5 de dezembro de 2012

PSYCHOTIC EYES: “SOU MUITO FRUSTRADO POR NÃO VER O 'I ONLY SMILE BEHIND THE MASK' LANÇADO FISICAMENTE”


Por João Messias Jr.

Quem trabalha de forma correta, sempre colhe os frutos. Não importa de que forma, mas a recompensa sempre aparece. O trio de Technical Death Metal, Psychotic Eyes vem recebendo excelentes críticas ao seu segundo trabalho, I Only Smile Behind the Mask. As resenhas positivas têm destaque ao nível técnico atingido pela banda e pela produção, assinada por JF Dagenais (Kataklysm).

 Nesta entrevista com o guitarrista/vocalista Dimitri Brandi, o músico nos conta da repercussão do trabalho, a opção de lançarem apenas de forma virtual, entre outras coisas.
 A palavra é sua, Dimitri:

Dimitri Brandi
Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Vocês estão na estrada há mais de uma década. Conte como era praticar death metal em 1999 e como avaliam a aceitação ao estilo hoje.
Dimitri Brandi: O death metal já foi o estilo mais popular de metal no Brasil. Quando o Sepultura estourou no mundo, na época de Beneath the Remains e Arise, todo mundo queria cantar gutural. Era uma situação parecida com o que aconteceu depois com o estouro do Metal Melódico, em que todas as bandas novas queriam soar como o Stratovarius. Quando começamos a banda em 1999, os estilos mais extremos de metal estavam por baixo. O que pegava era o metal melódico e o gothic metal com vocais femininos. Aos poucos o thrash foi ressurgindo, até estourar aquela onda de revival do Thrash oitentista, que não nos beneficiou, pois nunca quisemos soar retro. Durante a década de 2000 surgiram grandes trabalhos no Death Metal, principalmente de bandas como Behemoth, Nile e Kataklysm. Mas o estilo não recuperou a popularidade que teve antes, nem aqui no Brasil. Hoje são poucas as bandas que tocam Death em nosso país, mas felizmente são grupos excelentes.

NHZ: Em 2007 vocês lançaram o primeiro álbum full de vocês, que tem o nome da banda. Como foi a aceitação do CD?
Dimitri: Excelente, ficamos muito felizes e orgulhosos! O disco foi produzido pelo Alex Nasser, grande amigo e músico, ex-baterista do Avalon e do Scars. Lançamos o CD de maneira independente, arcando com todos os custos de gravação, prensagem, divulgação e distribuição. O disco foi muito elogiado pela crítica e pelo público, o que nos rendeu aparecer entre as bandas revelação e nas votações de melhores do ano. Mas também serviu de lição. Aprendemos como é difícil ser uma banda independente. Não conseguimos boas vendas, não conseguimos agendar uma turnê, shows de lançamento, nada disso. Mesmo investindo bastante no produto, por exemplo, fizemos um encarte de 16 páginas com todas as letras traduzidas, mas isso pouca gente comentou. Essa decepção serviu de aprendizado para o segundo álbum.

NHZ: Após o primeiro trabalho, a banda sofreu mudanças de formação, se tornando um trio. Como foi adaptar as canções a esse formato?
Dimitri: Foi um desafio para todos nós, mas principalmente para mim, que acabei virando o único guitarrista. Agora não tinha mais uma segunda guitarra para me apoiar, e eu deveria solar sem guitarra base, o que exige mais em termos de timbre e composição, pois o solo tem que chamar atenção mesmo sem uma base. Para isso precisei da ajuda dos mestres, tipo Alex Lifeson(Rush) e o Victor Smolsky (Rage), guitarristas que são extremamente hábeis nesse quesito, que jamais precisaram de alguém fazendo base para eles. Mas a formação de trio exige mais de todos os músicos, a bateria e o baixo tem que estar muito mais encaixados, sincronizados e entrosados. Felizmente eu toco com dois músicos fantásticos que são o Alexandre Tamarossi (bateria) e o Douglas Gatuso (baixo), que adoram a proposta de Power-trio, são entrosados e técnicos como poucos.

Psychotic Eyes
Divulgação
NHZ: Dando um salto no tempo, vocês contaram com o auxílio do produtor e músico do Kataklysm, JF Dagenais para a concepção do que veio a ser o álbum I Only Smile Behind the Mask. O que os motivaram a essa escolha e se no Brasil não havia ninguém que pudesse fazer esse trabalho?
Dimitri: Desde a primeira vez que ouvi um disco produzido pelo Dagenais eu imaginava que ele seria o produtor perfeito para o Psychotic Eyes. Foi com o disco “Epic” do Kataklysm. Até hoje me impressiono com a qualidade dos timbres, com o peso e agressividade que o JF Dagenais conseguiu, sem nada soar embolado, tudo nítido. Era esse tipo de som que imaginávamos para o nosso som, precisamos de peso, mas mantendo cada instrumento em seu lugar, eu gosto de ouvir os detalhes dos pratos da bateria, dos fraseados de baixo, sem que um instrumento cubra os demais. No Brasil temos excelentes produtores, vários profissionais muito esforçados, plenamente capazes de realizar esse trabalho, mas o Dagenais foi uma escolha pessoal, além de uma excelente oportunidade de aprender como é trabalhar no padrão “gringo” de qualidade. Foi uma chance que não poderíamos perder, pois ele ouviu nosso primeiro CD, gostou e aceitou a proposta de trabalhar conosco. Tudo correu tão bem que já o convidei para trabalhar novamente conosco, no nosso terceiro trabalho, e ele já aceitou!

Devida à colaboração de JF, vocês chegaram a conversar sobre fazer algumas apresentações no Canadá, ou mesmo por Europa e Estados Unidos?
Dimitri: Não. Ele não se envolve no agendamento dos shows do Kataklysm, eles são muito profissionais e lá fora rola uma separação especifica de atividades. Ele é o guitarrista da banda, e só. Chegamos a comentar sobre uma turnê conjunta na America do Sul, mas isso sempre depende dos produtores locais, e infelizmente aqui no Brasil temos preconceito contra as bandas brasileiras. As bandas do exterior conseguem tocar aqui porque são convidadas pelos mesmos produtores que rejeitam as bandas nacionais.

NHZ: Outra particularidade é que vocês contaram com Rodrigo Nunes (ex-Drowned e Eminence) para gravar os baixos. Houve alguma conversa para que ele ficasse na banda? Como chegaram ao atual dono dos graves, Douglas Gatuso?
Dimitri: Seria impossível o Rodrigo ficar na banda, pois ele mora em Belo Horizonte e não tem vontade nenhuma de se mudar pra São Paulo (risos). Ele é um excelente amigo e baixista, e fez um trabalho excepcional. No meio da gravação ficamos sem baixista, então liguei para ele pedindo socorro e ele prontamente se dispôs a ajudar. Fui a Belo Horizonte e ficamos dois fins de semana trancados no estúdio do Marcos do Drowned, compondo as linhas de baixo e gravando ao mesmo tempo. Depois que terminamos a gravação, precisávamos de um baixista e por indicação de outro grande amigo, o Bodão do Side Effects, apareceu o Douglas, que é também guitarrista de diversas bandas. É um excelente guitarrista, mas como baixista ele é um dos melhores do Brasil, com certeza o melhor com quem já toquei. Lamento que ele não tenha gravado o “I Only Smile Behind the Mask”, mas com certeza ele vai mostrar um trabalho ainda mais foda no nosso próximo álbum.

I Only Smile Behind the Mask
Divulgação
O disco em si aponta grande evolução, cheio de músicas intrincadas e ao mesmo tempo, pegajosas. O que os bangers estão achando do disco?
Dimitri: Temos recebido somente comentários positivos por parte do público. As pessoas entenderam nossa proposta de misturar Death Metal com progressivo, sem esquecer dos estilos tradicionais do metal, como o Heavy Clássico, o Thrash e até mesmo o Hard Rock. As críticas também têm sido em sua maioria, positivas. Alguns críticos não gostaram, mas outros elogiam até de um jeito exagerado, dizendo que fizemos uma obra-prima. Isso me deixa muito orgulhoso, mas confesso que acho exagerado, ainda temos muito a aprender e a evoluir como banda. Poucos discos são obras primas, embora tenhamos alguns assim aqui no Brasil, com o último do Drowned, o “Tales of Death” (Zênite),  “Traitors Executers” (Side Effectz),The Hangman Tree” (The Mist), “Innocent Rise” (Monasterium), etc. Se “I Only Smile Behind the Mask” figurar entre esses, estarei satisfeito! 

NHZ: Vocês fizeram o show de lançamento no Carioca Club, ao lado do Korzus e Torture Squad. Como foi o evento em si, visto que o público foi para assistir as bandas citadas e o que pensam da realização de eventos como esse em casas de porte médio, como o Carioca?
Dimitri: Com certeza foi o melhor show da nossa carreira. Tocamos muito bem e o público adorou, respondendo muito bem ao nosso som, mesmo sem conhecer-nos, afinal o “I Only Smile Behind the Mask” sequer havia sido lançado. Apesar do público estar lá para ouvir Korzus e Torture Squad, temos que ter em mente que os fãs do metal nacional são muito mais receptivos às bandas novas do que aqueles que só ouvem bandas estrangeiras. Assim, mesmo sem conhecer nosso som o público do Carioca deu um show à parte, respondendo muito bem e de maneira empolgada.

NHZ: Vocês optaram por lançar de forma digital, disponibilizando para download gratuito. Como estão os acessos e as críticas?
Dimitri: A divulgação está excelente, mostrando que acertamos na escolha. O álbum já foi muito mais baixado do que o primeiro foi vendido. Ou seja, mais pessoas tiveram acesso à nossa música. Isso é o mais importante, para nós o principal é que a música atinja as pessoas, as toque de alguma maneira. Não temos a pretensão de fazer lucros com nossa arte, o que importa é que ouçam nosso som e gostem daquilo que fazemos. Além disso, precisamos reconhecer uma verdade: ninguém mais compra CDs, ainda mais de bandas de metal brasileiras. Se tivéssemos lançado o CD da maneira tradicional, amargaríamos um enorme prejuízo, e não teríamos nem metade da divulgação que o lançamento virtual propiciou.

Há algum plano para que o álbum tenha o formato físico?
Dimitri: Eu adoraria, pois antes de ser músico eu sou um fã de metal, e adoro ter o CD em mãos, ler o encarte, acompanhar as letras. Quem começou a ouvir metal com LPs de vinil entende o prazer indescritível que é ouvir um disco acompanhando as letras e “viajando” na arte gráfica. Então eu sou muito frustrado por não ver o “I Only Smile Behind the Mask” lançado fisicamente, mas eu não sei se será possível.

As músicas que mais curti no trabalho foram Throwing Into Chaos e Dying Grief. Ambas apresentam técnica e coesão. Como foi (e continua sendo) a preparação para a execução nos palcos?
Dimitri: Obrigado! Suas escolhas foram muito boas (risos). Throwing into Chaos já foi apresentada ao vivo, temos aberto todos os shows com ela. É uma música perfeita para abrir uma apresentação, com a bateria furiosa, o riff galopado estilo Grave Digger e os refrãos guturais. Já Dying Grief é uma música muito difícil de ser bem executada ao vivo, mas temos ensaiado ela repetida e exaustivamente, até preparamos um improviso bem setentista para a hora do solo.

Psychotic Eyes
Divulgação
Outro som que chama a atenção é The Girl, que é baseada em Geni e o Zepelim (Chico Buarque). Essa canção pode definir todas as variantes do som do Psychotic Eyes. Podemos dizer que essa canção representa o que é o Psychotic Eyes?
Dimitri: Acho que sim. Creio que seja a minha música preferida da banda. Com certeza é o solo que mais gosto de tocar. Também é outra faixa muito difícil de ser bem executada. Algo que admiro muito nela é a linha de bateria. O Alexandre fez um arranjo que é uma verdadeira obra-prima, a bateria vai contando a história, com o ritmo sendo alterado à medida que as emoções transmitidas pela letra vão sucedendo. O fraseado de baixo também é muito interessante, e gosto muito da forma como a música transita entre vários estilos do metal. Há riffs Thrash, fraseados de Hard Rock e melodias de Doom Metal. Tudo isso dentro de uma mesma faixa, contando uma história de forma bem épica.

NHZ: Recentemente vocês estiveram na Expomusic, a maior feira de música da América Latina. Como enxergam essa oportunidade de divulgação do som e aproximação dos fãs?
Dimitri: Esses eventos são excelentes, mas achei a feira deste ano fraquíssima. As marcas não trouxeram nenhuma novidade interessante e havia poucos fãs. Mas tivemos a oportunidade de gravar uma excelente entrevista para o Stay Heavy, e só isso já fez o evento valer à pena.

NHZ: Para encerrar, vou citar algumas bandas que fazem um som na mesma linha de vocês e queria a sua opinião sobre elas: Necromesis, Cangaço, Death e Sadus.
Dimitri:
Necromesis: Adoro o som desses caras! Gostaria muito de tocar com eles algum dia!

Cangaço: É uma banda que me dá muito orgulho da cena brasileira, mas não acho o som deles parecido com o nosso, apesar de excelente. Fiquei muito orgulhoso quando eles tocaram no Wacken, pena que não ganharam. Sempre quis tocar no Nordeste, já acompanhei shows lá, principalmente em Recife, e sei que é uma das cenas mais fortes do Brasil. Pena que nunca tivemos a oportunidade de sair daqui do sudeste.

Death: É a minha banda preferida! Chuck Schuldiner é o maior gênio da música do século XX, em todos os estilos. É um compositor erudito, que deveria figurar ao lado de Bach, Beehoven, Tchaikovsky e Villa Lobos, e só não é reconhecido porque escolheu emprestar seu talento ao seu estilo preferido, exatamente o mais extremo da música, que é o Death Metal. Além disso, ele era um guitarrista extraordinário e um letrista profundo, verdadeiro poeta da arte extrema.

Sadus: Estaria mais confortável falando do Cynic, mas acho elogiosa a comparação do Psychotic Eyes com o Sadus, a banda que revelou um dos maiores baixistas de todos os tempos, Steve DiGiorgio. Acho a banda excelente, mas creio que faltava um “algo mais”, é uma música extremamente técnica, mas em que às vezes falta empolgação. São poucos os compositores que conseguem acertar o ponto ideal, entre a mistura da técnica e a emoção. Chuck era o melhor de todos, mas outros também o fazem, como Jeff Waters (Annihilator)  e Dave Mustaine (Megadeth).

NHZ: Obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores do New Horizons Zine.
Dimitri: Muito obrigado pelo espaço e parabéns pelo excelente trabalho que vocês fazem! Ao leitor do zine, eu quero transmitir a mensagem de que vocês são a elite dos fãs da música de qualidade feita no Brasil. Quem acompanha zines é o público diferenciado, que tem cuidado e amor pela música, que não se deixa levar por modas nem aceita que a mídia diga o que se deve ouvir. Obrigado e parabéns, o Psychotic Eyes existe para ouvintes como vocês.

Dowload Gratuito de “I Only Smile Behind The Mask”:
http://psychoticeyesbrazil.blogspot.com.br/p/downloads_27.html

Um comentário:

Bruno Aranha disse...

Quando vejo alguma entrevista do Dimitri faço questão de conferir, um dos caras mais inteligentes que temos na nossa cena.
Além de que sou fã do Psychotic Eyes desde a primeira demo, além de acompanhar vários shows dentro desses 10 anos! Parabéns pelo excelente disco!

PASSANDO A MENSAGEM

Com influências diversas, quarteto catarinense explora em suas letras a insatisfação contra o governo e corrupção Por João Messias Jr. As pr...