. E não foi difícil ter esses exemplos em nossas músicas, ate porque vivemos boa parte do que escrevemos e o que a gente não viveu, a gente presenciou. Respondendo a sua pergunta, para nós seria até uma honra, ter a nossa música Imortal ou qualquer outra do disco ou dos outros discos vinculada a esses protestos. Inclusive a gente estava comentando sobre o processo dos professores lá no Rio e agora o dos garis.

Eduardo Moratori: Tem muita coisa errada e as pessoas não estão vendo que tem coisas a serem mudadas.

NHZ: É um lance subliminar parece.
Felipe Chehuam: O povo está acordando e isso é o melhor de tudo e já não se cala tanto. O povo está nas ruas, os professores estão nas ruas, os garis estão nas ruas e os trabalhadores lutando pelos seus direitos.

Confronto
Maurício Santana
NHZ: Aos Dragões, apesar de visceral e extrema, ela destoa das faixas mais pesadas, pois a mesma possui diversas linhas para cantar junto, com uma linha mais elaborada. Conte-nos da criação dessa canção.
Eduardo Moratori: Imortal foi um disco que a gente resgatou muito das nossas essências, influências de lá atrás. Essa música celebra um pouco disso, pois tem muito do rock and roll, muita coisa dos 70 e que destoa completamente de toda a história da banda. E ainda cito outra: Meu Inferno, que tem uma cadência diferente, algo que a gente nunca tinha explorado.

Felipe Ribeiro: Nada mais foi que explorar novas coisas, tipos de som que a gente gosta e nunca usamos dentro da banda.

Eduardo Moratori: Esse disco eu digo que a gente teve a ousadia de fazer algo que a banda teve vontade de fazer, sem nenhum tipo de rótulo ou clichê. Pegamos o que mais estávamos ouvindo, resgatamos coisas antigas, pegamos coisas novas para o disco e que resultou neste trabalho que está sendo tão bem elogiado.

NHZ: Fazendo um adendo, até o trabalho de guitarra, você ouve muito do hard rock, com muitos licks, fraseados bem elaborados. Quando ouvi eu falei “Uau”. Eu ainda não tinha ouvido o disco, eu normalmente espero passar a exposição para poder absorver o trabalho.
Felipe Chehuam: O legal é que no meio daquela brutalidade sonora tem uma música que destoa, com um baixo distorcido. Foi bem essa a ideia, ser diferente.

Felipe Ribeiro: De certa forma chamou a atenção.

Felipe Chehuam: Você foi a primeira pessoa que fez essa analogia do disco (N.do R.: Receber esse tipo de elogio vale mais do que dígitos na conta).

Imortal
Divulgação
NHZ: Aproveitando o gancho, apesar de fazerem música pesada, todas as linhas vocais são compreensíveis. Você ouve o disco e saca a mensagem de cara, diferente das primeiras produções dos anos 80 cantadas no nosso idioma. Qual a preocupação da banda em passar as letras de forma clara?
Felipe Ribeiro: Exatamente isso mesmo: a pessoa ouvir e de cara entender. Um tempo atrás as pessoas torciam o nariz para quem fazia metal cantado em português. A gente tentou exatamente quebrar isso aí, tipo o cara ouvir e de primeira entender o que você está dizendo, entender o refrão da música, entender a mensagem que você quer passar.

Maximiliano: E ao mesmo tempo ser agressivo.

Felipe Ribeiro: E se você pegar cada disco da banda, a gente veio trabalhando nisso e está chegando no que a gente quer.

Felipe Chehuam: Lá atrás, quando montamos a banda, tinha muito da nossa inexperiência também. Eu sempre fui fã de vocalistas como Phil Anselmo, Max Cavalera e se perceber as músicas que eles cantam, por mais agressivo que seja, você compreende e eu trouxe muito disso para minha linha de vocal e tentei aperfeiçoar ao decorrer desses anos. Não que eu não goste de algo mais berrado, mais extremo, gosto pra caralho de Napalm Death e de sons mais brutais. Mas a nossa preocupação como banda sempre foi deixar bem claro a dicção e a mensagem. Porque é legal você ouvir um som, que seja agressivo, mas você estar entendendo e isso quebra esse clichê de que em português não soa legal. E a gente sempre teve bons elogios em relação a isso.

NHZ: E o disco é a prova viva disso.
Felipe Chehuam: É possível fazer algo fora do contexto padrão que a gente vê por aí na nossa língua e ao mesmo tempo não deixar de ser agressivo e gostoso de ouvir.

NHZ: Ainda falando nas linhas vocais, um dos convidados do disco, João Gordo (R.D.P.) participa em 1 Hora. Visto que ele desenvolvia uma linguagem ininteligível, que ele chamava de “gordês”, mas nessa canção ela soa totalmente compreensível. Para chegarem a esse resultado, houve conversas ou o que ouvimos no disco aconteceu de forma natural?
Felipe Chehuam: Foi natural. Eu tinha uma linha de vocal pro refrão pronta já e eu deixei ele a vontade, falei pra ele fazer o que quiser. Concordo com o que você diz, sou muito fã de Ratos também, mas tem discos específicos como o Feijoada Acidente que você consegue entender bem, principalmente o Feijoada em português você consegue entender. Eu lembro que até o nosso produtor Davi Baeta na hora da gravação, ele pediu ao Gordo para cantar mais puxado para o “grindzinho”, que é aquele vocal que ele faz (N.do R.: Nessa hora, Felipe emula o som da linha de voz). E se você prestar bem atenção tem duas vozes do Gordo, só que ele deixou bem baixinho essa voz mais grind na mixagem. Ele chegou a dar uma berrada sim, mas ficou bem compreensível e achei legal.

Confronto
Mauricio Santana
NHZ: No meio da pancadaria, vocês colocaram no meio do disco uma faixa inusitada, Rosaly, que é uma espécie de folk, que sugere uma espécie de “respiro”. Por ela ser muito diferente do disco, chegaram a pensar na possibilidade de não incluírem a canção no disco?
Felipe Ribeiro: Nessa música estávamos, eu principalmente, estava com a ideia de fazer uma coisa mais acústica, pois a gente curte sons acústicos, só que nunca tínhamos pensado em colocar num disco do Confronto, por vários motivos, porque a gente não via como encaixar isso. Aí eu comecei a criar algumas coisas no violão e inventar algumas ideias e uma vez passando de madrugada num bairro que se chama Vila Rosaly, que é onde ele (Felipe) foi criado. E me veio à inspiração do riff na cabeça e quando eu cheguei em casa peguei o violão e desenvolvi o que estava na mente quando passei pelo bairro.

E eu acho interessante é porque a gente sempre costuma dizer que a Baixada Fluminense é um lugar muito efervescente, tem muita gente. São João do Meriti foi considerada uma das maiores densidades demográficas da América Latina. E é muita gente mesmo. Engraçado que durante a madrugada é um silêncio, com ninguém na rua e eu peguei essa ideia do silêncio e da calma e coloquei isso dentro do Confronto. No começo quando surgiu a ideia de fazer essa música acústica, pensamos em colocar cordas, fazer coisas com violinos, chegamos a ensaiar com o pessoal a Orquestra de Petrópolis. Só que devido a problemas de agenda, não conseguimos colocar isso em prática. Mas ainda assim conseguimos colocar uns tambores, um chocalho venezuelano. E foi isso, porque ouvimos muita coisa fora do som pesado e extremo. Acabamos trazendo isso e ficou com uma vibe meio Black Sabbath de juntar os amigos ali, tocar o violão e dar essa calma no meio de um disco que é muito pesado e agressivo.

Na próxima segunda-feira, a segunda e última parte da entrevista, em que o quarteto fala de shows, a escolha do selo Urubuz Records, venda de material físico e muito mais!

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