23 de maio de 2016

TIMOR TRAIL: "OS CARAS DO BYWAR SÃO COMO IRMÃOS E LEVAREI ISSO COMIGO PARA SEMPRE"

O fim das atividades da banda thrash Bywar foi um choque aos fãs do estilo e daqueles que vivem de verdade o que é o underground. Junto à shows memoráveis, que acompanhei desde 1998, álbuns como Invencible War, Heretic Signs, Twelve Devil's Graveyards e Abduction hoje são clássicos da música pesada nacional.

E o encerramento das atividades proporcionou o aparecimento de novos projetos de seus integrantes, como a Timor Trail. Formada em 2014, inicialmente como um projeto do guitarrista/vocalista Adriano Perfetto, ganhou corpo de banda, que hoje é formada com Ricardo Baptista (guitarra, ex-Laudany e Pastore), Cesar Lopes (baixo) e Edill Alexandrino (bateria), cuja junção de forças gerou o EP que carrega o nome da banda.

Diferente do thrash de antigamente, o trabalho bebe nas fontes setentistas (alguém disse Black Sabbath?), com momentos pesados, densos e melancólicos.

Nesta entrevista, Adriano e Ricardo falam dos estágios do grupo até chegar no EP, da interessante arte da capa e claro, da homenagem que o Bywar recebeu do Woslom em seu novo registro.

Por João Messias Jr.


Timor Trail
Ana Marilin
NEW HORIZONS ZINE: Uma notícia que pegou muitos de surpresa foi o fim das atividades do Bywar. O que aconteceu para que a banda terminasse e como surgiu a inspiração para um novo projeto?
Adriano Perfetto: Uma banda é um relacionamento muito similar a um casamento, onde temos momentos bons e ruins, coisas boas que aconteceram que guardaremos para sempre com saudade, e também algumas diferenças que acabam sendo incompatíveis para seguir adiante com um trabalho. Os caras do Bywar são para mim mais que músicos com quem toquei durante 17 anos - são como irmãos, e levarei esse sentimento comigo para sempre. Quando o Bywar estava fazendo shows para a divulgação de Abduction eu já tinha novas ideias de composição, coisas que não iriam se adequar ao estilo Thrash Metal do Bywar. Foi nessa ocasião que senti a necessidade de criar um projeto onde eu pudesse ter um campo muito maior para desenvolver minha criatividade musical.

NHZ: Num primeiro momento, a Timor Trail seria apenas um projeto solo. Quando deu aquele estalo de montar uma banda de verdade? Como chegou na formação que a banda tem hoje?
Adriano: A ideia de transformar o Timor Trail em uma banda de verdade surgiu quando o Bywar se reuniu para sacramentar que não continuaríamos mais tocando juntos. Nesse momento foi quando dei um tempo para reciclar minhas ideias e entrar de cabeça em uma nova atmosfera de composição. Os integrantes do Timor, eu já os conhecia de longa data: Edil Alexandrino e Cesar Lopes (meu primo) já haviam tocado comigo em outras bandas da região. Fiz o convite explicando a proposta e eles aceitaram, mas ainda faltava outra guitarra para que a sonoridade chegasse aonde eu queria. Foi aí que fiz o convite para o Ricardo Baptista (Laudany e Pastore), um excelente guitarrista, também muito experiente e que veio a somar para a construção sonora de nossa banda.

NHZ: Diferente do seu passado thrash inspirado nos anos 80, a Timor Trail bebe nas raízes setentistas do estilo. Algumas referências como Black Sabbath, Candlemass e Pentagram podem ser sentidas nas músicas de vocês. Adriano, você teve alguma dificuldade em tocar e cantar  músicas nessa linha musical?
Adriano: A bandas que você citou são grandes fontes de inspiração para o Timor Trail, principalmente o Black Sabbath, que sempre considerei como os criadores do Doom Metal em álbuns como “Masters of Reality” e “Vol 4”. Mesmo na minha fase thrasher, essas bandas e muitas outras que não tinham absolutamente nada a ver com o Thrash Metal foram influências para minhas composições. Eu sempre fui um músico aberto para novas ideias e para outros estilos musicais; nunca me prendi apenas ao Thrash. Acredito que outros músicos também são assim e isso só enriquece a música num modo geral. Quanto ao fato de tocar e cantar não tive nenhum problema, pois o fato de termos um andamento musical bem mais lento que o do Speed e Thrash me facilitou bastante e me deu muito mais abertura para criar mais melodias com a minha voz.

Timor Trail
Ana Marilin
NHZ: O primeiro material desse novo projeto é um EP que carrega o nome do grupo, que tem como característica a variedade, desde músicas  cadenciadas como Citizen Kane até a viagem de Sweet and Cruel (The Lady and Black). Como foi construir um repertório com canções tão distintas?
Adriano: Esse foi o grande barato de poder mudar e reciclar minhas ideias como compositor: a partir do momento em que o músico muda a maneira de criar, ele se encontra diante de um leque de variedades e opções harmônicas e melódicas, e não há problema algum se isso não se parece com o estilo que você faz ou deve seguir.

NHZ: Queria que contasse sobre a criação da canção When The Eyes Never Close, pois ela é dona de um clima bem instigante.
Adriano: Eu sempre fui um grande admirador de músicas com uma atmosfera triste e cativante. Quando ouvimos uma música e sentimos um clima de mistério misturado com tudo isso é muito legal. Essa música fala sobre alguns problemas que nós temos, na condição de seres humanos, e que carregamos conosco. E num momento de reflexão nos sentimos presos a culpas que são totalmente íntimas de cada um, e alguns nesses instantes são momentos de tristeza e depressão.

Timor Trail
Divulgação
NHZ: A capa é outro fator que chama a atenção. Ao invés dessas artes “Playstation” que muitas bandas estão usando, optaram por uma capa marcante, daquelas artes que fixam na mente. Como surgiu esse conceito e como chegaram no artista que concebeu esse belo trabalho?
Ricardo Baptista: A foto da capa, eu a cliquei durante a última viagem que fiz, no ano passado. Até então, o EP nem havia começado a ser produzido ainda e sequer havíamos conversado sobre o conceito da capa. Trata-se de uma escadaria de metal, em meio a estruturas metálicas, em um amplo túnel urbano feito para travessia de pedestres, a mais de vinte metros abaixo do solo. Enquanto eu andava por ele, fui atraído pela atmosfera sombria e silenciosa que o local produzia, então resolvi registrar algumas fotos. Meses depois, quando a banda terminou de gravar o EP, iriámos definir o conceito da capa. Fiz uns protótipos de capa para apresentar aos outros caras da banda, com algumas fotos do meu arquivo pessoal. Dentre umas cinco fotos diferentes, a mais escolhida foi essa da escada. Provavelmente pelo sentido de suspense que ela carrega, pois não se sabe o que pode se encontrar ao subir os degraus, assim como em um filme de terror (risos). Os demais elementos que completam da capa são o logotipo da banda, criado pelo nosso amigo Rodrigo Helfenstein, e a foto da banda no verso, feita pela fotógrafa Ana Marilin.

NHZ: Apesar de lançado faz pouco tempo, existem planos para um álbum completo?
Adriano: Sim, já estamos em fase de composição. Já temos oito músicas em processo de finalização, e é bem provável que no primeiro semestre de 2017 estaremos com nosso full length!

NHZ: Uma questão que está deixando muitos com a pulga atrás da orelha é a nova regulamentação da internet, que passará a valer em 2017. Quais os prejuízos que essa mudança pode trazer a uma banda como a Timor Trail?
Ricardo Baptista:
O que sabemos até então é que, de acordo com essa regulamentação, se aprovada, os usuários de banda larga sofreriam corte de sua internet após excederem um limite estipulado de transferência de dados. O maior meio de divulgação do trabalho da Timor Trail, assim como a maioria das bandas, é a internet. Nosso EP está disponível para download gratuito, e também há vídeos, e sempre haverá mais conteúdo nosso por vir.  Essa restrição com certeza afetaria os hábitos de todos nós, enquanto artistas e fãs, consumidores de informação e principalmente de música. Isso porque hoje em dia somos muito acostumados a ter acesso a tudo, imediatamente e de forma ilimitada, através das plataformas de streaming de música e vídeo. Se o limite de download imposto for muito restritivo, como já pude ler em alguns lugares, isso seria sim mais um obstáculo para que o público conheça a Timor Trail. É claro que nosso EP digital tem um peso de download ínfimo se comparado ao streaming de um filme em HD, por exemplo, mas a partir do momento em que haja um limite para tudo o que se baixa na internet, acredito que o fã de rock mais esporádico poderá pensar duas vezes antes de baixar nosso EP ao invés de consumir conteúdo de outras bandas e outras formas de entretenimento. O melhor, nesse caso, é que o fã faça download do nosso material apenas uma única vez, para ouvir offline quantas vezes quiser.

Timor Trail
Ana Marilin
NHZ: A banda Woslom prestou uma homenagem ao Bywar em seu novo trabalho, A Near Life Experience, regravando a faixa Thrasher’s Return. Como rolou o contato e como se sentiram com esse tributo?
Adriano: Os caras da Woslom entraram em contato comigo perguntando se eles poderiam fazer essa homenagem, e é claro que fiquei muito feliz, e disse que sim! É sempre bom saber que aquilo que você fez um dia e há muito tempo atrás ainda está no coração dos headbangers. Essa música, Thrasher’s Return, significa muito para mim e para os outros ex-integrantes também, e a versão dos caras ficou sensacional - um ótimo trabalho de grande qualidade, assim como é o Woslom e toda sua obra! Aproveito aqui para mais uma vez agradecer pela homenagem!
    
NHZ: O espaço é de vocês!
Adriano: Agradeço de coração a todos aqueles que estão por trás dessa entrevista, e à galera do New Horizons Zine pelo espaço cedido e também à nossa assessoria de imprensa que nos deu essa grande oportunidade de estarmos aqui! Agradeço aos fãs do Timor Trail e aos meus antigos fãs, e recomendo que busquem sempre coisas novas para ouvir, pois o Heavy Metal é uma arte e é cultura, e precisamos nos unir para que sempre estejamos fortes! Entrem e curtam nossa página do Facebook e divulguem o Timor Trail para aqueles que ainda não conhecem!! Valeu e um grande abraço para todos!

Ricardo: Obrigado a vocês do New Horizons Zine pelo interesse em colocar em foco bandas emergentes como a Timor Trail! E para os fãs de metal: há muito material de excelente qualidade sendo produzido por bandas novas, em todo canto do mundo, e muitas vezes de forma independente, então vamos usar o poder da internet para conhecê-las! E compareçam ao próximo show da Timor Trail para nos ver ao vivo! Um abraço!

16 de maio de 2016

A TRILHA DE TODAS AS GUERRAS

A inserção de elementos mais trabalhados foi a aposta de Cause The War Never Ends, novo registro do trio paulista

Por João Messias Jr.

Cause The War Never Ends
Divulgação
Conhecido pela prática do War Metal, que numa definição simples é o uso da temática da guerra numa sonoridade mais oitentista, o Justabeli apontou uma nova faceta em seu segundo álbum, Cause the War Never Ends: momentos mais técnicos e trabalhados sem abrir mão da essência dos tempos anteriores.

E nessa nova proposta War Feres (baixo/voz), que teve ao seu lado Victor Próspero (guitarra/voz, ex-Necromesis) e Marcelo Furlaneto (bateria, ex-Centennial) fizeram um trabalho que além de superar as expectativas, marca um novo capítulo na história do grupo. 

Como ouvimos na faixa de abertura, Die In the War, cuja levada instrumental nos transporta para uma guerra. Clima presente também em A Face da Morte. Outro atrativo fica por conta das passagens mais trabalhadas, como podemos ouvir em Soldiers of Satan, Cause the War Never Ends e principalmente Infected by Radiation, que agradará em cheio aos fãs do Death.

As últimas faixas do trabalho dão um gostinho especial também. As oitentistas Divine Fall e War Crimes são boas opções para o "banging" enquanto Satan's Whores fecha bem o álbum. Além de ser a faixa mais obscura do disquinho, é dona de um vídeo no mínimo polêmico.

Além da parte musical, o recheio e a embalagem são outros atrativos. A produção de Marcos Cerutti/Victor Próspero e a masterização de Dan Swanö deixaram tudo claro e definido, além da bela e chamativa capa feita por Alan Rodrigues.

Hoje War Feres está acompanhado do guitarrista Blasphemer (Sardonic Impious) e do baterista Morbus Deimos (Kanvass) e essa formação já iniciou os trabalhos de um futuro trabalho

PASSANDO A MENSAGEM

Com influências diversas, quarteto catarinense explora em suas letras a insatisfação contra o governo e corrupção Por João Messias Jr. As pr...