Mudanças de nome, formação e censura no
Youtube. Esses seriam motivos para qualquer banda desanimar e até entregar os
pontos. Não foi o caso do quinteto paulista Trayce. Formado atualmente por Alex
Gizzi e Fabrício Modesto (guitarras), Rafa Palm Ciano (baixo), Marcelo Campos
(bateria) e o novo vocal Marcelo Carvalho seguem firmes, numa vibração
promissora, que tem tudo para chegarem ao ápice da carreira.
Nesta entrevista feita com o Marcelo Campos,
o mesmo nos conta dos acontecimentos citados acima e o atual momento da banda:
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Capa do álbum Bittersweet Divulgação |
New Horizons Zine: Vocês passaram por alguns
perrengues antes e após o lançamento do álbum “Bittersweet”, as quais citarei
no decorrer da entrevista. Vamos começar com a mudança de nome às vésperas do
lançamento do novo CD. O que ocorreu para que o antigo nome Ace 4 Trays fosse
substituído pelo atual?
Marcelo Campos: O nome “Ace 4 Trays” não estava soando bem para o mercado
exterior. A criação da banda já foi caucada na idéia de que iríamos expandir
nosso trabalho para fora do Brasil, por vários motivos, entre eles por conta do
estilo de som, pois na época não havia uma cena local como temos hoje, pelas
composições serem em inglês, etc. Várias pessoas da gringa nos incentivaram a
mudar o nome, pois algumas portas se fecharam pelo fato do nome não fazer
sentido algum. Então decidimos fazer esta mudança de vez ás vésperas do
lançamento do novo álbum para que a gente não se prejudicasse ainda mais no
futuro. Foi uma atitude arriscada já que estávamos a um tempo tentando
estabelecer nosso nome na cena, mas analisando hoje, não poderíamos ter feito
escolha melhor.
NHZ: Aproveito para parabenizar a banda pela
preocupação com os títulos dos dois trabalhos. O primeiro “Roll The Dice”
(Jogue os Dados) mostra uma banda underground expondo seu primeiro CD ‘full’
enquanto o novo CD, “Bittersweet” (Agridoce) dá a receita do que encontrar,
brutalidade e melodia. Conte sobre a escolha dos títulos e se a intenção era
essa mesmo.
Marcelo:
Muito obrigado, que bom que gostou. Quando escolhemos o nome “Roll The Dice”
tínhamos em mente que por ser nosso primeiro trabalho, estávamos dando uma
espécie de “start”, entrando em cena, “lançando os dados” literalmente, dando a
cara pra bater e apostando nossas fichas naquele momento. “Bittersweet” surgiu
quando notamos que as letras num contexto geral expressavam sentimentos em
comum entre elas, algumas com uma visão mais otimista e outras com uma visão
mais pessimista sobre as coisas. Nosso ex-vocalista deu a idéia de
intercalarmos essas músicas, criando uma mistura de sentimentos, mostrando de
alguma forma que o bem não vive sem o mal, e vice-versa. Por isso escolhemos a
palavra “Bittersweet” (Agridoce, em português), que une dois sabores opostos,
mas que fazem total sentido juntos.
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Trayce Divulgação |
NHZ: O novo CD é forte e possui uma forte
carga emocional, sendo possível dizer que é o balanço perfeito entre o
underground e o mainstream. Músicas como “Land Of Hatred” e “Look At Yourself”
podem figurar nas rádios rock do país. O que pensam sobre isso?
Marcelo Campos: Acho que essa veia mainstream vem das influências que
temos. Somos extremamente ecléticos, também ouvimos outros estilos de música
fora do Rock e isso só faz com que nossas mentes permaneçam abertas na hora de
compor, não existe limitação. Amamos Pantera com a mesma intensidade que amamos
Alice In Chains por exemplo, entre outras bandas. Talvez esta gama de
diversidades faz com que o nosso trabalho tenha um diferencial. Seria ótimo se
as rádios rock dessem mais espaço para as bandas de Metal independentes, não só
para nós, mas a todas que trabalham de forma profissional e que sobrevivem no
underground.
NHZ: “Price To Pay” foi a música escolhida
para ser o vídeo. Mas o clipe, por conter cenas de ‘nudez’ (apenas a atriz com
os seios de fora) fez com que o mesmo fosse censurado. Isso ajudou ou
atrapalhou na divulgação do trabalho?
Marcelo:
Acho que mais atrapalhou do que ajudou. Já lemos por aí que se trata de um
clipe “polêmico”, mas está longe, muito longe disso. As pessoas que nos
“deduraram” para o Youtube talvez tenham achado isso (risos). O clipe foi
concebido a partir de quando encontramos o diretor (André Vidigal) e ele se
interessou pela idéia, pela música e entrou de cabeça no projeto. O intuito era
que o clipe saísse dos padrões, queríamos algo com mais arte e menos pose...
...algo que fizesse as pessoas se questionarem. Na primeira semana de
lançamento o vídeo estava com uma crescente incrível de acessos até alguém
denunciá-lo como conteúdo impróprio, só por aparecer alguns seios. Não havia
conotação sexual, mas mesmo assim foi julgado como. Isso fez com que as pessoas
tivessem mais trabalho para assisti-lo, e claro, isso interferiu no número de
views.
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Trayce Divulgação |
NHZ: Vocês mantiveram a tradição iniciada no
trabalho anterior “Roll The Dice” nas baladas. Aqui “Falling” faz a vez. Para
vocês, qual a importância de ter uma música deste estilo no álbum? Já
executaram essa música ao vivo?
Marcelo:
Nós gostamos de baladas (risos). Na real, como eu citei anteriormente, na hora
de compor nós não impomos limites e jamais pensamos com cunho comercial do tipo
“as garotas vão gostar dessa música”. “Falling” simplesmente surgiu através do
nosso guitarrista Alex Gizzi que nos apresentou a música, de cara nós adoramos
e começamos a lapidá-la. Ela deu o tipo de contraste que o álbum precisava. É
um outro lado do Trayce que nós achamos interessante mostrar, ela veio como um
respiro em meio a toda ira demonstrada nas outras composições. Não é o tipo de
música que dá para se tocar em todo o show, ela tem uma vibe toda especial, mas
quando a executamos ao vivo é impressionante o número de pessoas que a cantam e
se emocionam.
NHZ:Mesmo com um ótimo disco nas mãos, a
banda teve a saída do vocalista Diego Prado. O que ocorreu para essa mudança?
Marcelo:
Logo após o show de lançamento do disco, ele demonstrou não estar mais com a
mesma empolgação que o restante da banda em fazer uma nova turnê e trabalhar o
novo material que tínhamos em
mãos. Ele enfrentou problemas pessoais e pediu um tempo para
banda, para colocar as coisas no lugar e isso fez com que o Trayce ficasse parado por meses, com o
disco recém-lançado em mãos, com ótima receptividade por parte do público e
crítica especializada, e datas sendo recusadas devido a nossa atitude de
respeitar e preservar o momento dele. Após este longo período de espera, ele
mesmo escolheu sair da banda. Tivemos que nos reestruturar e tentar recuperar o
tempo perdido.
Trayce no Live Metal Fest João Messias Jr. |
NHZ: Hoje a banda conta com Marcelo Carvalho
(ex-Hateful), que ficou conhecido pela participação no programa de calouros do
Raul Gil e por ter participado do CD do Eclipyka. Como chegaram até ele e no
que o fato dele ter aparecido na grande mídia pode ajudar a banda?
Marcelo:
Eu já conhecia o trabalho do Marcelo Carvalho desde 2009 através de vídeos na
internet, antes mesmo de sua participação no programa Raul Gil. Eu já havia
visto o clipe do Ecliptyka (que por sinal é ótimo), mas não tinha me ligado que
ele se tratava do mesmo cara que eu havia visto pela internet anos atrás. Após
abrirmos testes para escolher o novo vocalista, me lembrei dele e fui atrás de
saber como estava sua carreira. Foi então que descobri sobre sua participação no
programa Raul Gil e entrei em contato. Apresentei o trabalho da banda e mesmo
estando em um momento bom com seu projeto solo, ele se interessou pela gente e
topou fazer parte do Trayce. Claro
que o fato dele ter aparecido na grande mídia nos ajudou, muitos fãs que ele
conquistou passou a nos acompanhar e nosso público também passou a acompanhar o
trabalho dele. Então foi um casamento que deu muito certo para ambas as partes.
NHZ: Vocês já se apresentaram com a nova
formação no Live Metal Fest, na
Capital e em Jundiaí, com o Eclyptika. Como foram essas apresentações e como o
novo vocal está integrado ao grupo?
Marcelo:
Foram shows sensacionais. Não sabíamos como o público iria receber “o novo
Trayce”, como iria receber o Marcelo, mas logo no final da primeira música
sentimos que todos os medos e problemas que havíamos enfrentado tinham acabado
ali. O Marcelo além de uma grande pessoa e profissional, sabe como interagir e
cativar o público. O entrosamento está rolando com muita naturalidade, está
muito mais fácil de se trabalhar. Encontramos alguém determinado e com o perfil
que precisávamos para continuar, que nos transmitisse segurança e confiança.
NHZ: Voltando a falar do Live Metal Fest, o que acharam da iniciativa de juntar algumas
bandas para mostrar ao público que temos bandas de rock/metal de qualidade?
Marcelo:
Esta iniciativa partiu do nosso amigo Clayton Bartalo (vocalista do Screams Of
Hate) que tinha a proposta de fazer com que esse festival acrescentasse a cena,
com uma estrutura digna e que valorizasse o trabalho das bandas. Na primeira
edição tivemos a honra de ter o Vitor Rodrigues (vocalista do Voodoo Priest,
ex-Torture Squad) como mestre de cerimônias e o projeto deu tão certo que
outras duas edições já estão agendadas, inclusive o Trayce participará da
próxima que acontecerá dia 16/02 na Inferno Club em São Paulo , junto ao
Screams Of Hate, Command6, Holiness, Hatematter e Hammathaz, todas bandas de
excelente qualidade e expressão no underground!
Trayce no Live Metal Fest João Messias Jr. |
NHZ: Para encerrar, visto que estamos
acabando o ano, quais os discos nacionais e internacionais que mais agradaram
vocês?
Marcelo Campos: 2012 foi um ano muito produtivo para o Metal,
principalmente o nacional. Gostaria de destacar os seguintes álbuns:
Nacionais:
- Command6: Black Flag
- Ancesttral: Bloodshed and Violence
- Error: Own Hell
- Rygel: Imminent
- Thriven: Bag Of Scumbags
- Screams Of Hate:Corrupted
- John
Wayne: Tempestade
- Fai: Crença Sem Fim
-
Andragonia: Memories
-
Hatematter: Doctrines
- Defensa:
Gigantes Pela Própria Natureza
- Savant Inc.: Híbrido
- Heptah: Master Of Delusion
- Threat:Overcome
- This Grace Found:Seasons Of Madness
- Claustrofobia:Peste
Internacionais:
- Testament: Dark Roots of Earth
- Lamb Of God:Resolution
- Stone Sour:House Of Gold & Bones Part 1
- As I Lay Dying, Awakened
- Rush:Clockwork Angels
- Kiss:Monster
NHZ: Obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores dessa
publicação!
Marcelo Campos: Primeiramente, gostaria de agradecer ao NEW HORIZONS pelo
espaço e parabenizar pelo ótimo trabalho. A cena precisa de mais veículos como
o de vocês. Muito obrigado a todas as pessoas que curtem, apoiam e acompanham o Trayce. Estamos com muitos projetos
para 2013 e a força de vocês é fundamental para fazer tudo acontecer. VIVA O
UNDERGROUND.
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