2 de março de 2016

"NÃO EXISTE NADA MAIS IMPACTANTE AO PÚBLICO DE UM ARTISTA DO QUE ASSISTIR UM SHOW AO VIVO"

A frase escolhida acima é trecho da entrevista com o guitarrista da banda Primator, Márcio Dassié, que descreve com exatidão o que é ser um headbanger de verdade, aquele que vai a shows e prestigia suas bandas favoritas ao vivo. Algo que se torna cada vez mais raro graças aos 'web bangers', que se contentam em baixar álbuns e ver shows no Youtube.

Pode parecer inofensivo, mas é algo que vai matando aos poucos uma cena que vai se combalindo cada vez mais com o tempo. Porém, ainda existem bandas que vão na contramão e continuam a trilhar o caminho que deve ser trilhado.

Além da cena, o músico comenta sobre a repercussão do álbum Involution, dono de uma belíssima capa, além dos novos tipos de iniciativas para que as bandas continuem por aí!

Por João Messias Jr.

Involution
Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Em 2015 a banda lançou seu primeiro trabalho, chamado Involution. O que estão achando da repercussão do mesmo?
Márcio Dassié: Nosso debut tem sido muito bem recebido pelos fãs de heavy metal e pela mídia especializada. É recompensador receber elogios e descobrir as impressões do ouvinte sobre as músicas. Por ser um primeiro álbum, a repercussão tem sido fantástica.

NHZ: O álbum chama a atenção logo de cara pela belíssima capa, desenvolvida pelo vocalista Rodrigo Sinopoli. Conte-nos como foi o processo de criação da mesma.
Márcio: O Rodrigo é um excelente artista! No processo de criação ele se inspirou na clássica representação horizontal da escala evolutiva do macaco se transformando no homem moderno. Mas ele “verticalizou” e deturpou a ideia de que o ser humano é o produto final, o topo da escala evolutiva, colocando quem observa como se estivesse dentro desta escala, vendo que nossa espécie talvez não tenha evoluído. Por exemplo, atualmente boa parte das interações humanas físicas são substituídas por “virtuais” pelas últimas gerações criadas sob a égide da tecnologia. Sinceramente não sei até onde isso é benéfico e se representa uma evolução ou involução de nossa espécie.

NHZ: Ainda falando da arte, ela ficaria muito bonita no formato de vinil. Está nos planos da banda lançar Involution no formato de LP?
Márcio: Infelizmente neste momento não existe nenhum plano de lançamento do Involution em vinil, pois a banda ainda é independente e teria de arcar com os custos, mas realmente a arte ficaria belíssima no vinil.

NHZ: Pouco tempo após o lançamento do CD, a banda sofreu uma mudança no posto de baterista. Hoje a banda tem como dono das baquetas Lucas Assunção. Como chegaram ao músico e como foi sua adaptação ao som do Primator?
Márcio: Conhecemos o Lucas em uma oportunidade que tocamos ainda com o antigo baterista. Após sua saída, um amigo em comum, o Felipe, disse a ele que estávamos procurando baterista e após o teste ele entrou na banda. A adaptação ao som da banda foi relativamente fácil, visto que o Lucas é um exímio baterista, mas tivemos semanas de aperfeiçoamento e dilapidação até o primeiro show, onde lançamos o álbum e dividimos palco com o grande Dark Avenger de Brasília.

NHZ: As perguntas a seguir têm como tema o estilo adotado pelo grupo e as canções do trabalho. A banda aposta num metal tradicional a lá Maiden/Priest, com algumas inserções ao thrash da BayArea e vocais agudos. Como foi desenvolver essa alquimia musical de forma homogênea?
Márcio: Na verdade o Primator é a soma das diferentes influências dos seus integrantes com ampla liberdade de composição, ou seja, não somos presos a estilos e rótulos. Essas características que você citou, heavy metal tradicional com pitadas de thrash metal, realmente são marca registrada da banda e quem ouve sabe que está ouvindo Primator. A homogeneidade da mistura musical foi desenvolvida ao longo do tempo da banda, os anos de estudo, ensaios, jams e competência dos músicos.

Primator
Divulgação
NHZ: Essa mistura gerou faixas que transitam entre momentos trabalhados e agressivos. Alguns exemplos ficam por conta de Black Tormentor e Face of Death, Deadland e Flames of Hades. Queria que contassem sobre o processo de criação dessas canções.
Márcio: A composição geralmente parte de uma melodia vocal e/ou letra do Rodrigo Sinopoli, eu crio os riffs e bases e dilapidamos a música com a banda toda até o arranjo final. Falando de cada música citada, a composição da “Black Tormentor” foi um tormento (risos)! Creio que compus três músicas totalmente diferentes até compor a quarta versão final que foi para o álbum com belas dobras de guitarra. “Face The Death” foi composta até com certa facilidade e ficou pronta de forma rápida. O riff principal é uma mescla de um riff que eu havia criado com outro criado pelo parceiro de banda, o guitarrista Diego Lima. “Deadland” foi umas das primeiras músicas compostas. Utilizei uma escala árabe para criar o riff principal, não tão usual no metal e rock em geral. Por fim, “Flames of Hades” também teve outras versões antes da definitiva gravada no Involution. Aqui cabe ressaltar as passagens e harmonizações feitas no pré-refrão que eu particularmente gosto bastante.

NHZ: A banda criou no álbum um balanço interessante com as baladas “Caroline” e “Let Me Live Again”. Qual a importância de ter músicas mais lentas no repertório?
Márcio: Na realidade, penso sempre na importância de compor músicas que digam e representem algo para quem as escuta. Neste sentido, a variação de músicas lentas ou mais rápidas ilustram ideias e sensações diferentes aos ouvintes, o que creio ser bastante interessante.

NHZ: Recentemente se apresentaram ao lado do Fates Prophecy na capital paulista. Num cenário combalido por causa do baixo público em concertos voltados a música autoral, qual a importância do show como promoção do trabalho?
Márcio: Uma excelente pergunta. Até pode-se pensar que compensa mais uma banda investir em promoção digital do que tocar para um público de menos de 100 pessoas, que a promoção digital alcança milhares de pessoas, etc... De verdade, penso que não existe nada mais impactante ao público de um artista do que assistir um show ao vivo. Nenhum vídeo, resenha ou fotografia, por mais precisa que seja, conseguiria estampar com tamanha perfeição as sensações que somente a presença in loco no show pode proporcionar. Além disso, grandes bandas devem tocar ao vivo e mostrar ao que vieram, pois isso fideliza o fã. Ainda que poucos fãs sejam fidelizados, eles serão fãs verdadeiros e não somente aqueles “de facebook”.

NHZ: Mudando um pouco de assunto, hoje estamos vivendo uma espécie de contracultura na música mais underground. Com as verbas dos editais de cultura destinados a artistas consagrados e grupos cover, o crowdfunding vem sendo uma ferramenta cada vez mais utilizada pelos grupos para lançarem seus álbuns. Exemplos mais recentes ficam por conta do Bruno Sutter, Ponto Nulo No Céu e até bandas como Obituary e Raven. Podemos dizer que a música está voltando para as pessoas que realmente apoiam o movimento?
Márcio: Estes tipos de iniciativa tal qual crownfunding mostram realmente que é o fã que comparece nos shows de metal e apoia a cena e realmente ajudam bastante. Entretanto, infelizmente em que pese a música “volte” a quem realmente apoia o movimento, creio que ela também se circunscreve a somente a estes indivíduos, o que é lastimável, tendo em vista os inúmeros headbangers que comparecem aos shows internacionais realizados aqui no Brasil.

NHZ: Como estamos iniciando um novo ano, conte-nos os planos da banda para 2016 e o que podemos esperar de vocês a curto e médio prazo.
Márcio - A curto prazo 2016 é o ano de composição do segundo álbum, com gravação de videoclipe do primeiro single, To Mars, música composta por Mário Linhares, vocalista do Dark Avenger que também produzirá o álbum. A médio prazo faremos uma provável tour pela Europa ou Estados Unidos para divulgação do segundo álbum.  

NHZ: Obrigado pela entrevista. O espaço é de vocês!
Márcio: Agradeço pela entrevista e parabéns pelo teor e conteúdo das perguntas. Espero que todos recebam do “Involution” a mensagem que pretendemos passar e busquem por coisas novas, apoiem a cena local e nacional e compareçam aos shows, pois só assim conseguiremos garantir o futuro do heavy metal no Brasil. Mais uma vez, agradeço a todos os que nos incentivam e nos querem bem. Tenham a certeza de que ainda ouvirão falar muito do Primator! Grande abraço à todos.

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