Apesar do nome um tanto exótico, o trio de hard/AOR Pop Javali mostra em seus dois álbuns, "No Reason to be Lonely" e "The Fame of Fate", Marcelo Frizzo (baixo e voz), Jaéder Menossi (guitarra) e Loks Rasmussen (bateria) mostram um som refinado, que oferece peso, pegada, cadência em belas melodias no tempo certo, em especial na música "Healing no More", cujo refrão gruda nas mentes em poucos segundos.
Na entrevista feita com o trio, os "javalis" nos falam um pouco dos 20 anos de estrada, sonoridade, comparações com bandas do estilo, Uriah Heep e a participação na Virada Cultural na terra natal do grupo, Americana, no interior paulista.
Por João Messias Jr.
Fotos: Divulgação
No Reason to be Lonely Divulgação |
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HORIZONS ZINE: O primeiro álbum, “No Reason to be Lonely”, lançado em 2011,
reúne canções dos primeiros 20 anos de banda e três anos depois lançaram “The
Game of Fate”. Quais as principais diferenças em trabalhar um material que acompanha
a banda desde seu início e ter de começar do zero criando novas músicas?
Marcelo
Frizzo: Desde que a Pop Javali foi criada, ficou muito
evidente nosso gosto comum por trabalho autoral. Pra nós o processo de
composição flui de forma muito natural. Ttemos muitas músicas compostas ao
longo da carreira. Para o “The Game”, em especial, fechamos um “set” com apenas
musicas compostas de 2012 pra cá, pra ter uma contemporaneidade. Isso fez bem
porque a sonoridade ficou mais moderna, sem perder sua essência.
Jaeder Menossi: No primeiro trabalho juntamos
algumas composições inéditas do período de 2007 em diante com algumas do início
da banda em 92, que na verdade, soavam e, ainda hoje, soam atuais pra gente. O
segundo cd tem a vantagem de capturar, de forma mais precisa, um determinado
momento criativo e os territórios que temos explorado nesse período.
Loks
Rasmussen: O processo de criação sempre foi uma fluência na
banda. Surgem as idéias e rapidamente já acatamos ou descartamos. Também
acredito que a cada ensaio, a cada show,
renovamos nossa energia e isso se traduz em produção.
NHZ:
Falando do novo trabalho, ele foi gravado no estúdio Sonata 84, de propriedade
de Andria e Ivan Busic (Dr. Sin), que também assinaram a produção. Com o disco
nas mãos, no que acham que ele ficou melhor que o debut?
Marcelo:
A
qualidade da produção dos irmãos Busic é notável logo na primeira audição. O
estúdio é moderno e eles são mestres no que fazem, tiram o máximo proveito dos
equipamentos. E ainda deram uma atenção especial porque curtiram junto com a
gente cada uma das músicas. Ou seja,
temos um disco com audio bem superior ao anterior.
Jaéder: Acredito que nossa proposta musical está mais
definida e há uma homogeneidade maior entre as composições, também os vocais e
arranjos estão mais elaborados. Em termos da produção foi importantíssimo o
apoio de profissionais tão gabaritados e experientes quanto os irmãos Andria e
Ivan Busic para que alcançássemos o resultado almejado.
Loks: Com certeza, o entendimento do estilo fez
com que as coisas caminhassem por um rumo natural. Muita coisa não precisava
nem explicar ou pedir que, tanto o Andria quanto o Ivan, já sacavam o que nós
queríamos e aí ficou fácil, pra chegar no resultado que imaginamos.
Pop Javali Divulgação |
NHZ:
Curiosamente, vocês também são um trio, formado na mesma época e fazem hard
rock, assim como a banda dos irmãos Busic. Já aconteceu de ficarem fazendo
comparações entre o Dr. Sin e o Pop Javali? Como lidam com isso?
Marcelo:
Sempre
fizemos questão de salientar que o ‘DR SIN’ é uma referência pra nós. Quando
rolam comparações sentimos, na verdade, uma grande demonstração de respeito por
nosso trabalho. É bom ser comparado a coisa boa!
Jaéder:
Ficamos
muito honrados quando as pessoas enxergam semelhanças entre os nossos
trabalhos, pois o Dr. Sin sempre foi, e continuará sendo uma grande inspiração
e referência pra gente.
Loks:
Acho
que isso ocorre por esses fatores que você acabou de citar. Mas isso pra nós é
uma honra, não nos incomoda e aliás nos incentiva, pois sabemos nos colocar no
nosso lugar na hierarquia natural das coisas.
E pra gente a
inspiração que Dr. Sin, Rush, e tantas outras bandas têm na nossa carreira só
soma e contribui para melhorar a cada dia.
NHZ:
Falando nas músicas, o que chama a atenção são os vocais de Marcelo
Frizzo, que possui como referências grupos como Journey, Tyketto e um pouco de
Queensryche com um instrumental que mescla hard, AOR e um pouco de prog. O que
pensam sobre essa definição?
Marcelo: Ouvi outras comparações
também: Fish, Phil Collins... enquanto
estão comparando com caras dessa qualidade, tudo bem (risos).
Em se falando de música, você está ‘começando
todo dia’, e é sempre possível melhorar, cada vez mais.
Jaéder: Sim, a versatilidade vocal do Marcelo é nosso grande
diferencial. É o fator que nos proporciona total liberdade para explorar as
mais variadas influências e tendências.
Loks:
Na
verdade a banda está criando uma personalidade (sonoridade) própria. É algo que
surge naturalmente, creio que pelas influências de cada um que são colocadas
inconscientemente nas composições. O resultado nos agrada e a definição de
estilo acho que seria um prog hard. Existe isso (risos)?
The Game of Fate Divulgação |
NHZ:
A primeira de trabalho de The Game of Fate é Healing No More, dona de uma
atmosfera AOR e um ótimo refrão, além de ganhar um videoclipe. Como foi a
escolha e o que estão achando da repercussão da música?
Marcelo:
Na
verdade tínhamos escolhido outra música pra fazer o primeiro clipe deste álbum.
Mas graças ao “auxílio luxuoso” e “feeling” do nosso amigo e assessor Luciano
Piantonni, chegamos à conclusão de que a música seria a ideal pra um clipe
exatamente por conta do refrão marcante. Percebemos nos shows que o público
está cantando junto e isso é super gratificante!
Jaéder: A escolha foi embasada no potencial radiofônico que
a música nos sugeriu desde o princípio e a repercussão tem sido excelente,
estamos felicíssimos.
No opening act que fizemos para o
Uriah Heep em SP, pudemos notar pessoas batendo cabeça e cantando junto o
refrão.
Loks: Achamos
essa musica mais abrangente para um clipe. Como
você mesmo disse, ela tem uma identidade genuinamente hard rock, o que
pode agradar vários gostos e idades.
NHZ:
Apesar da predominância hard/AOR, vocês buscam fugir da linha comum do que
discos do estilo oferecem. Time Allowed lembra um pouco o Queensryche da fase
Operation Mindcrime e o começo de I Wanna Choose lembra bandas como o
Audioslave. Como é trazer elementos diferentes para a música do Pop Javali e ao
mesmo tempo manter a identidade musical?
Marcelo:
Há
uma dicotomia entre “diversidade x identidade musical” que precisa ser tratada
com cuidado. É bom pra todos, banda e ouvintes, que as músicas não sejam todas
“parecidas demais” entre si.
Porém, é igualmente
positivo que se identifique a proposta musical do artista. Por isso mantemos o
mesmo padrão sonoro dos instrumentos e das vozes, pra que soe como
característicos de um power trio. Já sugeriram de colocar teclado em algumas músicas
... só que não (risos).
Jaéder: O ideal é tentar mesclar composições que sigam em
diferentes direções, mas que mantenham um elo entre si. É o que acredito que
conseguimos, de forma mais acentuada, nesse novo cd, pelo menos tentamos
(risos). Quanto a “I Wanna Choose”, ela também me remete ao DT em alguns
momentos, especialmente a intro.
Pop Javali Divulgação |
NHZ:
Com um ótimo disco na praça a banda tem feito algumas apresentações na capital
e interior. Destaco o pocket show feito no Espaço Som, Virada Cultural de
Americana e a abertura para o Uriah Heep. Qual a importância de cada um desses
eventos na propagação do nome da banda?
Marcelo:
Todos
são importantíssimos e cada um tem uma característica própria. O pocket no
Espaço Som, foi mais voltado para os amigos da imprensa terem um primeiro
contato com o repertório do novo cd. A
Virada Cultural é algo ótimo de se fazer porque a predominância em tais eventos
é de outros estilos musicais; pra nós poder tocar hard rock num evento cultural
promovido por órgãos públicos é uma grande conquista de espaço. Por fim, a
abertura do show de uma banda internacional é sempre uma experiência muito
legal porque você acaba tendo contato com um público grande e que, na maioria
das vezes, ainda não conhece a Pop Javali. Felizmente, nas aberturas internacionais que fizemos (Deep
Purple em 2011; Ugly Kid Joe em 2012 e
Uriah Hee´p em 2014) sentimos uma
resposta altamente positiva do público e conquistamos novos fãs!
Jaéder: Todos eles são importantes, cada um da sua forma. A
Virada Cultural, por ser um evento gratuito, possibilita divulgar a banda para
um público mais heterogêneo. O Uriah Heep foi sensacional pela grandeza do
evento em si, soma muito pro nosso currículo e bagagem, e os pocket shows
também são muito legais, pois nossas músicas combinam muito bem para eventos
mais intimistas.
Loks: A melhor parte de tudo isso é estar
conquistando um espaço no mercado através de nosso próprio esforço e,
principalmente, fazendo novos amigos assim como você (e muitos outros que
conhecemos nesses shows). Esperamos expandir cada vez mais nossos laços com
novos fãs e amigos.
Marcelo Frizzo João Messias Jr. |
Marcelo:
A
sensação de missão cumprida! São mais de 30 anos de dedicação e estudo musical,
investimento e envolvimento de todo tipo, pedras no caminho e “sapos” pra
engolir...
Então, olhar para trás
e ver que há evolução nos incentiva e nos alimenta de energia pra continuarmos
com a mesma pegada de sempre! Fazer
música, seja em estúdio, seja nos palcos, é nosso maior prazer. E não pretendemos
parar tão cedo (risos).
Jaéder: Sempre acreditei que a soma do trabalho individual
de cada um poderia ter um resultado interessante. Quanto ao nosso crescimento,
acredito que vem do fato de sermos muito amigos, gostamos muito uns dos outros,
somos uma grande família e isso ajuda demais.
Loks: Na verdade acho que todo mundo que
começa uma banda, tem como primeiro objetivo
curtir e fazer algo que gosta. Com o tempo a gente amadurece e pensa: “é isso que eu
quero fazer da minha vida” . E temos a nosso favor o fato de ter três cabeças
que buscam o mesmo objetivo (que é muito raro).
Aí as dificuldades e
obstáculos passam a ser desafios. Em nossa trajetória sempre sonhamos em fazer
um trabalho de qualidade, e o tempo nos deu essa possibilidade. Sempre corremos
atrás, apesar de todas as dificuldades que envolvem esse processo.
Estamos encarando o
momento atual como mais uma fase de nossa carreira a ser percorrida naturalmente
- e estamos prontos pra mais esse desafio!
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