25 de maio de 2015

SEU JUVENAL: "O ROCK NASCEU ERRADO, MAS NOS ÚLTIMOS TEMPOS ELE PERDEU SUA ESSÊNCIA"

Para muitos fãs de rock/metal, o estilo deixou um pouco de lado a sua espontaneidade e rebeldia, dando lugar a uma postura quase etérea e zen. Embora essa parte mais intelectual proporcionou aos olhos e ouvidos muitas coisas boas, é louvável ver e ouvir grupos que investem pesado no lado da atitude. Como os mineiros do Seu Juvenal apresentam em seu terceiro trabalho, Rock Errado, lançado em 2015. Numa salada que envolve rock, metal, blues e folk, o quarteto formado por Bruno Bastos (voz), Edson Zacca (guitarra/violão/voz), Alexandre Tito (baixo) e Renato Zaca (bateria/voz) criam um conceito que não fica preso as canções, principalmente pela capa e pelo formato em vinil.

Nesta entrevista feita com Renato Zaca e Bruno Bastos que é rica em espontaneidade, os músicos contam sobre o trabalho e outras coisas mais:

Por João Messias Jr.

Logo Seu Juvenal
Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: O ano de 2014 foi um ano e tanto para o grupo, que lançou seu terceiro álbum, chamado “Rock Errado”. O que estão achando da repercussão do mesmo?
Renato Zaca: Em 2014 foi finalizado o trabalho que foi lançado em janeiro de 2015. O retorno tem sido maior que o esperado, tanto da crítica quanto do público. Neste momento estamos planejando a turnê de divulgação para o segundo semestre.

NHZ: Normalmente o terceiro disco é determinante para a carreira de uma banda. Houve algum tipo de pressão interna para a criação deste trabalho?
Renato: De maneira alguma. Quando nos encontramos para gravar, sempre fazemos o melhor que podemos.

NHZ: Mergulhando um pouco na bolachinha, ela é repleta de particularidades, ao começar do título. Por que nomear o álbum dessa forma?
Bruno Bastos: O rock nasceu errado, mas nos últimos tempos ele perdeu sua essência, não é um estilo para seguir modinhas. Gostamos de criar algo que saia dos padrões pré-estabelecidos, não vale a pena menosprezar o gosto musical do ouvinte. É legal o artista em qualquer área não se ver cercado de regras, de barreiras. Criamos este rock errado com muita naturalidade, é simplesmente a maneira que fazemos.

NHZ: Outras particularidades ficam por conta da capa. A obra do artista Dinho Bento tem como fundo as cores laranja, vermelho e preto com uma criança com um cigarro na mão e fazendo um sinal obsceno com o dedo do meio. Como foram os trabalhos de desenvolvimento da arte e se chegaram a enfrentar alguns problemas por isso?
Renato: As crianças estão vulneráveis a violência, a religião imposta, aos vícios da sociedade.A capa representa um grande foda-se a essas questões que estão longe de serem resolvidas.Como se trata de um assunto delicado, houveram divergências, mas no final houve um consenso. Nesse disco a música “Moleque Dissonante” é tradução perfeita da capa.

Rock Errado
Divulgação
NHZ: “Rock Errado” foi lançado exclusivamente em vinil pela gravadora Sapólio Rádio. Por que lançar nesse formato se hoje poucas pessoas possuem um toca discos em casa, além dos custos com aparelhos dessa grandeza.
Bruno: Lançamos primeiro em vinil e agora em CD. Sabemos que nem todos têm um aparelho de vinil em casa, foi uma oportunidade que nos foi dada, e como somos apreciadores da velha bolacha, aceitamos com muito prazer. Pegar nosso LP e colocar na vitrola foi realizar um sonho antigo.

NHZ: Agora vamos falar um pouco da parte musical do grupo. Vocês não se apegam a nenhuma formula ou estilo pré-definido, deixando a criação rolar solta, mas sem descaracterizar o som. Podemos sentir essa sensação ao ouvir desde os discursos cantados de “Asfalto” e “Homem Analógico” ao peso de “Free Ordinária” e “Louva a Deus”. Como é criar canções tão distintas e ao mesmo tempo tão próximas entre si?
Renato: Essas características sempre estiveram presentes em nossos discos. Nunca nos preocupamos em que estilo iríamos compor. É lógico que pensamos no disco como um todo, mas não chega a ser um problema apresentarmos diferentes climas, muito pelo contrário, são aspectos que ajudam a definir nossa essência como banda.

NHZ: “Burca”, que encerra o álbum, puxa esses dois extremos, mas ao mesmo tempo aponta novos caminhos, o que gera curiosidade. Na hora das composições, existe algum limite para o grupo ou vão deixando a coisa fluir?
Renato: É uma balança, não existe limite e deve-se deixar fluir, ela pode tanto mudar totalmente como se manter na ideia original. Quando algum de nós apresenta um som, todos podem opinar sem neuras. Temos sorte de estarmos em uma ótima sintonia nesse sentido.

NHZ: Com essa variedade musical, vocês entram em diversos nichos do
rock, desde o metal a tendências mais leves do estilo. Vocês sabem dizer qual o público que mais aprecia o som da banda?
Renato: Não somos uma banda de rock tão complexa como pode parecer. Tocamos um rock simples e verdadeiro. Acreditamos que sejam pessoas desprendidas de rótulos e que não tenham medo de experimentar. 

NHZ: Graças a ordem do disco, “Rock Errado” é fácil de ouvir de ponta a ponta pois juntas elas transmitem uma conexão, que traz o ouvinte para o universo do Seu Juvenal. Essa parte do track list vocês deixaram na mão da produção ou vieram com esse conceito na cabeça?
Renato: Podemos dizer que isso é uma das delícias de se lançar um disco em formato LP. O fato de se poder pensar em um Lado A e um Lado B, sugerindo ao ouvinte o que a banda imaginou que seria a melhor audição/compreensão da obra, é algo que curtimos muito. Neste ponto a banda teve total liberdade.

Seu Juvenal
Divulgação
NHZ: Ainda falando sobre isso, como é lançar um trabalho neste formato e com esse sentido de conexão, sabendo que hoje a garotada sequer sabe pegar um disco de vinil e não curtem o barato de ouvir um trabalho inteiro, apenas trechos de cada banda ou artista?
Renato: Não pensamos só na garotada. Não temos dúvidas da praticidade e da funcionalidade do MP3. “Rock Errado” foi lançado em LP como uma realização pessoal, mas também está disponível em CD e para audição no Soundcloud. Cá entre nós, ficou do caralho a versão analógica. O selo Sapólio Rádio nos apresentou esta oportunidade e resolvemos abraçar. No início não acreditávamos que este formato seria tão aceito positivamente como vem sendo.

NHZ: Obrigado pela entrevista! O espaço é de vocês!
Renato: We love you all!
www.soundcloud.com/seujuvenal

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