29 de junho de 2020

LONGE DAS NOVIDADES, BUSCANDO A ESSÊNCIA PRIMITIVA

Metal baseado no princípio oitentista é a principal referência do trio

Por João Messias Jr.

Se você for fã de modernidades e acha interessante apenas o que foi produzido a partir da década de 1990, pule esta resenha e aguarde o que teremos na sequência. Em contrapartida, se você se entusiasma com os lançamentos da década de 1980, leia as próximas linhas, pois o que temos é um verdadeiro tributo a esse período de ouro do metal mundial.

E os responsáveis por esse "resgate" é a banda carioca Hemorrage. Baal (guitarra/vocal), Astaroth (baixo) e Ssaboth (bateria) fazem um som que possui a aura maléfica dos anos 80 (Sarcófago, Vulcano ) com passagens doom. Esse último elemento deixa a coisa ainda mais crua e intensa, como podemos escutar em Satan Sign Incantation. Satanismo inicia mais visceral, mas ganha contornos mais "ritualísticos", enquanto a faixa que nomeia o EP, The Sinister Path (Formulas to Negative Communication) é mais death metal, enquanto Pazuzu é um tributo ao estilo que o Venom iniciou.

Outro destaque fica para os vocais que dentro de sua crueza, alterna momentos berrados, grunhidos e limpos, esse buscando um tom voltado a música sacra, que soa como uma evocação do mal, algo bem bolado, não sei se foi algo  pensado ou não.

A verdade é que se sobressai nesses cinquenta anos de metal, não importa se a sonoridade é moderna ou retrô, o que realmente importa é o sentimento que se é lançado nas canções, e nesse quesito, o Hemorrage acertou em cheio. Fato que a galera ligada no lado mais ocultista do metal vai pirar no som.

22 de junho de 2020

BRASIL: O PAÍS DA MÚSICA EXTREMA

Trio goiano apresenta receita voraz de como fazer death metal certeiro e extremo

Por João Messias Jr.

Demons of Hate
Divulgação
Pode parecer redundante, mas ao lado das cenas europeia e americana, a brasileira não apenas evoluiu, como pode ser considerada como um dos pilares da cena extrema. Bandas como Krisiun, Rebaelliun e Mental Horror são alguns exemplos de como o death metal "a brasileira" cravou seu lugar no topo da música extrema.

E se dependermos do Armum, essa escrita será mantida por muito tempo. Moys Henrique (guitarra), Camila Andrade (baixo/vocal) e Gesiel Coelho (bateria) fazem bonito no debut Demons of Hate (2019). Apostando num death metal que apresenta uma linha pesada, técnica e cadenciada, que faz vir num primeiro momento a banda dos irmãos Kolesne, talvez por fazer sons que "grudam" na cabeça, sem partir pro lance da velocidade. O que NÃO significa que os caras copiam e colam, pelo contrário, eles fazem um som na mesma vibe.

E após as audições, acabamos nos rendendo ao som do trio, que dá uma aula de técnica, bom gosto e refinamento. Após uma intro climática, a pancadaria corre solta em Blasphemy Storm e Eternal Decay, faixas que mostram as principais características da banda: extremidade e virtuosidade, evidenciando o dominio dos músicos em seus instrumentos.

Outras características aparecem no decorrer do álbum, como o clima mórbido presente en Evil Massacre e a porradaria come solta em Torture the Bastard, enquanto Death Comes mostra o nível técnico elevado dos caras.

O projeto gráfico também faz jus ao conteúdo sonoro. Material físico embalado em digipack, encarte completo com todas as infos necessárias, além da bela produção sonora, feito pela banda e pelo produtor Lucas de Castro.

Sem mais delongas, se for a sua praia, delicie-se! Parabéns Brasil, Parabéns Goiânia, Parabéns Armum!

11 de junho de 2020

UM TAPA NA CARA DAS CARTILHAS METÁLICAS

Novo trabalho encabeçado por Rafael Augusto Lopes mantém a ousadia presente no debut Another Sleepless Night
Por João Messias Jr.
Sailing
Divulgação
Todas as vezes que ouço trabalhos de caráter  vanguardista, penso na seguinte frase que um professor disse na universidade, apontando o dedo na minha cara soltou a célebre frase: "mas o rock não é transgressor?". Confesso que fiquei um tempão sem entender a profecia. 
Só que hoje não apenas entendo o significado da frase, como "respiro" com intensidade seu significado. Pois o rock é um estilo musical muito rico, e prender-se em fórmulas seria se prender a algo, o que não combina em nada com a estética libertária do estilo.
Veja o Fanttasma, banda/projeto encabeçada por Rafael Augusto Lopes, guitarrista que tocou no Torture Squad, e em 2012 colocou o nome da banda no mapa do rock/metal com o álbum Another Sleepless Night, que embora tenha a base no gothic/doom metal, flertava com as mais variadas vertentes e com o inusitado. Afinal, quem não se lembra da Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa) cantando no melhor estilo Janis Joplin em Life is War.
Pois bem, o tempo passou o nome Fanttasma volta ao jogo com um EP, chamado Sailing, que mais uma vez nos presenteia com a ousadia. Contando com vocalistas convidados. Ao mesmo tempo que abandona de vez a veia gothic/doom, mantém a conexão com o passado, graças aos climas, soando como trilha de filmes, o que aqui foi positivo.

A cereja do bolo foi que nas três músicas contamos com vocalistas convidados. Mars is Here, o primeiro single do trabalho, conta com May "Undead" Puertas (Torture Squad), num dos melhores registros da cantora, mostrando sua voz natural, evidenciando seu talento e o porque de ter tanto destaque na cena.

Major Overhaul conta com Victor Cutrale (Furia Inc.), que mostra uma composição que beira o pop, sem cair na pieguice, mais uma vez tendo a harmonia de voz/instrumental.

Sailing tem Daniel Wegan é a mais tétrica do disco, possivelmente aquele som que muitos conectarão com o debut, e ao mesmo tempo mantém a linearidade do EP, o que nos deixa querendo saber como será o segundo álbum dos caras.

Após a audição libertadora (sim, esses trabalhos vanguardistas proporcionam isso), me faz relembrar de que o rock é sim, transgressor e o Fanttasma é um belo exemplo de como se dá um tapa com luva de pelica nessas ditas cartilhas do metal, que convenhamos, é um troço chato pra caramba!
MARS IS HERE

7 de junho de 2020

EM GRANDE ESTILO E CABEÇA ERGUIDA

The Fool's Path é o último trabalho da carreira do músico

Por João Messias Jr.

Como em tudo no mundo e na vida, acabamos nos deparando com inúmeras situações em que nem sempre a competência é sinônimo de ter uma carreira bem sucedida. Na música, não é necessário ficar citando casos de cantores ou instrumentistas realmente talentosos que por um motivo ou outro não atingiram o estrelato, ou mesmo o reconhecimento no meio em que atua.

Fabiano Negri é um cara pra lá de experiente, tendo cantado em bandas como Rei Lagarto, Dusty Old Fingers e há um bom tempo tocando sua carreira solo, possui momentos brilhantes, mas que como citei linhas acima, acabou não atingindo um público maior, o que ele faz por merecer não é de hoje.

E isso se comprova em The Fool's Path, seu novo trabalho de estúdio. Passando bem longe dos "rocks e metais tendenciosos" que assolam o cenário, o cantor e multinstrumentista nos brinda com uma ópera rock, que vai ao encontro com vários momentos de sua carreira (metal, hard, pop, progressivo) e um que de óperas rock como Jesus Christ Superstar com algo de David Bowie e Elton John, que faz desse trabalho obrigatório para aqueles que gostam de música feita com alma.

Um exemplo fica por conta da viajante Lies Behind the Mask ou a macabra No One Gets Here Alive, assim como a mais intimista Changing Times.

Blind Superman e a faixa título são outros momentos digno de elogios, assim como o belo trabalho de produção (que timbre de guitarra é esse ?), feito pelo próprio Fabiano e seu eterno parceiro Ric Parma, assim como a chamativa capa, feita por Emerson Penerari, que sintetiza bem o momento decisivo para nossas escolhas.

É triste saber que The Fool's Path é a despedida do cantor, ao menos em trabalhos de estúdio, pois ao lado do álbum que gravou com o Dusty Old Fingers é o  ponto alto de sua carreira. Caso seja o fim, Fabiano pode se orgulhar de ter pendurado as chuteiras em grande estilo, e com a cabeça erguida.


1 de junho de 2020

EU AMO SER BICHO GRILO

Terceiro álbum de germânicos é um mix de nuances setentistas

Por João Messias Jr.

Lucifer III
Divulgação
Assim como o The Night Flight Orchestra, que vive um excelente momento aqui no Brasil, o Lucifer é outra banda em alta em nosso país, E com isso, as expectativas em relação a um novo álbum de estúdio eram grandes. Que chegaram ao fim com o lançamento do terceiro trabalho de estúdio, simplesmente chamado de Lucifer III.

Posso afirmar que esse novo álbum do quinteto formado por  Johanna Platow Andersson (vocal), Linus Bjorklund e Martin Nordin (guitarras), Harald Gothblad (baixo) e Nicke Platow Andersson (bareria, The Hellacopters, ex-Entombed) é uma delícia de ouvir, pois quem vê as fotos do grupo, se trata de um grupo de Occult Rock, sendo que na verdade, os caras passeiam por várias vertentes do rock setentista, fazendo desse álbum, uma viagem obrigatória ao fã dessa vibe musical.

Ghosts abre o disco mostrando suas cartas: melodias marcantes e linha vocal grudenta. A seguinte, Midnight Phantom, dona de um vídeo muito legal, é macabra, mas com uma pegada mais hard rock, enquanto Leather Demon é mais lenta, embora igualmente grudenta.

Lucifer é mais acelerada e com uma levada que te faz dançar, já Pacific Blues tem um jeitão mais pop e Stay Astray tem tudo pra ser trilha sonora da vida de alguém.

Cemetery Eyes, que fecha o trabalho, é uma viagem musical, com um show de instrumental, guitarras pra lá de inspiradas e viradas de bateria cativantes, nos faz lembrar de como a música vive por gerações, que através dos anos sempre temos bandas boas e relevantes.

Junto ao protocolo cumprido de gravação de qualidade, capa espetacular, a versão nacional acompanha slipcase e um poster, o que a torna imperdível aos colecionadores. Na verdade, ao desdobrarmos o encarte, temos dois posteres, o que aumenta mais a vontade de aquisição do trabalho.

Ao término do disquinho, dá vontade de colocar aquela calça boca de sino e sair cantarolando as músicas do grupo em alto e bom tom! EU AMO SER BICHO GRILO!

PASSANDO A MENSAGEM

Com influências diversas, quarteto catarinense explora em suas letras a insatisfação contra o governo e corrupção Por João Messias Jr. As pr...