Por
João Messias Jr.
Quem
ouve pela primeira vez o nome Blues Riders,
pensa de primeira numa banda de Blues.
Só que o trio formado por Sidnei Hares (voz e guitarra), Áureo Alessandri,
Álvaro Sobral (baixo) e que estão para anunciar um novo baterista vão muito
além disso.
Com
dois álbuns lançados, a banda faz um som com nuances do Blues, Hard e Classic Rock, a banda faz uma mistura pesada e
visceral, com destaque para os solos bem elaborados, um bom jogo de backing vocals e vozes ardidas!
Nesta
entrevista a banda nos falou um pouco da carreira, mudanças de formação e da
“pegada” das bandas de rock hoje:
Blues Riders Foto: Divulgação |
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HORIZONS ZINE: A banda já lançou dois álbuns: Blues Riders na Cidade Rock (2000) e A Sagrada Seita do Rock’n’ Roll
(2009). Como foi a divulgação e aceitação destes trabalhos em relação a
público e crítica?
Blues
Riders: Somos uma banda
independente. Em ambos os discos, bancamos tudo do nosso bolso: gravação,
mixagem, masterização, fotógrafo, maquiadores, modelos, prensagem dos CDs em
Manaus (ambos tem livretos com todas as letras, diversas fotos, ficha técnica,
etc).
Nos orgulhamos de termos feito o máximo
que as possibilidades permitiam na época. O público sempre aceitou bem esses
trabalhos nos prestigiando nas apresentações ao vivo e comprando nossos discos.
A imprensa especializada em geral sempre
nos apoiou e incentivou muito, ainda que nunca tenhamos pautado nosso
direcionamento pelo que diz a crítica.
NHZ:
Vocês ficaram 15 anos com a mesma formação. O que ocorreu para que houvesse mudanças de formação? Como chegaram aos novos
membros e o que eles trouxeram para a banda?
BR: Não é fácil para banda nenhuma ficar 15
anos com a mesma formação. Quantas bandas nacionais o fizeram? Consideramos os
Blues Riders uma banda privilegiada por ter conseguido isso. A primeira
formação se comportou, para o bem e para o mal, como uma família.
De forma natural, o tempo a tudo desgasta.
A primeira formação se diluiu após um longo processo de 5 anos em que havíamos
perdido o entusiasmo e a magia de trabalharmos juntos.
Queríamos continuar adiante e por isso a
outra metade da banda que estava desmotivada precisou partir para dar lugar aos
novos integrantes que trouxeram de volta o entusiasmo e muita energia. A
diferença foi impressionante. Uma experiência muito positiva sem dúvida.
Hoje Blues Riders conta com Sidnei Hares,
que está completando 1 ano conosco nos vocais e guitarra e com Áureo Alessandri
e Alvaro Sobral, fundadores da banda.
Novidade em primeiríssima mão: Um novo
baterista será anunciado antes do final do ano.
O Rock não pára !
A Sagrada Seita do Rock And Roll Divulgação |
NHZ:
Apesar do nome, vocês praticam uma mescla do Blues, Hard Rock e Classic Rock.
Quais as bandas que influenciam diretamente o som de vocês?
BR: Nos primórdios da banda, em 1994 pra ser
mais exato, éramos uma banda de Blues que também tocava Rock eventualmente.
Nosso objetivo sempre foi ser uma banda
autoral e conforme as composições surgiam, víamos que naturalmente nos
direcionávamos mais para o lado do Rock. Foi surpreendente e ao mesmo tempo
inexplicável notar que quando compúnhamos um Blues, não conseguíamos deixar de
acrescentar peso.
Decidimos manter o nome da banda pois
mesmo tocando Rock, há uma mescla forte com Blues que pode ser percebida em
grande parte do nosso trabalho.
Naturalmente tivemos muita influência do
Rock inglês e americano dos anos 70, porém nunca quisemos que alguma influência
específica ficasse evidente na nossa música.
Se alguém identificar algo nosso que
pareça com alguma banda mais antiga, pode ter certeza que não foi intencional.
NHZ:
O que vemos hoje são bandas de diversas vertentes do rock se preocupando cada
vez mais com a execução, produção de suas canções, tornando o som calmo e
chato, esquecendo do principal ingrediente que o estilo tem: energia. Vocês
acham que o rock está se tornando cada vez mais erudito e acadêmico?
BR: Não. Ao contrário. O Rock não está
acadêmico e nem erudito. Está burocrático e anêmico. Falta energia e atitude.
Há uma profusão de bandas totalmente
inofensivas por aí. Você vê shows por aí e no final sai de lá sem nada a mais
na bagagem.
Prefiro mil vezes assistir uma banda com
atitude no palco e que cometa erros do que bandinhas comportadas tocando tudo
com precisão e timbres pasteurizados.
O Rock precisa voltar ser mais visceral e
menos artificial. Rock é emoção, não é perfeição.
NHZ:
Conheci o som de vocês recentemente quando vocês foram uma das bandas de
abertura do Golpe de Estado. Quais os benefícios que tocar antes de um grupo
renomado pode trazer?
BR:
O grande benefício é o
fato de haver um prazer enorme em poder tocar com músicos de altíssimo nível e
que, como é o caso do Golpe de Estado, são nossos ídolos de adolescência e
grandes amigos.
Sempre que podemos, atendemos ao convite
para abrir shows das grandes bandas nacionais que fazem Rock de verdade, pois
eles merecem todo o nosso apreço e admiração pelo talento que tem e por nunca
terem desistido da batalha.
Blues Riders Foto: Divulgação |
NHZ:
Nesta apresentação percebi que os vocais são ardidos, lembrando até a banda
gaúcha Rosa Tattooada. Podemos esperar um lado mais Hard em futuros trabalhos?
BR:
O Sidnei Hares é quase 20
anos mais jovem do que os fundadores da banda. Ele trouxe técnicas e
influências de outra geração e aportou com um talento enorme.
Estamos orgulhosos por trabalhar com ele,
que é uma pessoa para quem música é um assunto muito sério.
Certamente o nosso novo trabalho, que está
em desenvolvimento, contará com ingredientes diferentes, com novos sabores que
deixarão nosso Rock’n’Roll ainda mais bacana de se curtir. Impossível dizer se
estará mais Hard, mais Southern, mais Heavy ou mais Blues.
NHZ:
Falando em futuros trabalhos, vocês já têm planos para um novo trabalho de
inéditas?
BR:
A fase de composição
preliminar já começou. Todos já temos várias demos gravadas com rascunhos de
músicas. Temos muito material e a próxima fase será analisarmos o material que
cada um tem e começar a arranjar tudo.
O processo só não avançou mais porque 2012
foi o ano em que mais tocamos na história da banda e acabamos ficando com tempo
curto.
NHZ:
O que acham de bandas como Baranga e Carro Bomba, que conseguiram se destacar
na cena cantando no idioma pátrio?
BR:
São EXCELENTES bandas
nacionais! Além da qualidade que apresentam, essas bandas merecem todo o
crédito por fazer Rock cantado no nosso idioma. Essa é a forma mais legítima, senão a única, de caracterizar o
Rock brasileiro: Cantá-lo no nosso idioma.
O Rock brasileiro, em seus primórdios, foi
cantado em português.
Com o tempo, e devido ao sucesso que o Sepultura alcançou no
exterior, criou-se um séquito de bandas achando que Rock tem que ser
obrigatoriamente cantado em inglês para ser bom.
Uma visão colonialista e limitada que só
fez contribuir com a decadência do estilo no mercado brasileiro, entregando-o de
bandeja a estilos ridículos como funk, sertanejo e pagode.
Na Argentina, por exemplo, a maioria esmagadora das bandas
de Rock cantam em castelhano com extrema qualidade e cativam o mercado
argentino de Rock, que é hoje muito mais forte do que o mercado brasileiro.
Blues Riders Foto: João Messias Jr. |
NHZ:
Qual a opinião de vocês em relação a casas de shows em São Paulo? Os espaços
oferecem condições dignas para que as bandas possam executar seu som?
BR:
O problema não é o espaço
e nem a estrutura. O problema é a forma de pensar. Existem sim lugares
fantásticos pra se tocar e pra curtir um som que são dirigidos por gente
idealista e consciente do que é arte. Esse ano de 2012 foi especial pra nós
pois tivemos a oportunidade de trabalhar com gente muito bacana.
Porém existem também os lugares que tem boa
estrutura mas que são dirigidos por gente com mentalidade convictamente
terceiromundista.
Há diversos donos de casas cujo objetivo
máximo de vida é vender cerveja e cuja missão se restringe unicamente a isso.
Contratam bandas de garotos que tem guitarras de madeirite pra tocar covers
carne-de-vaca a noite toda em troca de cerveja.
Conceito? Arte? Qualidade? Nada disso lhes
diz respeito e isso é um tremendo desserviço ao cenário rockeiro do país.
NHZ:
Obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores desta publicação.
BR: Nós estamos na estrada há 18 anos. Talvez seja
teimosia, talvez idealismo. Pode ser
também a nossa obsessão pelo impossível, o nosso amor pela miragem, um talento
inato para o labirinto.
Nos caracteriza uma dureza de espírito típica dos que não se abatem, dos que insistem, dos que tem a coragem para o proibido... Aquela predileção pelo entusiasmo e pela integridade.
Nossa obra é para poucos pois só o depois de amanhã nos pertence. Alguns já nascem póstumos.
Nós somos os Blues Riders. NEVER STOP ROCKIN' !!!