Quem somos nós para discordar desta frase dita por Christian Passos. Um sujeito calmo, sereno e que ficou conhecido nacional e internacionalmente por meio da banda Wizards. Numa trajetória que contou com seis álbuns, uma coletânea, além de vários shows e sucesso por Europa e Japão.
Em sua primeira visita ao ABC paulista, o músico se apresentou na agradável noite de 7 de novembro de 2015 no Bar Retrô Old Is Cool, em Santo André levando covers do hard e pop, além de músicas do grupo, como Promisse of Love e Thunderbolt.
Nesta oportunidade, Christian conversou com o New Horizons Zine, falando da cena nacional, da trajetória do grupo e algumas situações não muito confortáveis do passado.
Com vocês, Christian Passos:
Por João Messias Jr.
Christian Passos Divulgação |
Christian Passos: Ah, certeza!
Acho que hoje a internet faz a banda. Tem muita banda que hoje faz sucesso sem
gravadora, sem rádio, só pela internet. Se tivesse a internet na época a gente
ia abranger muito mais gente. Se o Wizards voltar algum dia a gente vai colocar
tudo em quanto é canal digital, pois é o que vai vingar a partir de agora.
NHZ: Até porque o material físico
alguns compram.
Christian: O público do heavy
metal compra. Porque quer ter o disco, ver as letras, ver a capa. O público do metal é um dos que mais compram.
NHZ: Na época do Sound of Life, que
saiu aqui em 1996 via Roadrunner Brasil, vocês contavam com o mesmo empresariamento do
Angra. Na sua opinião, porque você acha que a banda não decolou, visto que na
época o metal melódico era um nicho forte, com bandas como o Stratovárius vindo
pra cá, o pessoal estava redescobrindo o estilo mais neoclássico. O que
aconteceu para o Wizards não decolar?
Christian: A gente começou junto
com o Angra. Aliás, nossa banda é mais antiga que o Angra. A gente tinha o
mesmo empresário, o dono da Rock Brigade (N.do R. – Antônio Pirani). Como
tínhamos o mesmo empresário, ele preferiu priorizar o Angra e meio que esconder
a gente até onde conseguiu. Ai, por outros métodos, consegui arrumar outra
empresária e aí conseguimos o contrato com a JVC do Japão. Mas o mercado
daquela época era do Angra, era basicamente Angra. Na Rock Brigade só se via
Angra e o Wizards era como se fosse um concorrente pra eles. O Angra não tem
culpa, quem teve culpa foi o empresário.
NHZ: A forma como a coisa foi
organizada.
Christian: Exatamente. Mas isso faz muito
tempo já, passou.
NHZ: No álbum Sound of Life, vocês
flertaram com o hard rock e até músicas como Reach Out tocaram nas rádios da
época. Analisando esse disco hoje e com o interesse das pessoas nesse estilo,
pensam em fazer um relançamento dele e dos outros discos?
Christian: Acho que sim. Se a
gente voltar com a banda, que é o que estou pretendendo e lançarmos disco novo,
com certeza a gente vai ser obrigado a relançar tudo. Você não encontra mais CD
do Wizards por aí. É muito raro, e quando encotra você acha a preços absurdos.
Christian Passos Divulgação |
Christian: A gente fez uma
história bonita! Foram seis CDs, uma coletânea, muitos shows, a gente fez bastante
sucesso em rádio, TV, Europa, Japão. Infelizmente a gente não conseguiu
prosseguir a banda por “N” motivos. Mas só da gente toda hora ser interpelado,
perguntado, tem muitos fãs que falam com a gente que gostam da banda. Só isso
já basta. Foi uma história que mesmo se não voltar já está marcada pra sempre.
NHZ: Essa volta é algo concreto ou
apenas rumores?
Christian Passos: Não chega a ser
concreta. Estou conversando com os membros originais da banda. Eu gostaria de
voltar para uma comemoração, pois a banda vai fazer 25 anos em 2017. Então, de
repente em 2016 preparar um CD novo e no
ano seguinte voltar, pois esse número é um número legal, um número cheio. Estou
lançando para o pessoal. Eu gostaria que fosse a formação original. Se eu não
conseguir, vou pensar se eu trago outros membros que já tocaram com a gente.
Senão, penso em fazer algo novo, que não seja Wizards, mas que tenha a minha
pegada.
NHZ: Lembro que na época você montou
um projeto em português e uma banda mais agressiva chamada Visceral. O que
esses trabalhos representaram pra você naquele momento e pensa em retomá-los
hoje?
Christian: Eu tenho um trabalho
muito forte em português, muito maior que em inglês. Eu tenho mais músicas em
português do que em inglês. Depois que o Wizards parou, trabalhei com algumas
bandas, fiz muita coisa que acabou não alcançando mídia, mas aconteceram em
pequena escala. Eu tenho muita vontade de regravar materiais em português com
certeza.
NHZ: Agora vamos falar um pouquinho da
cena do metal nacional. Temos banda pra caralho e internet pra ajudar. Mas para
aparecer em grandes publicações, só aparece quem tem assessoria de imprensa ou
que tenham um grande produtor. Hoje você consegue fazer as coisas apenas tocando
na raça?
Christian: Não. Ou você tem
realmente uma assessoria, um fã clube ativo, ou uma banda que todos os
integrantes vistam a camisa. Além do talento, tem de ter uma grana legal para
investir em videoclipe, internet, no próprio show. A coisa ficou muito
profissional. Ou você tem uma estrutura legal ou faz apenas por amor. Muita
gente hoje em dia trabalha em outra coisa e faz a banda por amor, por hobby.
Christian Passos Laura Lessa |
Christian: Não tem como mesmo. Na
minha época de Wizards era difícil e hoje em dia pelo que vejo, está muito mais.
Houve uma renovação de público. O pessoal do heavy metal não parece muito
unido, pelo menos as bandas e empresários. Parece que tem muita rixa um com o
outro. O público quer escutar o máximo
possível. Precisava ter uma união mais forte entre bandas e empresários, como
acontece em outros segmentos como o sertanejo e o samba. O pessoal se une
bastante pra fazer o movimento acontecer, como deve ser feito com o heavy
metal.
NHZ: Em 2011, vocês tocaram no Carioca Club que
teve bandas como Hangar e Almah. Teve muito bololô na internet, todo mundo
agitando e teve cerca de 300 pessoas (N.do R.: A casa tem capacidade para
1500). A médio prazo, você pensa que isso pode melhorar?
Christian: Tem de melhorar. Não
podemos deixar o heavy metal enfraquecer
tanto. Tem de surgir algumas coisas novas em termos musicais, acho que tem
muita coisa saturada que poderia ser renovada, mas sem perder a pegada do heavy
metal. Acho que tá muito a mesma coisa, muito dois bumbos, muita técnica, muito
agudo. É legal, mas é cansativo. Acho que na minha opinião precisa voltar mais
para o clássico.
Hoje em dia inclusive eu mudei o
meu jeito de cantar. Antes eu cantava muito agudo, com falsete. Eu não canto
tanto mais agudo, mas uso uma voz mais forte, mais clássica. Acho que isso está
faltando um pouco para o heavy metal: uma reciclagem e ao mesmo tempo uma volta
ao clássico. Seria uma boa pra gente voltar a crescer.
NHZ: Deixe uma mensagem aos leitores
dessa publicação.
Christian: Fazia muito tempo que
eu não cantava Wizards e não tinha de novo contato com os fãs. Claro que foi a
primeira vez e a gente ta meio que tomando alguns tombos, mas tá muito legal.
Hoje foi uma noite muito boa e acho que vou querer fazer mais e vamos ver o que
acontece!
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