A frase escolhida acima é trecho da entrevista com o guitarrista da banda Primator, Márcio Dassié, que descreve com exatidão o que é ser um headbanger de verdade, aquele que vai a shows e prestigia suas bandas favoritas ao vivo. Algo que se torna cada vez mais raro graças aos 'web bangers', que se contentam em baixar álbuns e ver shows no Youtube.
Pode parecer inofensivo, mas é algo que vai matando aos poucos uma cena que vai se combalindo cada vez mais com o tempo. Porém, ainda existem bandas que vão na contramão e continuam a trilhar o caminho que deve ser trilhado.
Além da cena, o músico comenta sobre a repercussão do álbum Involution, dono de uma belíssima capa, além dos novos tipos de iniciativas para que as bandas continuem por aí!
Por João Messias Jr.
Involution Divulgação |
Márcio Dassié: Nosso debut tem sido muito bem recebido pelos
fãs de heavy metal e
pela mídia especializada. É recompensador receber elogios e descobrir as
impressões do ouvinte sobre as músicas. Por ser um primeiro álbum, a
repercussão tem sido fantástica.
NHZ: O álbum chama a atenção logo de cara pela belíssima capa,
desenvolvida pelo vocalista Rodrigo Sinopoli. Conte-nos como foi o processo de
criação da mesma.
Márcio: O Rodrigo é um excelente artista! No processo de criação ele
se inspirou na clássica representação horizontal da escala evolutiva do macaco
se transformando no homem moderno. Mas ele “verticalizou” e deturpou a ideia de
que o ser humano é o produto
final , o topo da escala evolutiva, colocando quem observa
como se estivesse dentro desta escala, vendo que nossa espécie talvez não tenha
evoluído. Por exemplo, atualmente boa parte das interações humanas físicas são
substituídas por “virtuais” pelas últimas gerações criadas sob a égide da
tecnologia. Sinceramente não sei até onde isso é benéfico e se representa uma
evolução ou involução de nossa espécie.
NHZ: Ainda falando da arte, ela ficaria muito bonita no formato de
vinil. Está nos planos da banda lançar Involution
no formato de LP?
Márcio: Infelizmente neste momento não
existe nenhum plano de lançamento do Involution
em vinil, pois
a banda ainda é
independente e teria de arcar com os custos,
mas realmente a arte
ficaria belíssima no vinil.
NHZ: Pouco tempo após o lançamento do CD, a banda sofreu uma mudança no
posto de baterista.
Hoje a banda
tem como dono das baquetas Lucas Assunção. Como chegaram ao
músico e como foi sua adaptação ao som do Primator?
Márcio: Conhecemos o Lucas em uma oportunidade
que tocamos ainda com o antigo baterista. Após sua saída, um amigo em comum, o
Felipe, disse a ele que estávamos procurando baterista e após o
teste ele entrou na banda. A adaptação ao som da banda foi relativamente fácil,
visto que o Lucas é
um exímio baterista, mas tivemos semanas de aperfeiçoamento e
dilapidação até o primeiro show, onde lançamos o álbum e
dividimos palco com o
grande Dark Avenger de Brasília.
NHZ: As perguntas a seguir têm como tema o estilo adotado pelo grupo e
as canções do trabalho. A banda aposta num metal tradicional a lá
Maiden/Priest, com algumas inserções ao thrash da BayArea e vocais agudos. Como
foi desenvolver essa alquimia musical de forma homogênea?
Márcio: Na verdade o Primator é a soma das
diferentes influências dos seus integrantes com ampla liberdade de composição,
ou seja, não somos presos a estilos e rótulos. Essas características que você
citou, heavy
metal tradicional com pitadas de thrash metal,
realmente são marca registrada da banda e quem ouve sabe que está ouvindo Primator. A
homogeneidade da mistura musical foi desenvolvida ao longo do tempo da banda,
os anos de estudo, ensaios, jams e competência dos músicos.
Primator Divulgação |
Márcio: A composição geralmente parte de
uma melodia vocal e/ou letra do Rodrigo Sinopoli, eu crio os riffs e bases e dilapidamos a música com a banda toda até
o arranjo final. Falando de cada música citada, a composição da “Black Tormentor ” foi um
tormento (risos)! Creio que compus três músicas totalmente diferentes até
compor a quarta versão final que foi para o álbum com belas dobras de guitarra.
“Face The Death” foi composta até com certa facilidade e ficou pronta de forma rápida.
O riff principal é uma mescla de um riff que eu havia criado com outro
criado pelo parceiro de banda, o guitarrista Diego Lima. “Deadland” foi umas
das primeiras músicas compostas. Utilizei uma escala árabe para criar o riff principal, não tão usual no metal e rock em geral.
Por fim, “Flames of Hades” também teve outras versões antes da definitiva
gravada no Involution. Aqui cabe
ressaltar as passagens e harmonizações feitas no pré-refrão que eu
particularmente gosto bastante.
NHZ: A banda criou no álbum um balanço interessante com as baladas “Caroline”
e “Let Me Live Again”. Qual a importância de ter músicas mais lentas no
repertório?
Márcio: Na realidade , penso sempre na importância de compor músicas que
digam e representem algo para quem as escuta. Neste sentido, a variação de
músicas lentas ou mais rápidas ilustram ideias e sensações diferentes aos
ouvintes, o que creio ser bastante interessante.
NHZ: Recentemente se apresentaram ao lado do Fates Prophecy na capital
paulista. Num cenário combalido por causa do baixo público em concertos
voltados a música autoral, qual a importância do show como promoção do
trabalho?
Márcio: Uma excelente pergunta. Até
pode-se pensar que compensa mais uma banda investir em promoção digital do que
tocar para um público de menos de 100 pessoas, que a promoção digital alcança
milhares de pessoas, etc... De verdade, penso que não existe nada mais
impactante ao público de um artista do que assistir um show ao vivo. Nenhum
vídeo, resenha ou fotografia, por mais precisa que seja, conseguiria estampar
com tamanha perfeição as sensações que somente a presença in loco no show pode proporcionar. Além disso, grandes bandas devem
tocar ao vivo e mostrar
ao que vieram, pois isso fideliza o fã. Ainda que poucos fãs
sejam fidelizados, eles serão fãs verdadeiros e não somente aqueles “de facebook”.
NHZ: Mudando um pouco de assunto, hoje estamos vivendo uma espécie de
contracultura na música mais underground. Com as verbas dos editais
de cultura destinados a artistas consagrados e grupos cover, o crowdfunding vem
sendo uma ferramenta cada vez mais utilizada pelos grupos para lançarem seus
álbuns. Exemplos mais recentes ficam por conta do Bruno Sutter, Ponto Nulo No
Céu e até bandas como Obituary e Raven. Podemos dizer que a música está voltando
para as pessoas que realmente apoiam o movimento?
Márcio: Estes tipos de iniciativa tal
qual crownfunding mostram realmente
que é o fã que comparece nos shows de metal e apoia a cena e realmente ajudam
bastante. Entretanto, infelizmente em que pese a música “volte” a quem
realmente apoia o movimento, creio que ela também se circunscreve a somente a
estes indivíduos, o que é lastimável, tendo em vista os inúmeros headbangers que comparecem aos shows
internacionais realizados aqui no Brasil.
NHZ: Como estamos iniciando um novo ano, conte-nos os planos da banda
para 2016 e o que podemos esperar de vocês a curto e médio prazo.
Márcio - A curto prazo 2016 é o ano de
composição do segundo álbum, com gravação de videoclipe do primeiro single, To Mars, música composta por Mário
Linhares, vocalista do Dark Avenger que também produzirá o álbum. A médio prazo
faremos uma provável tour pela Europa ou Estados Unidos para divulgação do segundo
álbum.
Márcio: Agradeço pela entrevista e
parabéns pelo teor e conteúdo das perguntas. Espero que todos recebam do
“Involution” a mensagem que pretendemos passar e busquem por coisas novas,
apoiem a cena local e
nacional e
compareçam aos shows, pois só assim conseguiremos garantir o futuro do heavy metal no Brasil.
Mais uma vez, agradeço a todos
os que nos incentivam e nos querem bem. Tenham a certeza de que ainda ouvirão
falar muito do Primator! Grande abraço à todos.
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