23 de novembro de 2015

UM OLHAR CONTEMPORÂNEO AO THRASH

Quarteto aposta em dissonâncias, groove e peso em seu disco de estreia

Por João Messias Jr.

Leader's Speech
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Desde o início década de 1990, o guitarrista/vocalista Baffo Neto procurava dar uma cara diferente em seus projetos musicais. Desde o thrash explosivo do No Return ao new metal do Retturn, que renderam ao músico reconhecimento dentro e fora do país, algo que não se podia acusar o músico era de comodismo e acomodação de fazer o mais do mesmo.

Pois bem, passados todos esses anos, agora com um novo grupo, que atende o nome de Capadócia e acompanhado por Marcio Garcia (guitarra, ex-Postwar), Gustavo Tognetti (baixo, ex-Skin Culture) e Palmer De Maria (bateria, ex-Return) lançam seu primeiro álbum, batizado de Leader's Speech.

Apesar da aposta no peso, dissonância e grooves, a grande sacada é que a banda é formada por ótimos músicos e isso faz com que a coisa não desande. Principalmente por causa dos riffs, que são pesados e grudentos, além da condução mais reta da bateria, que foge daquele esquema super produzido dos grupos de hoje.

Os riffs pesados e quebrados de Stand Still, o refrão repetido a exaustão de Everybody Hates Everybody, a trabalhada Snake Skin e a instigante Leaders in the Fog são alguns dos destaques do trabalho, que é bem linear, bem produzido e possui um trabalho de arte que condiz com a proposta musical do quarteto.

Uma boa estreia, que confirma a contramão do músico em sua nova empreitada, ao invés de optar pelo revival oitentista do estilo.

19 de novembro de 2015

UGANGA: "OPRESSOR ENGLOBA REFERÊNCIAS DE TODOS NOSSOS TRABALHOS"

Os mineiros do Uganga celebram o melhor momento da carreira com o novo álbum. Chamado de Opressor, o trabalho apresenta além das tradicionais letras ácidas, o resgate de elementos dos primeiros trabalhos, como Atitude Lotus (2003).

O hoje sexteto que é formado por Manu Joker (voz), Thiago Soraggi (guitarra), Mauricio "Murcego" Pergentino (guitarra), Christian Franco (guitarra), Raphael "Ras" Franco (baixo e voz) e Marco Henriques (bateria) vem fazendo shows com melhor estrutura e está cada vez mais presente em publicações destinadas a música pesada.

Nessa entrevista feita com os irmãos Manu e Marco, eles nos contam sobre a sonoridade do novo trabalho, a vida de uma banda na estrada, convivência e o que fazem quando não estão em tour.

Por João Messias Jr.
Opressor
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NEW HORIZONS ZINE: Podemos definir o novo álbum de vocês, que recebe o título de Opressor, como o “Grande Encontro”, pois mantém o pique agressivo de Vol.3 – Caos, Carma, Conceito com o debute Atitude Lotus, de 2003, quando a banda fazia um som bem mais experimental. Esse resgate foi algo premeditado em algum momento?
Manu “Joker” Henriques: “Grande Encontro”, legal (risos)! Na verdade, e mesmo soando clichê, nada foi premeditado. Temos gostos variados e passamos por várias fases nesses mais de 20 anos de banda, tanto musicalmente como no lado pessoal. Opressor reflete o momento que estávamos quando o gravamos, mas concordo que ele engloba referências de todos nossos trabalhos. Acho que com o tempo o estilo foi definido e essas referências ficaram mais integradas umas às outras.

NHZ: O trabalho, assim como “Vol.3”, apresenta uma sonoridade voltada para os palcos, mas de uma forma mais ampla. Aliando refrãos fáceis de serem lembrados, há um clima de “brodagem” em todo o trabalho, principalmente pelas linhas vocais, que possuem referências do hardcore/hip hop. Para você Manu, qual a importância desse tipo de aproximação com o público, mesmo que num primeiro contato, através de meios “frios”, como CDs e redes sociais?
Manu: Cara, eu venho do underground e esse é meu jeito de me expressar. Hoje em dia tá cheio de banda pagando de “malandro” e isso fica forçado, não engana ninguém... Ainda mais quando fica aquela coisa de “sou o fodão”, ficar dando lição de moral, etc. Procuro falar na linguagem das ruas, dos amigos, do hardcore, mas no geral falo à minha maneira, nunca tentando copiar trejeitos ou passar uma imagem que não seja verdadeira. E claro, levando em conta as diferenças. Sempre curti músicas com refrãos fortes, daqueles que levam a plateia a cantar junto, e acho que nesse cd fomos muito felizes nesse critério. Estamos todos no mesmo barco, olho no olho!

Uganga
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NHZ: A impressão de proximidade é reforçada por meio dos vídeos de Casa e Guerra, onde mostram que são vocês mesmos, fugindo daquele esquema de personagens ou até mesmo super heróis. Conte-nos as etapas de produção, montagem e o feedback da galera.
Marco Henriques: Esses dois vídeos foram filmados durante a nossa segunda turnê na Europa. O de Guerra foi algo mais pensado, com imagens da banda em locais que remetiam a guerra, campos de batalha e coisas do tipo. Já o de Casa contém cenas de toda a tour, mostrando “comé” a rotina de uma banda underground se aventurando do outro lado do mundo. Ambos os vídeos foram produzidos por nosso amigo e parceiro Eddie Shumway (Travesseiro Discos), e o resultado nos agradou bastante. E pelo retorno que tivemos, parece que agradou o público também.

NHZ: No fim do vídeo, vocês utilizaram uma frase de Gandhi “Vencer por meios que não acredito, me traz resultados que não preciso”. De quem foi a ideia de incluir a citação e quais outros autores/personalidades são referência para o Uganga?
Manu: A ideia foi minha, tenho muita admiração pela pessoa de Mahatma Gandhi e acho que essa frase representa bem a idéia da letra: Lute a sua guerra e não a dos outros! Quando acreditamos, somos mais fortes. Particularmente, como letrista, recebo muitas influências; filmes, livros, mestres, o dia a dia, tudo!

NHZ: Outra música de destaque fica para Who Are the True, do Vulcano. Para registrar a canção contaram com a participação de Murillo Leite (Genocídio) e Ralf Klein, da banda alemã MacBeth. O que os motivaram na escolha dos músicos?
Manu: Basicamente o talento desses caras e nossa amizade com ambos. Eles detonaram nesse som!

Marco: A ideia da letra é algo muito atual, essa parada de ”quem é o real?”. Tem muito a ver com muitas coisas que falamos nas músicas do Uganga. Além de ser uma música que tem peso e groove, uma combinação muito presente em nosso som.

NHZ: A exceção do novo guitarrista, a banda há algum tempo mantém a mesma formação. Como é a convivência entre vocês e o que fazem na hora dos famosos perrengues?
Marco: É um casamento, né (risos) E como qualquer relacionamento, tem crises, brigas e diferenças de opinião. Mas no fim das contas a gente sempre consegue se acertar e chegar numa decisão que seja o melhor pra banda.

Manu: Todos se conhecem há muito tempo, alguns desde que nasceram (risos). Com o tempo, ao invés de tentar provar quem está certo, procuramos pensar no que é melhor pra banda e deixar eventuais diferenças pessoais de lado. Na verdade a convivência na estrada é tranquila, acho que os tempos mais turbulentos ficaram pra trás (risos).

Uganga
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NHZ: A banda hoje conta com três guitarristas. O que a entrada de um músico poderá trazer de diferente na sonoridade do grupo?
Manu:
Depende do músico e da banda. No nosso caso a entrada do Murcego rolou devido a identificação mesmo, tanto profissional como musical. Depois de um ano pegando estrada com ele, enquanto o Christian cuidava da saúde, resolvemos peitar as três guitarras e tem dado certo!  Em relação a sonoridade do Uganga creio que ele seja um guitarrista mais melodioso, o cara vem da escola do rock clássico enquanto Christian e Thiago tem uma pegada mais thrash. Já temos músicas saindo com as três guitas e o que posso dizer é que são 100% Uganga, porém indo adiante. Vale dizer que ele ainda contribuiu com excelentes backing vocals.

NHZ: Mesmo numa cena que não anda muito bem das pernas, seja pela falta de público nos eventos, seja pela explosão de bandas covers/tributo vindas do exterior, pode-se dizer que o Uganga consegue se apresentar em bons eventos e com estrutura. Queria saber se todos conseguem viver apenas da banda ou se atuam em outras atividades quando não aparecem shows e tours.
Marco: Seria um sonho poder viver exclusivamente da banda. Mas a realidade não é essa. Todos têm suas outras atividades, suas verdadeiras fontes de renda (risos). Eu sou proprietário de um pub em Araguari (Vitrola Ambiente Cultural) e também da marca de roupas Incêndio. E assim como eu todos trabalham normalmente durante a semana, e nos finais de semana pegamos a estrada para descansar a mente e fazer um pouco de barulho. Como você disse, temos conseguido tocar em eventos bem legais e com certeza isso é reflexo do trabalho que a banda vem fazendo junto com a Som do Darma, que cuida da nossa assessoria de imprensa e empresariamento.

Manu: Eu sou arquiteto e mais recentemente homem do campo também (risos). Além disso, faço com um amigo o programa Underdose (www.youtube.com/c/underdosetv) num canal local e na net,  e como o Marco disse, todo mundo na banda “dá seus pulos” pra sobreviver.

Uganga
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NHZ: Muito obrigado pela entrevista! O espaço é de vocês!
Manu: Apoiem a cena autoral, colem nos shows, comprem o material, pois é isso que faz as bandas irem adiante. Inclusive seus ídolos do passado passaram por isso e tiveram esse apoio. O ciclo não para e somos todos parte da engrenagem. Abraço!

Marco: Não deixem de acessar nosso site pra conferir a agenda de shows, videos e infos da banda.

11 de novembro de 2015

SEMENTES QUE GERAM FRUTOS

White Sand, álbum de estreia dos pernambucanos do Dune Hill mostra o ressurgimento do hard rock no Brasil

Por João Messias Jr.

White Sand
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Dizem que nesta vida devemos fazer três coisas: escrever um livro, fazer um filho e plantar uma árvore. Apesar de  muitos livros e crianças foram concebidas por todos esses anos, o lance para comemorar são o crescimento das árvores. Sim, das árvores, fruto das sementes que os fãs de hard rock plantaram por todos esses anos. Se contarmos com o aparecimento do grunge, já são mais de duas décadas que os fãs de bandas como Mötley Crüe, Kiss, Poison, entre tantas outras esperam por um novo boom do estilo.

Hoje muitas daquelas sementes se tornaram árvores, que hoje começam a geram frutos, fazendo que os fãs de um bom e velho hard rock comemorem. Exemplos não faltam, Púrpura Ink, Crossrock, Desert Dance, Vegas HR, Fúria Louca, entre muitas outras, como o quinteto Dune Hill.

Oriunda de Pernambuco e formada por Leonardo Trevas (voz), André Pontes (guitarra), Felipe Caiado (guitarra), Pedro Maia (baixo) e Otto Notaro, investem no hard, que embora possua passagens alegres, foge daquele esquema festeiro, inclusive abrindo espaço para vertentes como o rock and roll, metal tradicional,  southern rock e o grunge.

Fusão que funcionou e proporciona variedade o trabalho, que possui momentos melancólicos, como a intro White Sand, guitarras inspiradas em Big Bang e a intensidade de Seasons. Porém, é o clima festeiro que é o que abrilhanta o trabalho, como Seize the Day, Soul Love e a certeira Miracles, dona de um belo refrão e solos no mínimo curiosos.

Além disso, White Sand possui uma belíssima capa (apesar de sugerir algo mais prog), feita por Rodrigo Bastos Didier e um encarte que embora simples, é bem feito, o que evidencia a preocupação do grupo com o todo, principalmente nesses tempos modernos em que cada vez menos as pessoas se importam com o material físico.

Que essas sementes continuem prosperando mais e mais para que o estilo retome o topo, desta vez com mais segurança, pois hoje é a força dos fãs faz com que uma banda tenha sucesso, sem a interferência de gravadoras e coisas do tipo. 

IN HARD ROCK WE TRUST!

4 de novembro de 2015

OS RUMOS DO METAL TRADICIONAL

Bruttalian, Syren e Rygel mostram em seus mais recentes trabalhos a evolução da semente lançada por bandas/artistas como Fight e a carreira solo de Bruce Dickinson

Por João Messias Jr.

Cabelos cheios de franjas, guitarras dobradas, roupas de couro e uma gravação crua e agressiva eram sinônimos do que era o metal tradicional durante a década de 1980. Período que lançou discos obrigatórios na prateleira e mente de muitos headbangers. Alguns exemplos ficam por The Number of the Beast (Iron Maiden) e Screaming for Vengeance (Judas Priest), isso sem falar em nomes como Helstar, Manilla Road e Metal Church, que mesmo não atingindo o mainstream, cravaram seu lugar como ícones do estilo.

E como nada é eterno, o estilo necessitou de algumas adaptações. Novidades que vieram em forma de uma produção mais encorpada e uma dose extra de peso e variedade  no instrumental e nos vocais. Quem não se lembra do lançamento de War of Words (Fight), Heart of a Killer (Winter's Bane) e The Chemical Wedding (Bruce Dickinson), que apesar das raízes fincadas no metal tradicional, apresentaram um sopro de renovação. O que é foi muito bom, pois abriu portas para que pessoas mais novas apreciassem essa vertente musical.

Passadas mais de duas décadas, esses trabalhos, além de seu legado incontestável, trouxeram (e continuam trazendo ao mundo), álbuns que vem resgatando esse tipo de sonoridade. E aqui no Brasil não é diferente. Basta uma chegada na internet para depararmos com bandas apostando cada vez mais nessa tendência. Para essas linhas, escolhi três bandas que mostram a riqueza, variedade e qualidade das bandas daqui: Bruttalian, Rygel e Syren.


Bruttalian: Blow on the Eye

Os maranhenses do Brutallian tem tudo para elevar o nome do Maranhão graças ao seu debut, Blow on the Eye.

As referências do metal tradicional (em especial Judas Priest) são enriquecidas com doses letais do thrash americano. Até aí nada de diferente, mas o que diferencia Blow on the Eye dos demais é a forma que isso é empregada, com vocais que não são agressivos o tempo todo. Temos aqui vozes que intercalam agudos, graves, berros e um tempero sarcástico que dá todo um diferencial, como podemos ouvir em You Can't Deny Hate, Hell Is Coming With Me e na faixa título. Apesar da melhor faixa ser Black Karma, graças ao trabalho de ponte/refrão envolvente, que te faz inclusive pegar o encarte e acompanhar a canção até o fim de sua execução. Coisas que nesses tempos de internet é algo no mínimo sensacional!

Só que nem de bate cabeça vive o disco. Temos uma breve momento de calmaria em Psycho Excuse, que tem um ar de Johnny Cash mais pesado e sombrio, mas como disse, é algo passageiro e o peso logo volta ao trabalho. 

Os caras se preocuparam com tudo. Músicas, trampo gráfico excepcional, capa marcante, que são sinais de uma banda que tem tudo, mas tudo mesmo para ter uma carreira duradoura e de sucesso. Digo isso pois Blow on the Eye é apenas o debut.
www.facebook.com/brutallian


Rygel: Revolution

Seguindo a linha iniciada no álbum anterior, Imminent, o Rygel oferece surpresas em seu novo trabalho, Revolution. A primeira, e talvez a mais marcante fica pela estreia do guitarrista Wanderson Barreto nos vocais, que faz um bom trabalho.

Musicalmente, a banda insere uma pegada mais moderna e agressiva em meio ao seu prog/power, o que dá um ar criativo e empolgante com essa fusão de estilos. 

Save Me e Before the Dawn chamam a atenção pelo refrão feito pra cantar junto; Worst in Me pela agressividade e The Story Begins pelo excelente trampo das guitarras.

Outros destaques ficam por conta de Repentance, que conta com a participação de Nando Fernandes (Hangar, Cavalo Vapor), que também produziu os vocais do álbum e Damage Done, que conta com uma bela interpretação vocal.

Aliada a música apresentada aqui, vale destacar o trabalho do encarte, que fogem do esquemão tradicional, com um ar mais despojado que combinam com a proposta do quarteto.

Não há mais o que dizer, apenas que o quarteto formado por Wanderson, Vinnie Savastanno, Ricardo Reis e Pedro Colangelo lançaram um trabalho consistente que tem tudo para render frutos ao grupo.
www.facebook.com/RygelOfficial


Syren: Motordevil

Talvez a mais fiel ao estilo desse texto. Apesar disso, a fidelidade não se resume a comodismo ou zona de conforto, pois a música recebe uma dose extra de peso, reforçada pelos backing vocals e orientação thrash do instrumental, que somada ao talento do vocalista, faz uma mistura agradável e feita para bangear.

Alguns momentos ficam por conta da contagiante faixa que nomeia o trabalho, Rebellion, You're Gonna Die e a épica The Prophecy of Marduk, além do talento do vocalista Luiz Syren, graças ao seu timbre a lá Bruce Dickinson garante a audição do trabalho.

A embalagem do trabalho condiz com o material de áudio, com uma capa chamativa e um encarte simples, mas com todas as informações necessárias, que não é necessário fazer algo esmerado para chamar a atenção, provando que o menos é mais. Muito mais no caso de Motordevil.
www.facebook.com/Syrenmetalband

Três álbuns, cada qual a sua maneira reproduzem com qualidade e autenticidade o melhor do metal tradicional. Estilo que através das mutações, vem se mantendo vivo e arrebatando fãs mundo afora!

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