29 de janeiro de 2013

TRAYCE: “BITTERSWEET UNE DOIS SABORES OPOSTOS, MAS QUE FAZEM TOTAL SENTIDO JUNTOS”

Por João Messias Jr.

Mudanças de nome, formação e censura no Youtube. Esses seriam motivos para qualquer banda desanimar e até entregar os pontos. Não foi o caso do quinteto paulista Trayce. Formado atualmente por Alex Gizzi e Fabrício Modesto (guitarras), Rafa Palm Ciano (baixo), Marcelo Campos (bateria) e o novo vocal Marcelo Carvalho seguem firmes, numa vibração promissora, que tem tudo para chegarem ao ápice da carreira.

Nesta entrevista feita com o Marcelo Campos, o mesmo nos conta dos acontecimentos citados acima e o atual momento da banda:


Capa do álbum Bittersweet
Divulgação
New Horizons Zine: Vocês passaram por alguns perrengues antes e após o lançamento do álbum “Bittersweet”, as quais citarei no decorrer da entrevista. Vamos começar com a mudança de nome às vésperas do lançamento do novo CD. O que ocorreu para que o antigo nome Ace 4 Trays fosse substituído pelo atual?
Marcelo Campos: O nome “Ace 4 Trays” não estava soando bem para o mercado exterior. A criação da banda já foi caucada na idéia de que iríamos expandir nosso trabalho para fora do Brasil, por vários motivos, entre eles por conta do estilo de som, pois na época não havia uma cena local como temos hoje, pelas composições serem em inglês, etc. Várias pessoas da gringa nos incentivaram a mudar o nome, pois algumas portas se fecharam pelo fato do nome não fazer sentido algum. Então decidimos fazer esta mudança de vez ás vésperas do lançamento do novo álbum para que a gente não se prejudicasse ainda mais no futuro. Foi uma atitude arriscada já que estávamos a um tempo tentando estabelecer nosso nome na cena, mas analisando hoje, não poderíamos ter feito escolha melhor.

NHZ: Aproveito para parabenizar a banda pela preocupação com os títulos dos dois trabalhos. O primeiro “Roll The Dice” (Jogue os Dados) mostra uma banda underground expondo seu primeiro CD ‘full’ enquanto o novo CD, “Bittersweet” (Agridoce) dá a receita do que encontrar, brutalidade e melodia. Conte sobre a escolha dos títulos e se a intenção era essa mesmo.
Marcelo: Muito obrigado, que bom que gostou. Quando escolhemos o nome “Roll The Dice” tínhamos em mente que por ser nosso primeiro trabalho, estávamos dando uma espécie de “start”, entrando em cena, “lançando os dados” literalmente, dando a cara pra bater e apostando nossas fichas naquele momento. “Bittersweet” surgiu quando notamos que as letras num contexto geral expressavam sentimentos em comum entre elas, algumas com uma visão mais otimista e outras com uma visão mais pessimista sobre as coisas. Nosso ex-vocalista deu a idéia de intercalarmos essas músicas, criando uma mistura de sentimentos, mostrando de alguma forma que o bem não vive sem o mal, e vice-versa. Por isso escolhemos a palavra “Bittersweet” (Agridoce, em português), que une dois sabores opostos, mas que fazem total sentido juntos.

Trayce
Divulgação
NHZ: O novo CD é forte e possui uma forte carga emocional, sendo possível dizer que é o balanço perfeito entre o underground e o mainstream. Músicas como “Land Of Hatred” e “Look At Yourself” podem figurar nas rádios rock do país. O que pensam sobre isso?


Marcelo Campos: Acho que essa veia mainstream vem das influências que temos. Somos extremamente ecléticos, também ouvimos outros estilos de música fora do Rock e isso só faz com que nossas mentes permaneçam abertas na hora de compor, não existe limitação. Amamos Pantera com a mesma intensidade que amamos Alice In Chains por exemplo, entre outras bandas. Talvez esta gama de diversidades faz com que o nosso trabalho tenha um diferencial. Seria ótimo se as rádios rock dessem mais espaço para as bandas de Metal independentes, não só para nós, mas a todas que trabalham de forma profissional e que sobrevivem no underground.

NHZ: “Price To Pay” foi a música escolhida para ser o vídeo. Mas o clipe, por conter cenas de ‘nudez’ (apenas a atriz com os seios de fora) fez com que o mesmo fosse censurado. Isso ajudou ou atrapalhou na divulgação do trabalho?
Marcelo: Acho que mais atrapalhou do que ajudou. Já lemos por aí que se trata de um clipe “polêmico”, mas está longe, muito longe disso. As pessoas que nos “deduraram” para o Youtube talvez tenham achado isso (risos). O clipe foi concebido a partir de quando encontramos o diretor (André Vidigal) e ele se interessou pela idéia, pela música e entrou de cabeça no projeto. O intuito era que o clipe saísse dos padrões, queríamos algo com mais arte e menos pose... ...algo que fizesse as pessoas se questionarem. Na primeira semana de lançamento o vídeo estava com uma crescente incrível de acessos até alguém denunciá-lo como conteúdo impróprio, só por aparecer alguns seios. Não havia conotação sexual, mas mesmo assim foi julgado como. Isso fez com que as pessoas tivessem mais trabalho para assisti-lo, e claro, isso interferiu no número de views.

Trayce
Divulgação
NHZ: Vocês mantiveram a tradição iniciada no trabalho anterior “Roll The Dice” nas baladas. Aqui “Falling” faz a vez. Para vocês, qual a importância de ter uma música deste estilo no álbum? Já executaram essa música ao vivo?
Marcelo: Nós gostamos de baladas (risos). Na real, como eu citei anteriormente, na hora de compor nós não impomos limites e jamais pensamos com cunho comercial do tipo “as garotas vão gostar dessa música”. “Falling” simplesmente surgiu através do nosso guitarrista Alex Gizzi que nos apresentou a música, de cara nós adoramos e começamos a lapidá-la. Ela deu o tipo de contraste que o álbum precisava. É um outro lado do Trayce que nós achamos interessante mostrar, ela veio como um respiro em meio a toda ira demonstrada nas outras composições. Não é o tipo de música que dá para se tocar em todo o show, ela tem uma vibe toda especial, mas quando a executamos ao vivo é impressionante o número de pessoas que a cantam e se emocionam.

NHZ:Mesmo com um ótimo disco nas mãos, a banda teve a saída do vocalista Diego Prado. O que ocorreu para essa mudança?
Marcelo: Logo após o show de lançamento do disco, ele demonstrou não estar mais com a mesma empolgação que o restante da banda em fazer uma nova turnê e trabalhar o novo material que tínhamos em mãos. Ele enfrentou problemas pessoais e pediu um tempo para banda, para colocar as coisas no lugar e isso fez com que o Trayce ficasse parado por meses, com o disco recém-lançado em mãos, com ótima receptividade por parte do público e crítica especializada, e datas sendo recusadas devido a nossa atitude de respeitar e preservar o momento dele. Após este longo período de espera, ele mesmo escolheu sair da banda. Tivemos que nos reestruturar e tentar recuperar o tempo perdido.

Trayce no Live Metal Fest
João Messias Jr.
NHZ: Hoje a banda conta com Marcelo Carvalho (ex-Hateful), que ficou conhecido pela participação no programa de calouros do Raul Gil e por ter participado do CD do Eclipyka. Como chegaram até ele e no que o fato dele ter aparecido na grande mídia pode ajudar a banda?
Marcelo: Eu já conhecia o trabalho do Marcelo Carvalho desde 2009 através de vídeos na internet, antes mesmo de sua participação no programa Raul Gil. Eu já havia visto o clipe do Ecliptyka (que por sinal é ótimo), mas não tinha me ligado que ele se tratava do mesmo cara que eu havia visto pela internet anos atrás. Após abrirmos testes para escolher o novo vocalista, me lembrei dele e fui atrás de saber como estava sua carreira. Foi então que descobri sobre sua participação no programa Raul Gil e entrei em contato. Apresentei o trabalho da banda e mesmo estando em um momento bom com seu projeto solo, ele se interessou pela gente e topou fazer parte do Trayce. Claro que o fato dele ter aparecido na grande mídia nos ajudou, muitos fãs que ele conquistou passou a nos acompanhar e nosso público também passou a acompanhar o trabalho dele. Então foi um casamento que deu muito certo para ambas as partes.

NHZ: Vocês já se apresentaram com a nova formação no Live Metal Fest, na Capital e em Jundiaí, com o Eclyptika. Como foram essas apresentações e como o novo vocal está integrado ao grupo?
Marcelo: Foram shows sensacionais. Não sabíamos como o público iria receber “o novo Trayce”, como iria receber o Marcelo, mas logo no final da primeira música sentimos que todos os medos e problemas que havíamos enfrentado tinham acabado ali. O Marcelo além de uma grande pessoa e profissional, sabe como interagir e cativar o público. O entrosamento está rolando com muita naturalidade, está muito mais fácil de se trabalhar. Encontramos alguém determinado e com o perfil que precisávamos para continuar, que nos transmitisse segurança e confiança.

NHZ: Voltando a falar do Live Metal Fest, o que acharam da iniciativa de juntar algumas bandas para mostrar ao público que temos bandas de rock/metal de qualidade?
Marcelo: Esta iniciativa partiu do nosso amigo Clayton Bartalo (vocalista do Screams Of Hate) que tinha a proposta de fazer com que esse festival acrescentasse a cena, com uma estrutura digna e que valorizasse o trabalho das bandas. Na primeira edição tivemos a honra de ter o Vitor Rodrigues (vocalista do Voodoo Priest, ex-Torture Squad) como mestre de cerimônias e o projeto deu tão certo que outras duas edições já estão agendadas, inclusive o Trayce participará da próxima que acontecerá dia 16/02 na Inferno Club em São Paulo, junto ao Screams Of Hate, Command6, Holiness, Hatematter e Hammathaz, todas bandas de excelente qualidade e expressão no underground!

Trayce no Live Metal Fest
João Messias Jr.
NHZ: Para encerrar, visto que estamos acabando o ano, quais os discos nacionais e internacionais que mais agradaram vocês?
Marcelo Campos: 2012 foi um ano muito produtivo para o Metal, principalmente o nacional. Gostaria de destacar os seguintes álbuns:

Nacionais:
- Command6: Black Flag
- Ancesttral: Bloodshed and Violence
- Error: Own Hell
- Rygel: Imminent
- Thriven: Bag Of Scumbags
- Screams Of Hate:Corrupted
- John Wayne: Tempestade
- Fai: Crença Sem Fim
- Andragonia: Memories
- Hatematter: Doctrines
- Defensa: Gigantes Pela Própria Natureza
- Savant Inc.: Híbrido
- Heptah: Master Of Delusion
- Threat:Overcome
- This Grace Found:Seasons Of Madness
- Claustrofobia:Peste

Internacionais:
- Testament:  Dark Roots of Earth
- Lamb Of God:Resolution
- Stone Sour:House Of Gold & Bones Part 1
- As I Lay Dying, Awakened
- Rush:Clockwork Angels
- Kiss:Monster

NHZ: Obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores dessa publicação!
Marcelo Campos: Primeiramente, gostaria de agradecer ao NEW HORIZONS pelo espaço e parabenizar pelo ótimo trabalho. A cena precisa de mais veículos como o de vocês. Muito obrigado a todas as pessoas que curtem, apoiam e acompanham o Trayce. Estamos com muitos projetos para 2013 e a força de vocês é fundamental para fazer tudo acontecer. VIVA O UNDERGROUND.

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