Um dos responsáveis pelo grupo Underground Brasileiro conta de seus projetos e o que de melhor acontece na cena alternativa
Por João Messias THE ROCKER
Luis Coffee Foto: Divulgação |
Para quem não sabe o que é um fanzine,era uma
espécie de revista feita em sulfite, que era datilografado ou manuscrito e de
uma matriz eram feitas várias cópias para serem distribuídas mundo afora, eu
mesmo cheguei a ter dois nos anos 90.
Com a internet, parecia que eles estavam destinados
ao esquecimento. Mas embora não existam tantos como antigamente, seu conceito
está propagado na web, principalmente em blogs e redes sociais.
E escolhemos um representante desta linha
literal para ser o nosso entrevistado de hoje, Luis Perossi, ou Luis Coffee, que nestas frentes
mostra como se pode divulgar bem um trabalho, além de mostrar sempre o que
acontece na cena Underground!
Confiram a entrevista!
João
Messias THE ROCKER: Luis, olhando seus trabalhos na web, percebo uma grande
fidelidade ao que era feito com os fanzines. Qual a importância de manter essa
conexão com o presente e o passado?
Luis Coffee:
Acredito que a linguagem do fanzine é atemporal. Por mais que estejamos
inseridos no contexto ultra tecnológico e por mais que digam que é algo
superado, eu tenho quase que diariamente notícias de publicações do estilo
fanzine.
Claro que não tanto quanto antes, mas é algo que
se mantém e que não foi engolido por novas tecnologias, ao contrário, foi
agregado. Acho que meus trabalhos “internéticos” ressoam a linguagem “fanzinística”
(existe esse termo? - risos) pois foi a minha “escola, digamos assim. É importante
pra mim pois é a raiz, “Don’t Forget Your Roots”, já diz uma letra do H2O.
THE
ROCKER: Queria que contasse sobre seus projetos, em especial o blog “Meus
Amigos Bebem Muito Café”. Por que escolheu este nome?
Luis: Cara, a história do
nome é a seguinte: eu havia feito vários zines, e todos davam um puta desespero
pra achar um nome. Aí comecei apelar pra nomes de músicas. Até hoje eu gosto
muito de uma extinta banda de campinas chamada No Class, e o encarte do CD era
inspirador, parecia um zine, com comentários relativos às letras e tal, e na
canção “too tired to think”(
http://www.myspace.com/noclasscampinas/music/songs/too-tired-to-think-2283618)
havia uma frase que dizia algo como “ a
casa estava invariavelmente suja, meus amigos bebiam muito café...” esta
afirmação faz parte da letra aliás.
Eu pensei que soaria legal e diferente este nome
para um fanzine, e acho que foi dali que meu vicio por cafeína se potencializou
também. O blog é a versão online do fanzine, mas com a vantagem (ou não) de ser
“em tempo real”. O espírito é o mesmo do fanzine, o foco é cultura underground.
Antigamente o fanzine “meus amigos...” trazia coisas mais pessoais, porém, no
mundo da web eu desvio estas paradas pro meu blog pessoal, o “coffee boy”.
Tenho outros projetos, alguns musicais, outros
de ilustrações voltadas ao street art,outros literários, e por aí vai.
THE
ROCKER: Interessante seu trabalho junto com outros batalhadores “das antigas”
nas redes sociais, em especial o grupo Underground Brasileiro, onde vocês
destacam muitos eventos relacionados à música, cultura e arte. Para você, qual
a importância de divulgar esses eventos do Underground?
Luis: Mano, a importância é
total, pois fortalece algo que não tem muito espaço. Pra mim, é a essência do
punk e de toda e ideologia dele, o lance do faça você mesmo. Quanto mais divulgação
e acesso, melhor, pois o Brasil é giantesco, e lá no grupo fico sabendo de
outras cenas que sequer imaginava.
A iniciativa deste grupo no facebook foi do
Marcello Kaskadura, uma figura ícone do underground e referência pra mim, que
sou de uma geração posterior a dele (não estou o chamando de velho, hein (risos).
Eu já ouvi algumas pessoas dizendo que começou a
tocar mais e fazer inúmeros contatos depois que o grupo surgiu, e isto
sintetiza a importância e o propósito do grupo ao meu ver.
Luis Coffee Foto: Divulgação |
THE ROCKER:
Falando em arte, quem faz algo bacana nesta área é o pessoal do Projeto
Encontros, que ocorre nas estações de Trem e Metrô, onde temos shows,
exposições e danças, tudo de forma gratuita. Você conhece e o que acha dessa
iniciativa?
Luis: Poxa, iniciativa
sensacional, levar arte onde está o povo. Eu vi um dia de relance no metrô, vi
algo semelhante no terminal de ônibus de São Matheus uma vez, mas não sei se
faz parte do mesmo projeto. Acho que é bacana pra divulgar o trabalho e
maravilhoso pra quem vê, sou fã de iniciativas assim.
THE
ROCKER: E sem querer soar saudosista, mas nos tempos dos fanzines, a maioria
dos fãs de cultura alternativa se encontrava, e hoje com a facilidade da
informação, muitos preferem se esconder no computador, “tocando o terror” nas
redes, criticando a tudo e todos. O que pensa disso?
Luis: Posso falar mesmo o que
eu penso disso? (risos)!
Zoado mano! Hoje em dia ta difícil alguém dar a
cara a tapa, e todo acontecimento, por mais fútil que seja, é motivo pra se ter
opinião e vomitar regras, dogmas, criticar, e falar merda. O lance das redes
sociais só escancara uma faceta já existente.
Eu penso que se não é pra somar, construir algo
positivo, não merece relevância. Isso que você disse é uma grande verdade. Muita
gente se esconde, fica de idéia torta, fala mal de pessoa X,Y,Z, é super
engajado em causas e movimentos, mas nunca colou no rolê pra saber qual é.
Só lamento, e espero que essas pessoas acordem
pra vida, antes que seja tarde demais.Estão perdendo a chance de viver experiências
legais e positivas. Claro que eu não colo em todo protesto que existe, todo som
ou evento, até porque muitos são simultâneos, mas sempre que possível eu me
envolvo e tento ajudar, ou ao menos não atrapalhar.
THE
ROCKER: O que você destaca (blogs,
bandas, eventos) na cena Underground hoje?
Luis: Em termos de
underground naquela verve zine, tem o The Book do Heder Honório, que cumpre de
maneira super eficiente o lance de resenhas, sons, é um fanzine eletrônico. Tem
o Tumblr do Jaja Felix, menino super correria no campo da ilustração, se chama
13fanzine, e traz trampos FUDIDOS de vários artistas plásticos undergrounds,
como o Rogério Geo, Flávio Grão, Matheus Quinan, entre outros.E tem o blog e
fanzine Zinismo, sensacional!
Entre os eventos, o Verão Revolução e o
Anti-Fest do Fábio “Nenê” Altro, e o “Domingo Cultural” que aconteceu no
estúdio CIAM na Zona Leste de São Paulo, estão entre os que eu destacaria, mas
tem inúmeras coisas que às vezes eu nem fico sabendo.
Quanto á bandas, tenho reparado muito no pessoal
do RAP, e afirmo que eles são exemplo de união e força de vontade. De Racionais
MC’s a Emicida, de Criolo a Inquérito, de Tubaína a Rapadura, todos criam seu
espaço e dão a idéia certa e positiva. No meio hardcore, gostei bastante do Asfixia
Social, Atos de Vingança, Nunca Inverno e do alternativo, Twinpines, Le ballet
de Frida, Lex Complex e Jacks Revenge me empolgam muito! Das antigas destaco Againe que ta voltando, Deserdados, Dance of
Days,Melody Monster e uma pá de banda , é foda, não da pra citar tudo.
THE
ROCKER: Conte-nos um pouco da sua banda, o Cannibal Coffee (shows, proposta e
gravações).
Luis: A banda é nova, esta
compondo algumas canções, iríamos até gravar um split com o Satanic Sharks, mas
eles acabaram! Quando tivermos um repertório próprio legal, dá pra encarar
alguns shows. A proposta é experimentar, quebrar rótulos e paradigmas, ao menos
é o que senti quando nos reunimos. Mesclar tudo o que nos influencia misturar
Doom Metal com Rap e Hardcore, por exemplo, que são influencias minhas, do
Heder e do Marcello.
E estarmos sempre abertos a novos sons e
experimentos. Não vejo a hora de ensaiarmos
com mais integrantes, que estão chegando pra somar (surpresa)!
THE
ROCKER: Para encerrar, vou citar algumas particularidades daquela época e
queria sua opinião a elas: Carta Social, Fitas K7, Flyers.
Luis:
Carta
Social:
Era complicado comprar selo social no correio, apelava pro xaveco da ONG, quase
fiz uma atendente chorar dizendo que minha ONG era pra famílias de presidiários
que não tinham grana pra mandar carta. Mancada né? Mas eles regulavam a venda
dos selos. Reza a lenda que alguns passavam cola sobre os selos para
reutilizá-los, mas não sei se é verdade.
Fitas K7: Recebia várias, o
carteiro juntava todas com um elástico e tacava a tijolada na porta da minha casa,
era tenso isso aí, (risos). Poxa, era o MP3 da época!
Flyers: Coisa linda isso aí, tenho
ate hoje centenas numa pasta, mas parei de colecionar anos atrás.
THE
ROCKER: Obrigado pela entrevista! O espaço é seu!
Luis: Obrigado você pela
oportunidade, continue neste seu trabalho que é de extrema importância, dou o
maior valor, “é nóiz.”
Grupo Underground Brasileiro: http://www.facebook.com/groups/undergroundbrasileiro/258817774217057/?ref=notif¬if_t=group_activity
4 comentários:
Esse é o mlk zica do DIY, rs.
Grande Luisinh!!
is we
valeu pelo espaço querido joão!! parabéns pelo seu trabalho, fundamental!
É isso ai mano, vida longa a cena!!
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