Novo trabalho dos mineiros aposta em temática
sofisticada e som mais refinado
Por João Messias THE ROCKER
O quarteto mineiro Krow, formado por Guilherme Miranda
(G/V), Lucas The Carcass (G), Humberto Costa (B) e Jhoka Ribeiro (D) apostou
numa temática não usual para o seu novo trabalho: a escravidão.
E com esse conceito fizeram o seu melhor trabalho até o
momento. Traces of The Trade marca o amadurecimento do Death/Black pelo
quarteto, que também pensou na arte gráfica, que é uma das melhores lançadas
nos últimos tempos.
Em entrevista, a banda comentou sobre a concepção do
trabalho, músicas e sobre a participação de Álvaro Lillo (Watain/Undercroft).
Confiram:
KroW Foto: Divulgação |
NEW HORIZONS ZINE: Antes de falar do novo trabalho,
conte-nos da repercussão do giro que fizeram pela Europa promovendo o debut
Before The Ashes e do show que fizeram no Chile com o Dimmu Borgir no Chile.
KroW: O Before the Ashes
foi o nosso primeiro full, o cartão de visitas, é o que fez a banda existir de
fato e abriu portas para que fizéssemos vários shows de maior porte. O disco
repercutiu bem fora do país, tivemos boas resenhas. Fazer turnês sempre agrega
muita coisa à banda e não foi diferente conosco. Já o show no Chile rolou no
lançamento de Traces of the Trade e foi uma experiência fantástica, vivenciamos
uma parada muito foda, show lotado, pessoal gritando o nome da banda, pedindo
autógrafo, etc. É algo que não normalmente não se espera tocando Death Metal
...
NHZ: Para angariar recursos para a gravação e materialização
de Traces of The Trade voes foram atrás do financiamento do ministério da
cultura. Como foi esse processo e se enfrentaram algum preconceito para a
aquisição deste benefício?
KroW: Esse programa é uma
lei, que é a “Lei Municipal de Incentivo à Cultura”. Entramos em um edital público,
nos inscrevemos e cumprimos todos os processos burocráticos necessários. Dessa
forma fomos contemplados. Não sofremos nenhum tipo de preconceito, pois tivemos
uma postura profissional durante todo o tempo. Por mais que ainda tenha uma
resistência grande ao metal extremo, atualmente eu não vejo tanto preconceito
com bandas pesadas como já foi em outros tempos, apesar de que ainda existe
bastante, mas vejo as coisas de maneira mais otimista hoje em dia.
NHZ: E falando no processo do álbum, que tem como tema a
escravidão. O que os motivaram a escrever e se consideram o
assunto atual nos dias de hoje?
KroW: Se pensarmos no
quanto o processo de acumulação capitalista, principalmente a partir da década de 70, se baseia no
endividamento da população, esse assunto é mais do que atual, fora a escravidão
que ocorre de fato ainda em algumas regiões do país. O que realmente nos
motivou a escrever sobre isso, foi o fato de buscarmos uma identidade para a
banda, de acordo com tudo o que vivemos em nossa região, ao analisarmos a
influência da formação de nossa sociedade através desse prisma do escravismo,
migração de populações e de toda a violência praticada por essas terras.
NHZ: O trabalho foi gravado em Goiás, no Rock Lab, com Luiz
Maldonalle. Por que gravarem em outro estado ao invés de sua terra natal?
KroW: A escolha do estúdio
se dá por alguns fatores. Dentre eles podemos destacar o fato de que temos uma
grande afinidade não só musical, como pessoal com os produtores de Goiânia e
diante da proposta musical do disco, chegamos à conclusão de que seria o
estúdio o qual atenderia melhor aquilo que almejávamos.
Capa Traces of The Trade Divulgação |
NHZ: Não poderia deixar de comentar do álbum físico, que vêm
num digipack caprichado e com um dos melhores trabalhos gráficos dos últimos
tempos, cuja arte da capa foi feita por Costin Chioreanu (Twilight 13 Media).
Como chegaram até ele e como foi passar este conceito para ele
“materializá-lo”?
KroW: O Costin já é um
amigo, ficamos muito próximos já que ele é o designer da Axa Valaha que é nosso
selo e agência na Europa. A gente trocou muita idéia e material desde a tour do
Before the Ashes, e o Costin entrou muito no clima, na proposta e na atmosfera
do disco. Até que ele veio com essa arte, que na verdade é um quadro enorme
pintado à mão, tínhamos esse lance na mente e quando ele chegou com isso
ficamos impressionados com o resultado. Tudo rolou naturalmente, trabalhamos em
grupo e a coisa funcionou.
NHZ: Ainda falando do projeto gráfico, temos uma frase que
podemos dizer que é uma espécie de Prefácio, que são palavras do Cientista
Social Cristhian Adèwalé, onde faz uma associação do tema á cidade da banda,
Uberlândia. Esse texto foi feito exclusivamente para o disco ou fora extraído
de algum livro?
KroW: Sim, esse texto foi
feito exclusivamente para o disco. O Cristhian é um dos maiores cientistas
sociais que eu conheço e ele sempre se interessou pelo trabalho do KROW. Somos
amigos, e já trabalhamos juntos. As ideias foram fluindo e achei que ninguém
melhor do que ele para escrever um prefácio para o álbum. Além do mais ele
escreve muito bem e participou de todo o processo, discutimos as letras,
mostrei pra ele todas as músicas ainda em fase de pré-produção, e assim ele
ficou a par de tudo e escreveu esse prefácio pra gente. Na verdade ficou bem
maior do que isso, mas tivemos que adequar à arte, tamanho da embalagem e por aí vai.
NHZ: Musicalmente o som de vocês está mais forte e ao mesmo
tempo refinado, o que mostra o poder da atual formação. O que eles trouxeram de
novo ao som do Krow?
KroW: Muita coisa rolou com
a banda. Sinceramente a gente não estava satisfeito com algumas coisas, os
maiores críticos do KroW somos nós mesmos. A nova formação, então, trouxe um
novo gás e alinhamos a proposta musical de maneira intensa, a química está
forte entre todos, as influências de cada um estão no disco, e somado a isso, a
maturidade que adquirimos com o tempo. Nada melhor do que a estrada para somar
à uma banda o que ela precisa para crescer.
NHZ: Um dos grandes destaques do disco é a faixa Retaliated,
que conta com a participação de Álvaro Lillo (Watain), com vozes agonizantes,
chegando a lembrar um escravo sendo castigado. Por que o escolheram para a
participação e se já tinham essa linha de voz para a composição?
KroW: O Alvaro também é um
grande amigo, já fizemos uma tour com a outra banda dele, o Undercroft.
Estávamos afim de ter uma participação desse porte no disco, ainda mais de um
cara tão próximo. Pouco tempo antes de entrar em estúdio acabamos por decidir
que Retaliated seria a música. Enquanto estávamos gravando enviei o som pra
ele, que retornou com toda essa linha vocal que agradou muito, mixamos e ficou
assim. Essa é uma das minhas faixas preferidas nesse álbum.
NHZ: Outro destaque nesta faixa é o seu refrão que está num
dialeto africano. Como chegaram nele e viram que era uma boa para o conceito do
disco?
KroW: Esse refrão surgiu em
uma dessas nossas conversas com o Cristhian, ele aplicou um livro muito
interessante e eu e o Humberto entramos de cabeça nisso. De acordo com a letra
da música, o Humberto selecionou algumas passagens e essa foi a que mais se
encaixou.
NHZ: Como a escravidão é um tema nacional, o que os gringos
acharam do conteúdo lírico de Traces of The Trade?
KroW: Até agora a
repercussão tem sido a melhor possível, as pessoas se interessam muito pela
história do Brasil de maneira geral. E não somente a história brasileira, pois
esse tema engloba todo o comércio transatlântico, realmente os comentários têm
superado as expectativas.
NHZ: O primeiro trabalho foi lançado no exterior pelo selo
Axa Valaha. Pretendem manter a parceria para lançar Traces na Europa?
KroW: Sim, com certeza, a
parceria está mantida. A Axa esse ano ainda deve lançar alguns materiais da
banda em outro formato e teremos outros selos que irão distribuir o disco e
expandir o alcance de Traces of the Trade.
NHZ: Para encerrar, em alguns discos das bandas de
Uberlândia, vejo a inscrição do Triângulo Satânico Mineiro. O que ele vem a
ser?
KroW: O lance do Triângulo
Satânico veio de muita zoeira e a coisa se concretizou. Direto a gente viajava
junto, KroW, Uganga, Attero, Scourge, e por aí vai. E em todo lugar que a gente
chegava rolava loucura demais, bebedeira, etc. Todas as bandas tinham um som
muito porrada, até que se não me engano o Rodolfo da One Voice de Goiânia falou
que galera do Triângulo era um lance Satânico, e citou esse nome. O Felipe CDC
do DF falou num zine que aqui era o maléfico triângulo, e pegou, a gente zoava
muito com isso, sempre foi bem massa. Existem vários nomes que identificam o
som de bandas com uma região, e essa é a maneira que passamos a utilizar para
dizer que o KroW é daqui.
NHZ: Muito obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos
leitores dessa publicação.
KroW: A gente é que
agradece pelo espaço e gostaria de deixar aqui os links da banda para que os
leitores possam acompanhar , entrar em contato e adquirir nosso material – www.facebook.com/krowmetalzone
(em like store tem todo o material da banda a venda) - TWITTER @krowmetalzone ,
esse ano ainda vamos fazer muitos shows e rodar bastante, espero ver vocês por
aí! Hailz !!!
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