15 de agosto de 2012

KROW: BRUTALIDADE REFINADA


Novo trabalho dos mineiros aposta em temática sofisticada e som mais refinado

Por João Messias THE ROCKER

O quarteto mineiro Krow, formado por Guilherme Miranda (G/V), Lucas The Carcass (G), Humberto Costa (B) e Jhoka Ribeiro (D) apostou numa temática não usual para o seu novo trabalho: a escravidão.

E com esse conceito fizeram o seu melhor trabalho até o momento. Traces of The Trade marca o amadurecimento do Death/Black pelo quarteto, que também pensou na arte gráfica, que é uma das melhores lançadas nos últimos tempos.

Em entrevista, a banda comentou sobre a concepção do trabalho, músicas e sobre a participação de Álvaro Lillo (Watain/Undercroft).

Confiram:

KroW
Foto: Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Antes de falar do novo trabalho, conte-nos da repercussão do giro que fizeram pela Europa promovendo o debut Before The Ashes e do show que fizeram no Chile com o Dimmu Borgir no Chile.
KroW: O Before the Ashes foi o nosso primeiro full, o cartão de visitas, é o que fez a banda existir de fato e abriu portas para que fizéssemos vários shows de maior porte. O disco repercutiu bem fora do país, tivemos boas resenhas. Fazer turnês sempre agrega muita coisa à banda e não foi diferente conosco. Já o show no Chile rolou no lançamento de Traces of the Trade e foi uma experiência fantástica, vivenciamos uma parada muito foda, show lotado, pessoal gritando o nome da banda, pedindo autógrafo, etc. É algo que não normalmente não se espera tocando Death Metal ...

NHZ: Para angariar recursos para a gravação e materialização de Traces of The Trade voes foram atrás do financiamento do ministério da cultura. Como foi esse processo e se enfrentaram algum preconceito para a aquisição deste benefício?
KroW: Esse programa é uma lei, que é a “Lei Municipal de Incentivo à Cultura”. Entramos em um edital público, nos inscrevemos e cumprimos todos os processos burocráticos necessários. Dessa forma fomos contemplados. Não sofremos nenhum tipo de preconceito, pois tivemos uma postura profissional durante todo o tempo. Por mais que ainda tenha uma resistência grande ao metal extremo, atualmente eu não vejo tanto preconceito com bandas pesadas como já foi em outros tempos, apesar de que ainda existe bastante, mas vejo as coisas de maneira mais otimista hoje em dia.

NHZ: E falando no processo do álbum, que tem como tema a escravidão. O que os motivaram a escrever  e se consideram o assunto atual nos dias de hoje?
KroW: Se pensarmos no quanto o processo de acumulação capitalista, principalmente  a partir da década de 70, se baseia no endividamento da população, esse assunto é mais do que atual, fora a escravidão que ocorre de fato ainda em algumas regiões do país. O que realmente nos motivou a escrever sobre isso, foi o fato de buscarmos uma identidade para a banda, de acordo com tudo o que vivemos em nossa região, ao analisarmos a influência da formação de nossa sociedade através desse prisma do escravismo, migração de populações e de toda a violência praticada por essas terras.     
        
NHZ: O trabalho foi gravado em Goiás, no Rock Lab, com Luiz Maldonalle. Por que gravarem em outro estado ao invés de sua terra natal?
KroW: A escolha do estúdio se dá por alguns fatores. Dentre eles podemos destacar o fato de que temos uma grande afinidade não só musical, como pessoal com os produtores de Goiânia e diante da proposta musical do disco, chegamos à conclusão de que seria o estúdio o qual atenderia melhor aquilo que almejávamos.

Capa Traces of The Trade
Divulgação
NHZ: Não poderia deixar de comentar do álbum físico, que vêm num digipack caprichado e com um dos melhores trabalhos gráficos dos últimos tempos, cuja arte da capa foi feita por Costin Chioreanu (Twilight 13 Media). Como chegaram até ele e como foi passar este conceito para ele “materializá-lo”?
KroW: O Costin já é um amigo, ficamos muito próximos já que ele é o designer da Axa Valaha que é nosso selo e agência na Europa. A gente trocou muita idéia e material desde a tour do Before the Ashes, e o Costin entrou muito no clima, na proposta e na atmosfera do disco. Até que ele veio com essa arte, que na verdade é um quadro enorme pintado à mão, tínhamos esse lance na mente e quando ele chegou com isso ficamos impressionados com o resultado. Tudo rolou naturalmente, trabalhamos em grupo e a coisa funcionou.

NHZ: Ainda falando do projeto gráfico, temos uma frase que podemos dizer que é uma espécie de Prefácio, que são palavras do Cientista Social Cristhian Adèwalé, onde faz uma associação do tema á cidade da banda, Uberlândia. Esse texto foi feito exclusivamente para o disco ou fora extraído de algum livro?
KroW: Sim, esse texto foi feito exclusivamente para o disco. O Cristhian é um dos maiores cientistas sociais que eu conheço e ele sempre se interessou pelo trabalho do KROW. Somos amigos, e já trabalhamos juntos. As ideias foram fluindo e achei que ninguém melhor do que ele para escrever um prefácio para o álbum. Além do mais ele escreve muito bem e participou de todo o processo, discutimos as letras, mostrei pra ele todas as músicas ainda em fase de pré-produção, e assim ele ficou a par de tudo e escreveu esse prefácio pra gente. Na verdade ficou bem maior do que isso, mas tivemos que adequar à arte,  tamanho da embalagem e por aí vai.

NHZ: Musicalmente o som de vocês está mais forte e ao mesmo tempo refinado, o que mostra o poder da atual formação. O que eles trouxeram de novo ao som do Krow?
KroW: Muita coisa rolou com a banda. Sinceramente a gente não estava satisfeito com algumas coisas, os maiores críticos do KroW somos nós mesmos. A nova formação, então, trouxe um novo gás e alinhamos a proposta musical de maneira intensa, a química está forte entre todos, as influências de cada um estão no disco, e somado a isso, a maturidade que adquirimos com o tempo. Nada melhor do que a estrada para somar à uma banda o que ela precisa para crescer.

NHZ: Um dos grandes destaques do disco é a faixa Retaliated, que conta com a participação de Álvaro Lillo (Watain), com vozes agonizantes, chegando a lembrar um escravo sendo castigado. Por que o escolheram para a participação e se já tinham essa linha de voz para a composição?
KroW: O Alvaro também é um grande amigo, já fizemos uma tour com a outra banda dele, o Undercroft. Estávamos afim de ter uma participação desse porte no disco, ainda mais de um cara tão próximo. Pouco tempo antes de entrar em estúdio acabamos por decidir que Retaliated seria a música. Enquanto estávamos gravando enviei o som pra ele, que retornou com toda essa linha vocal que agradou muito, mixamos e ficou assim. Essa é uma das minhas faixas preferidas nesse álbum.

NHZ: Outro destaque nesta faixa é o seu refrão que está num dialeto africano. Como chegaram nele e viram que era uma boa para o conceito do disco?
KroW: Esse refrão surgiu em uma dessas nossas conversas com o Cristhian, ele aplicou um livro muito interessante e eu e o Humberto entramos de cabeça nisso. De acordo com a letra da música, o Humberto selecionou algumas passagens e essa foi a que mais se encaixou. 

NHZ: Como a escravidão é um tema nacional, o que os gringos acharam do conteúdo lírico de Traces of The Trade?
KroW: Até agora a repercussão tem sido a melhor possível, as pessoas se interessam muito pela história do Brasil de maneira geral. E não somente a história brasileira, pois esse tema engloba todo o comércio transatlântico, realmente os comentários têm superado as expectativas.

NHZ: O primeiro trabalho foi lançado no exterior pelo selo Axa Valaha. Pretendem manter a parceria para lançar Traces na Europa?
KroW: Sim, com certeza, a parceria está mantida. A Axa esse ano ainda deve lançar alguns materiais da banda em outro formato e teremos outros selos que irão distribuir o disco e expandir o alcance de Traces of the Trade.

NHZ: Para encerrar, em alguns discos das bandas de Uberlândia, vejo a inscrição do Triângulo Satânico Mineiro. O que ele vem a ser?
KroW: O lance do Triângulo Satânico veio de muita zoeira e a coisa se concretizou. Direto a gente viajava junto, KroW, Uganga, Attero, Scourge, e por aí vai. E em todo lugar que a gente chegava rolava loucura demais, bebedeira, etc. Todas as bandas tinham um som muito porrada, até que se não me engano o Rodolfo da One Voice de Goiânia falou que galera do Triângulo era um lance Satânico, e citou esse nome. O Felipe CDC do DF falou num zine que aqui era o maléfico triângulo, e pegou, a gente zoava muito com isso, sempre foi bem massa. Existem vários nomes que identificam o som de bandas com uma região, e essa é a maneira que passamos a utilizar para dizer que o KroW é daqui.

NHZ: Muito obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores dessa publicação.
KroW: A gente é que agradece pelo espaço e gostaria de deixar aqui os links da banda para que os leitores possam acompanhar , entrar em contato e adquirir nosso material  – www.facebook.com/krowmetalzone (em like store tem todo o material da banda a venda) - TWITTER @krowmetalzone , esse ano ainda vamos fazer muitos shows e rodar bastante, espero ver vocês por aí! Hailz !!!

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