10 de novembro de 2020

PASSANDO A MENSAGEM

Com influências diversas, quarteto catarinense explora em suas letras a insatisfação contra o governo e corrupção

Por João Messias Jr.

As primeiras impressões sobre o material do Corrosiva são as melhores possíveis. Em tempos de internet, onde bandas cada vez menos se preocupam com a apresentação do material físico, o quarteto formado por Matheus Alves (vocal), Guilherme Stammjohann (guitarra), Rodrigo Oricolli (baixo) e Jaime Barbi (bateria) fez algo simples, porém chamativo: a mídia vem embalada num envelope que possui todas as informações, num acabamento bonito de se ver. Começaram bem.

Mas e o som? Ao observar a capa e o título das músicas, julgamos estar diante de uma banda punk/hardcore oitentista ou algo na linha do Tosco/Worst. Embora tenha elementos do metal/hardcore, o que tenos aqui
 é livre de rótulos, em especial a linha de voz, que embora tenha momentos de agressividade e rispidez, na maioria do momento é discursada, seguindo uma narrativa.

Passada a fase de estranhamento, estamos diante de um grupo que pode conquistar a galera mais voltada ao metal e ao punk, pois a música é pesada, visceral e com um conteúdo lírico que critica o governo e todas as formas de corrupção, como podemos ouvir em Marchando ao Inferno, que conta com um solo bem interessante aliás e um pique HCno seu final.

Bem Que Te Avisei é mais visceral, enquanto Corpo Em Chamas se destaca pelos riffs. Já Rumo ao Desespero tem uma levada feita para os palcos e Sistema Maldito é mais pesada em relação aos outros sons.

Não agradará a todos, mas dentro da proposta que se propõe, o Corrosiva faz sua parte.

16 de setembro de 2020

UM NOME QUE MERECE SER PROPAGADO

Banda paulista ensina como fazer um black metal inteligente, abrangente sem abrir mão da aura maléfica do estilo

Por João Messias Jr.



Patria, Pactum, Mystifier, Great Vast Forest, Amen Corner, Murder Rape. Nomes de destaque da prolífica cena black metal nacional. Formações que são acima de qualquer suspeita e que atingiram o status de referência do estilo por seus próprios méritos e competência musical. Porém, essa lista merece ser ilustrada por mais um nome: Vulturine.

Os grupos citados acima devem ser cultuados entre os aficcionados do estilo (algumas são até obrigatórias), mas ao ouvir o álbum Tentáculos da Aberração (2014), queria entender o porque do Vulturine ficar relegado apenas à poucas pessoas. Pois o que temos aqui nesse disquinho, coloca muita banda metida a mainstream no bolso.

Mesclando canções em português e inglês, o grupo faz um som que apresenta elementos ríspidos, trabalhados, ritualísticos e climáticos, todos bem dosados em faixas longas que não cansam o ouvinte, pelo contrário, prendem o expectador a viagem de caos desesperadora.

Se há uma música que cai como uma luva no que foi descrito acima, é a faixa título, onde todo o clima vem permeado por vozes perturbadoras e  se encaixa como uma luva, assim como Fanatismo e Obssessão. Outros momentos de destaque ficam para a abertura do álbum, Born to Spread His Words e Death, Tentacles, Chaos & Spiritual Destruction, essa com algumas passagens bem setentistas.

O álbum chega ao fim com uma versão black metal para Highest Power, do ícone punk GG Allin, Interessante desse som é mostrar a proximidade dos estilos, que soam como primos distantes.

Enfim, caras que entendem do riscado e uma banda que não faz feio na parte musical, Algumas ressalvas ficam por conta da produção, que apesar de permitir ouvir tudo com clareza e definição, peca nos cortes entre um som e outro, além da falta de um encarte com as informações básicas.

Se você for fã de black metal e das bandas citadas no primeiro parágrafo, tem tudo para adicionar o Vulturine nela.

27 de julho de 2020

FIDELIDADE

Novo trabalho do sexteto paulistano mantém a essência ao estilo que os consagrou

Por João Messias Jr.

Quem viveu a década de 1990/2000 vai se lembrar com carinho do
Portrait, quedurante esse período, ao lado de grupos como Kavla, Wizards, Eterna e Karma, representavam com competência o cenário do prog/melódico/sinfônico. O tempo passou e o sexteto hoje formado por Rinaldo Zupelli (guitarra). Emerson Barcos (baixo), Ricardo Cassal (vocal), Marcelo Rocha (bateria), Théo Lima (guitarra) e Alexandre Lofiego (teclado) sumia e aparecia no cenário com a mesma intensidade, até que no fim de 2019, apareceu com novidades.

A primeira fica por conta de uma pequena alteração no nome original, agora ela se chama Portrait One, e a segunda (e mais legal), fica por conta de terem lançado um novo álbum de estúdio, batizado Time.

Colocando o disquinho pra rolar, Great Maker é o perfeito cartão de visitas do trabalho, mostrando diversas referências do metal melódico, funciona como uma deixa para a seguinte, I Believe, dona de uma linha vocal cativante (alguém pensou Michael Kiske?), uma quedinha pro hard e bumbos velozes.

Prision aposta num refrão certeiro, Deja-vu e Liberty (Mirrors of Dreams) são mais progressivas, enquanto Thorns in My Way e Voices são os grandes momento do trabalho. A primeira por mostrar peso e interessantes mudanças de andamento e a segunda pelo virtuosismo bem dosado e vozes inspiradas no Queen.

Mask encerra com um astral lá na estratosfera e coroa esse retorno triunfal da bandas, que tem tudo para (re) conquistar os fãs de um dos períodos de ouro do metal mundial. Que além das músicas, possui uma excelente produção e uma capa que salta aos olhos!


 

19 de julho de 2020

VIAGEM CLIMÁTICA E PESADA

Iranianos investem num mix de metal, prog e a cultura local em primeiro registro

Por João Messias Jr.


Mitra
Divulgação
Muitos questionam o fato das músicas dos grupos estarem disponíveis em plataformas como Deezer, Spotify e afins. Dessa forma, desencorajando o fã  a comprar o material dos grupos. 

Talvez essa facilidade, tenha deixado a galera mais preguiçosa e seletiva, o que os faz adquirir apenas o que realmente gostou. Mas, em contrapartida, dá a oportunidade para muitos de conhecerem bandas de todo o globo terrestre, com apenas alguns cliques. 

Um ótimo exemplo fica a cargo da Anoushbard. Vinda de um improvável Irã, possui três anos de estrada e no ano passado soltou seu primeiro material, Mitra. Fazendo um mix de prog e metal , polvilhado com muitos elementos da música de seu país. Sherwin Baradaran (vocal, guitarra), Siavash Motalebi (guitarra), Arman Tirmahi (baixo) e Sasan Soflaei (bateria) mostram que são exímios músicos, trazendo peso, climas e melodias nos momentos corretos, que apesar das músicas longas, não cansam o ouvinte.

Um exemplo fica por conta de Life Lady (Green Temple), dona de mais de dez minutos de pura viagem. The Ward é daqueles momentos que cativa de imediato, unindo partes mais lentas e melódicas que combinadas ao refrão de impacto e solos certeiros, fazem o crime perfeito. 

Gates of  Ctesiphon é outro momento longo do álbum, inicia voltada ao death/doom e ganha um clima caótico durante a audição. Já  The Ward, une belas melodias e vozes limpas enquanto o curto instrumental Haoma, une o clima do  oriente e viradas que beiram o death metal.

Apesar de muito bem feito e pensado em todos os detalhes, não é o som que vai agradar a todos os públicos dentro do rock e metal, em especial a galera que parou na década de 1980. Por outro lado, tem tudo pra cair no gosto de quem tem a mente aberta as mais variadas ramificações musicais.


13 de julho de 2020

GRATA SURPRESA VINDA DOS ANDES

Novo trabalho de chilenos aposta na mescla de estilos como death/doom e música andina

Por João Messias Jr.

Weight of Emptiness
Divulgação
Conhecido por ter mostrado ao mundo bandas como Pentagram, Criminal, Necrosis e Forahneo, o Chile apresenta um nome pra lá de promissor para engrossar essa seleta lista: Weight of Emptiness, que acaba de lançar seu segundo álbum, batizado de Conquering the Deep Circle.

Diferente das bandas citadas acima, o quinteto que conta hoje com Alejandro Ruiz (vocal), Juan Acevedo (guitarra), Alejandro Bravo (guitarra), Mario Urra (baixo) e Mauricio Basso (bateria) faz uma música mais pomposa, pesada e atmosférica. Unindo elementos do death/doom/prog e da música andina, dessa forma, creditando originalidade ao som do grupo. A fusão de estilos acaba gerando temas que embora tenham a média de cinco minutos, não enjoam o ouvinte!

Essa mescla vencedora podemos ouvir logo em Invisible Mind Workers, que mostra passagens bem pesadas e trabalhadas, com lances mais atmosféricos e vozes que vão do gutural ao sacro. Chuckao mostra um grande senso melódico e grande inspiração na música andina, como ouvimos também em Lamentos e Two Tears Alone.

Outros momentos de destaque ficam para o peso e climas de The Flame, que também é conhecida por seu videoclipe e Eleven Ravens, que possui como predominância o doom metal. 

Talvez alguns sentirão falta de mais velocidade aqui e ali, mas a verdade é que tudo é muito bem feito e nada soa forçado, com músicos seguros e a mescla de estilos se mostra em harmonia. Fatores que fazem do Weight of Emptiness uma banda que tem tudo para alçar novos vôos, em especial na Europa!





8 de julho de 2020

O SEGREDO ESTÁ NA DOSE

Trio aposta em mistura híbrida de rock, metal, hip hop e elementos brasileiros

Por João Messias Jr.


Khorium
Divulgação
Em algum momento você já deve ter se reparado com a frase: a diferença entre o veneno e o antídoto está na dose. Isso combina perfeitamente ao ouvirmos Idiocracia Tropical Contemporânea, recente trabalho do trio Khorium.

Apostando na fusão entre metal, hip hop e ritmos brasileiros, G. Moreira (vocal/guitarra), Roberto Bizarelo (baixo) e Shalon Webster (bateria), apostam na ousadia, ou seja, onde há groove, tem em excesso, o mesmo valendo para o peso e experimentalismos, que apesar da competência, não agradará a todos os fãs de metal, principalmente a galera oitentista.

Isso não quer dizer que o trabalho seja ruim, afinal, o trio é composto de excelentes músicos e a qualidade do áudio é fantástica, o que deixa o lance de gostar ou não na mão do ouvinte.

Os destaques ficam por conta de Resista, com uma bela levada baião na guitarra, Ainda Assim eu me Levanto, que conta com a participação de Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa), a arrastada Abordagem e as feitas para o palco Silenciar e Negue.

Além da parte musical, vale destacar o engajamento do trio, que fala da atuação situação política. alienaçãoe de segurança do país e povo. De forma direta e clara, sem cair no panfletarismo.

Então leitor, como disse lá em cima: cabe a cada um que ouvir o trampo gostar ou não.

29 de junho de 2020

LONGE DAS NOVIDADES, BUSCANDO A ESSÊNCIA PRIMITIVA

Metal baseado no princípio oitentista é a principal referência do trio

Por João Messias Jr.

Se você for fã de modernidades e acha interessante apenas o que foi produzido a partir da década de 1990, pule esta resenha e aguarde o que teremos na sequência. Em contrapartida, se você se entusiasma com os lançamentos da década de 1980, leia as próximas linhas, pois o que temos é um verdadeiro tributo a esse período de ouro do metal mundial.

E os responsáveis por esse "resgate" é a banda carioca Hemorrage. Baal (guitarra/vocal), Astaroth (baixo) e Ssaboth (bateria) fazem um som que possui a aura maléfica dos anos 80 (Sarcófago, Vulcano ) com passagens doom. Esse último elemento deixa a coisa ainda mais crua e intensa, como podemos escutar em Satan Sign Incantation. Satanismo inicia mais visceral, mas ganha contornos mais "ritualísticos", enquanto a faixa que nomeia o EP, The Sinister Path (Formulas to Negative Communication) é mais death metal, enquanto Pazuzu é um tributo ao estilo que o Venom iniciou.

Outro destaque fica para os vocais que dentro de sua crueza, alterna momentos berrados, grunhidos e limpos, esse buscando um tom voltado a música sacra, que soa como uma evocação do mal, algo bem bolado, não sei se foi algo  pensado ou não.

A verdade é que se sobressai nesses cinquenta anos de metal, não importa se a sonoridade é moderna ou retrô, o que realmente importa é o sentimento que se é lançado nas canções, e nesse quesito, o Hemorrage acertou em cheio. Fato que a galera ligada no lado mais ocultista do metal vai pirar no som.

22 de junho de 2020

BRASIL: O PAÍS DA MÚSICA EXTREMA

Trio goiano apresenta receita voraz de como fazer death metal certeiro e extremo

Por João Messias Jr.

Demons of Hate
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Pode parecer redundante, mas ao lado das cenas europeia e americana, a brasileira não apenas evoluiu, como pode ser considerada como um dos pilares da cena extrema. Bandas como Krisiun, Rebaelliun e Mental Horror são alguns exemplos de como o death metal "a brasileira" cravou seu lugar no topo da música extrema.

E se dependermos do Armum, essa escrita será mantida por muito tempo. Moys Henrique (guitarra), Camila Andrade (baixo/vocal) e Gesiel Coelho (bateria) fazem bonito no debut Demons of Hate (2019). Apostando num death metal que apresenta uma linha pesada, técnica e cadenciada, que faz vir num primeiro momento a banda dos irmãos Kolesne, talvez por fazer sons que "grudam" na cabeça, sem partir pro lance da velocidade. O que NÃO significa que os caras copiam e colam, pelo contrário, eles fazem um som na mesma vibe.

E após as audições, acabamos nos rendendo ao som do trio, que dá uma aula de técnica, bom gosto e refinamento. Após uma intro climática, a pancadaria corre solta em Blasphemy Storm e Eternal Decay, faixas que mostram as principais características da banda: extremidade e virtuosidade, evidenciando o dominio dos músicos em seus instrumentos.

Outras características aparecem no decorrer do álbum, como o clima mórbido presente en Evil Massacre e a porradaria come solta em Torture the Bastard, enquanto Death Comes mostra o nível técnico elevado dos caras.

O projeto gráfico também faz jus ao conteúdo sonoro. Material físico embalado em digipack, encarte completo com todas as infos necessárias, além da bela produção sonora, feito pela banda e pelo produtor Lucas de Castro.

Sem mais delongas, se for a sua praia, delicie-se! Parabéns Brasil, Parabéns Goiânia, Parabéns Armum!

11 de junho de 2020

UM TAPA NA CARA DAS CARTILHAS METÁLICAS

Novo trabalho encabeçado por Rafael Augusto Lopes mantém a ousadia presente no debut Another Sleepless Night
Por João Messias Jr.
Sailing
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Todas as vezes que ouço trabalhos de caráter  vanguardista, penso na seguinte frase que um professor disse na universidade, apontando o dedo na minha cara soltou a célebre frase: "mas o rock não é transgressor?". Confesso que fiquei um tempão sem entender a profecia. 
Só que hoje não apenas entendo o significado da frase, como "respiro" com intensidade seu significado. Pois o rock é um estilo musical muito rico, e prender-se em fórmulas seria se prender a algo, o que não combina em nada com a estética libertária do estilo.
Veja o Fanttasma, banda/projeto encabeçada por Rafael Augusto Lopes, guitarrista que tocou no Torture Squad, e em 2012 colocou o nome da banda no mapa do rock/metal com o álbum Another Sleepless Night, que embora tenha a base no gothic/doom metal, flertava com as mais variadas vertentes e com o inusitado. Afinal, quem não se lembra da Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa) cantando no melhor estilo Janis Joplin em Life is War.
Pois bem, o tempo passou o nome Fanttasma volta ao jogo com um EP, chamado Sailing, que mais uma vez nos presenteia com a ousadia. Contando com vocalistas convidados. Ao mesmo tempo que abandona de vez a veia gothic/doom, mantém a conexão com o passado, graças aos climas, soando como trilha de filmes, o que aqui foi positivo.

A cereja do bolo foi que nas três músicas contamos com vocalistas convidados. Mars is Here, o primeiro single do trabalho, conta com May "Undead" Puertas (Torture Squad), num dos melhores registros da cantora, mostrando sua voz natural, evidenciando seu talento e o porque de ter tanto destaque na cena.

Major Overhaul conta com Victor Cutrale (Furia Inc.), que mostra uma composição que beira o pop, sem cair na pieguice, mais uma vez tendo a harmonia de voz/instrumental.

Sailing tem Daniel Wegan é a mais tétrica do disco, possivelmente aquele som que muitos conectarão com o debut, e ao mesmo tempo mantém a linearidade do EP, o que nos deixa querendo saber como será o segundo álbum dos caras.

Após a audição libertadora (sim, esses trabalhos vanguardistas proporcionam isso), me faz relembrar de que o rock é sim, transgressor e o Fanttasma é um belo exemplo de como se dá um tapa com luva de pelica nessas ditas cartilhas do metal, que convenhamos, é um troço chato pra caramba!
MARS IS HERE

7 de junho de 2020

EM GRANDE ESTILO E CABEÇA ERGUIDA

The Fool's Path é o último trabalho da carreira do músico

Por João Messias Jr.

Como em tudo no mundo e na vida, acabamos nos deparando com inúmeras situações em que nem sempre a competência é sinônimo de ter uma carreira bem sucedida. Na música, não é necessário ficar citando casos de cantores ou instrumentistas realmente talentosos que por um motivo ou outro não atingiram o estrelato, ou mesmo o reconhecimento no meio em que atua.

Fabiano Negri é um cara pra lá de experiente, tendo cantado em bandas como Rei Lagarto, Dusty Old Fingers e há um bom tempo tocando sua carreira solo, possui momentos brilhantes, mas que como citei linhas acima, acabou não atingindo um público maior, o que ele faz por merecer não é de hoje.

E isso se comprova em The Fool's Path, seu novo trabalho de estúdio. Passando bem longe dos "rocks e metais tendenciosos" que assolam o cenário, o cantor e multinstrumentista nos brinda com uma ópera rock, que vai ao encontro com vários momentos de sua carreira (metal, hard, pop, progressivo) e um que de óperas rock como Jesus Christ Superstar com algo de David Bowie e Elton John, que faz desse trabalho obrigatório para aqueles que gostam de música feita com alma.

Um exemplo fica por conta da viajante Lies Behind the Mask ou a macabra No One Gets Here Alive, assim como a mais intimista Changing Times.

Blind Superman e a faixa título são outros momentos digno de elogios, assim como o belo trabalho de produção (que timbre de guitarra é esse ?), feito pelo próprio Fabiano e seu eterno parceiro Ric Parma, assim como a chamativa capa, feita por Emerson Penerari, que sintetiza bem o momento decisivo para nossas escolhas.

É triste saber que The Fool's Path é a despedida do cantor, ao menos em trabalhos de estúdio, pois ao lado do álbum que gravou com o Dusty Old Fingers é o  ponto alto de sua carreira. Caso seja o fim, Fabiano pode se orgulhar de ter pendurado as chuteiras em grande estilo, e com a cabeça erguida.


1 de junho de 2020

EU AMO SER BICHO GRILO

Terceiro álbum de germânicos é um mix de nuances setentistas

Por João Messias Jr.

Lucifer III
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Assim como o The Night Flight Orchestra, que vive um excelente momento aqui no Brasil, o Lucifer é outra banda em alta em nosso país, E com isso, as expectativas em relação a um novo álbum de estúdio eram grandes. Que chegaram ao fim com o lançamento do terceiro trabalho de estúdio, simplesmente chamado de Lucifer III.

Posso afirmar que esse novo álbum do quinteto formado por  Johanna Platow Andersson (vocal), Linus Bjorklund e Martin Nordin (guitarras), Harald Gothblad (baixo) e Nicke Platow Andersson (bareria, The Hellacopters, ex-Entombed) é uma delícia de ouvir, pois quem vê as fotos do grupo, se trata de um grupo de Occult Rock, sendo que na verdade, os caras passeiam por várias vertentes do rock setentista, fazendo desse álbum, uma viagem obrigatória ao fã dessa vibe musical.

Ghosts abre o disco mostrando suas cartas: melodias marcantes e linha vocal grudenta. A seguinte, Midnight Phantom, dona de um vídeo muito legal, é macabra, mas com uma pegada mais hard rock, enquanto Leather Demon é mais lenta, embora igualmente grudenta.

Lucifer é mais acelerada e com uma levada que te faz dançar, já Pacific Blues tem um jeitão mais pop e Stay Astray tem tudo pra ser trilha sonora da vida de alguém.

Cemetery Eyes, que fecha o trabalho, é uma viagem musical, com um show de instrumental, guitarras pra lá de inspiradas e viradas de bateria cativantes, nos faz lembrar de como a música vive por gerações, que através dos anos sempre temos bandas boas e relevantes.

Junto ao protocolo cumprido de gravação de qualidade, capa espetacular, a versão nacional acompanha slipcase e um poster, o que a torna imperdível aos colecionadores. Na verdade, ao desdobrarmos o encarte, temos dois posteres, o que aumenta mais a vontade de aquisição do trabalho.

Ao término do disquinho, dá vontade de colocar aquela calça boca de sino e sair cantarolando as músicas do grupo em alto e bom tom! EU AMO SER BICHO GRILO!

28 de maio de 2020

ABSURDAMENTE PESADO

Gaúchos apostam no peso e melodias marcantes em primeiro full

Por João Messias Jr.

Human Decay
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Não é novidade pra ninguém que o sul do país é uma das referências quando se fala no death metal. Krisiun, Rebaellium, Nephast, Horror Chamber e tantas outras representam o estilo com maestria, e arrisco dizer que colocam muitos nomes gringos com maior fama no bolso.

E é justamente da terra dos Pampas que vem mais um nome que deve encabeçar a lista de quem curte metal extremo: Dismembration, que já havia chamado a atenção com o EP Tribute to the Dead, de 2018.

Marcos Palma (vocal), Bodão Arte Nula (guitarra), Diego Souza (baixo) e Lucas Furquim (bateria) fazem um death metal diferenciado, usando elementos do thrash, doom e groove, fazendo um som bem solto e cativante. Pois desde os riffs, as levadas de bateria e as linhas vocais grudam na cabeça de forma quase imediata e isso acaba conquistando o ouvinte, como foram em outros tempos, período em que as bandas se preocupavam em fazer boas canções, não em exibir técnica absurda.

Essa impressão vem logo no início do trampo com Dolls Maker, uma levada mais lenta e cadenciada com riffs hipnóticos e linha vocal marcante. O mesmo vai para a seguinte, The Beast Já The Messenger of Death é mais thrash metal.

Demonic Sadist é aquela que te chama pra briga, graças ao seu clima lento, pesado e desesperador, Kill Or Be Killed possui um groove e levadas industriais que só enriqueceram a canção. The Nightmare Repeats coroa esse belo álbum. Como disse linhas acima e repito:  esses caras tiveram a preocupação de que cada som GRUDASSE na cuca do ouvinte, o que nos faz imaginar como deve ser um show do quarteto.

O carinho com os detalhes foi até para o projeto gráfico, pois o tom vermelho da capa faz dela um diferencial para as suas irmãs de estilo. Além da qualidade da gravação, que é primorosa e nos faz ouvir todos os instrumentos de forma clara e concisa!

Detalhes que fazem de Human Decay  essencial na discografia de um deathbanger.

22 de maio de 2020

EQUILIBRANDO AGRESSIVIDADE E MELODIA

Novo trabalho buscou combinar elementos agressivos e melódicos

Por João Messias Jr.

Oblivion Shall Burn
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Depois da boa repercussão do debut, Towards Desolation (2017), a one man band capitaneada por Rhodz Costa (Heritage, Infected), aparece com o segundo álbum, Oblivion Shall Reign.  E ao colocarmos o disquinho pra rolar, notamos um salto evolutivo no trabalho. A proposta de unir death e thrash metal foi mantida, mas aqui o que era agressivo ganhou mais agressividade, só que combinado a bem vindas melodias, tornando o trabalho mais atraente musicalmente.

Contando com a participação do seu ex-companheiro de Heritage e Infected, Henrique Perestrelo nos solos, temos músicas bem feitas e bem sacadas como Grotesque Retribution e a sensacional O Violador de Sepulturas, que são um belo cartão de visitas do disquinho.

Mas não fica só nisso. Comedores de Carne Humana Podre é daquelas perfeitas para bater cabeça, enquanto My Morbid Thoughts com seu início melódico, que ganha um clima mais arrastado e assustador, coroa esse ótimo álbum

Outros aspectos positivos ficam para os vocais, que ganharam mais variedade em relação ao debut e mais uma vez a capa sensacional feita por Marcio Aranha, além do trabalho gráfico, que parece que foi feito para ser um vinil, desde as músicas separadas por lados na contra capa, de chamar a atenção.

Aí eu me pergunto: quando que a rapaziada vai sacar que são nas bandas underground que estão os verdadeiros tesouros da música pesada?

19 de maio de 2020

SEM ABRIR MÃO DA PEGADA

Trio do ABC paulista mantém sentimento old school em seu brutal death metal






Por João Messias Jr.


Inhumane Terror Cult
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É natural com o passar dos anos, os estilos musicais recebam toques de refinamento e técnica, algo que, bem dosado, faz com que trabalhos sejam reconhecidos pela galera que não é simpatizante de determinadas vertentes musicais. Veja por exemplo o death metal, a evolução que o estilo teve. Desde os primórdios com Possessed e Master, passando pelos tempos atuais com Krisiun, Obskura e Death, fazendo com que o estilo não seja chamado de barulho.

Até agora disse o lado bom da coisa, pois se por um lado as bandas fizeram trabalhos melhores, há o lance em que tudo ficou bonitinho demais, muito bem executado milimetricamente e isso acabou deixando a maldade do estilo de lado, com álbuns perfeitos, mas sem alma alguma.

Felizmente temos a galera do Chaoslace, que mostra como manter a essência do estilo sem ser tosco ou clichê. Leandro Nunes (vocal/guitarra), Giovanni Fregnani (baixo, substituido por Rafael Montana) e Diogo Rodrigues fazem um mix da escola antiga e mais atual do death metal, mas com pegada, atitude e paixão, elementos que valem mais do que técnicas conquistadas em conservatórios de música, fazendo música feita pra bangear.

Alguns exemplos ficam por conta de Elimination e Anti-Religious Victory, que sintetizam bem a mistura praticada pelo trio. Outro exemplo fica para a brutal e trabalhada Curses Behind the Diabolic Shadows, essa é das antigas, e agora ganhou uma nova roupagem sem perder a aura dos primeiros dias.

Assim como o Necromesis, o Chaoslace é uma das bandas que me fizeram voltar a ativa cobrindo shows e eventos voltados ao underground. Nesses tempos de pandemia, lembro quando via os caras nos rolês e dizia: "Olha os Chaoslace aí".
Inhumane Terror Cult

17 de maio de 2020

AQUELE SENTIMENTO QUE BATE NO PEITO

Potiguares resgatam a proposta do metal feito no Brasil na década de 1980

Por João Messias Jr.

Heavy Metal Réu
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Olha como são as coisas, assim como nos primeiros tempos do metal aqui em São Paulo, onde tudo era feito na base do romantismo e fita crepe, o Nordeste foi por muito tempo lembrado pela carência de bandas fodásticas e locais com estrutura.

Isso me fez lembrar a década de  a época das fitinhas, onde acabei conhecendo muitas bandas legais como Mercy Killing, Insanity, Blackness, Headhunter DC e Mystifier, todas hoje cultuadíssimas pelo mundo, deixando um legado vitorioso.

Só que a cena nordestina não só melhorou, mas se equipara aos grandes centros de metal no país, com festivais renomados mundialmente (Abril Pro Rock) e (claro), bandas de extremo respeito. Esses dias citei a Sinal de Ataque, da Paraíba e hoje temos mais uma banda que tem tudo para ser cultuada pelos bangers do país: o Comando Etílico.

Com quase duas décadas de estrada, o quarteto formado por Hervall Padilha (vocal), Lucas Praxedes (guitarra), David Praxedes (baixo) e Kleber Barbosa) pensou em todos os detalhes para fazer um álbum matador: olhem para a arte da capa, feita pelo vocalista, que assim como a do debut que leva o nome do grupo, de 2010, é daquelas que merece uma moldura na parede.

O trabalho de áudio/mix/master é digno de elogios, pois a gravação cristalina não tirou o peso e a pegada da banda, que "apenas" tratou de mandar ver nos sons. Ai é só por o pescoço pra chacoalhar em sons como Jonny Letal, a viciante Maldição, a épica Atlantida e a vibrante faixa que nomeia o disquinho. Mas dá pra ouvir o material todo numa boa e apresentar batendo no peito aquele sentimento de orgulho para os amigos!

Se eu tivesse ouvido esse álbum em 2019, com certeza estaria na minha lista de melhores do ano! Um puta disco de uma rapaziada que sabe das coisas. E se forem torcedores do ABC, ganharam mais um ponto comigo (risos)!

8 de maio de 2020

(R) EVOLUÇÃO GRIND

Duo brasileiro apresenta EP recheado de técnica, coesão e qualidade sonora 

Por João Messias Jr.

Quem que viveu intensamente a música extrema no final da década de 1980 em sã consciência poderia imaginar a evolução do grindcore, estilo que tem como um de seus álbuns mais emblemáticos, o clássico Scum, do Napalm Death, que apresentava músicas cruas, curtas, minimalistas, carentes de acordes, mas mesmo assim, fenomenais. 

Passados trinta e três anos desse trabalho, o estilo (assim como os estilos extremos em geral), evoluiu assombrosamente. Embora mantendo as características básicas como os vocais extremamente guturais e músicas curtas, o grind hoje apresenta técnica e coesão, que aliada a brutalidade peculiar, além de gerar bandas e músicas sensacionais, agrega a galera de outros estilos. 

Mas isso é assunto para outro dia, pois o assunto de hoje é a excelência de trampo apresentado pelo duo Goat Necropsy, que recentemente lançou seu primeiro EP, chamado Bloody and Fresh. Formado pelos experientes Vic Ferreira (vocal/bateria) e W. Johann (guitarra/baixo), os caras fazem um som que, embora tenha os quatro pés no grind, flerta livremente por outros estilos musicais, como o thrash e o death metal, fazendo deste trabalho uma obra prima, que não deve nada aos consagrados, NasumAborted e o já citado Napalm Death. 

Chopping Orgasms, faixa que abre o trabalho, dá a deixa do que escutaremos até o fim do EP, guitarras transitando entre o thrash/death/grind e vocais indo do gutural ao extremo, permeado por coesão e criatividade, o que bate aquela gana de ouvir mais e mais. 

A faixa seguinte, The Collector, apresenta andamentos lentos e bem quebrados, beirando o sludge. Já Anal Vomit se caracteriza pela velocidade e climas caóticos, enquanto Devoured by the Hounds, é bem trabalhada, sintetizando a evolução desse estilo, que hoje passa das três décadas de vida. 

Agora é aguardar os próximos passos do duo, que deixou uma excelente impressão nessa estreia! 

PASSANDO A MENSAGEM

Com influências diversas, quarteto catarinense explora em suas letras a insatisfação contra o governo e corrupção Por João Messias Jr. As pr...