Verdade que a luta de uma banda autoral para conquistar um lugar na cena underground por muitas vezes é difícil e até injusta. Apesar de não existir uma fórmula ou regra para se dar bem, um caminho pode ser a busca pelo valor artístico ao invés do entretenimento, solução buscada pelo MaestricK. Com doze anos de estrada e atualmente formado por Fabio Caldeira (vocal e piano), Renato Montanha (baixo e vocal) e Heitor Matos (bateria e percussão) vem fazendo sua parte com sua música, que apesar do alto nível de elaboração, chega simples aos nossos ouvidos, tamanha a capacidade de cativar o fã de boa música.
Com um álbum na bagagem, Unpuzzle e o recém lançado EP The Trick Side of Some Songs, que contém versões para clássicos de grupos como Jethro Tull, Yes, Beatles, entre outros.
Nessa entrevista com o grupo, o trio comentou sobre o primeiro álbum, o recente lançamento, além dos preparativos para o segundo álbum de inéditas!
Por João Messias Jr.
NEW HORIZONS ZINE: Como é a
primeira entrevista que faço com vocês, vou começar perguntando coisas do
passado até chegar no estágio atual do grupo. O primeiro álbum de vocês, "Unpuzzle!", lançado em 2011 foi muito bem comentado em diversos portais e revistas
especializadas do Brasil
e exterior. Após cinco anos de seu lançamento, o que pensam
deste trabalho?
Com um álbum na bagagem, Unpuzzle e o recém lançado EP The Trick Side of Some Songs, que contém versões para clássicos de grupos como Jethro Tull, Yes, Beatles, entre outros.
Nessa entrevista com o grupo, o trio comentou sobre o primeiro álbum, o recente lançamento, além dos preparativos para o segundo álbum de inéditas!
Por João Messias Jr.
Unpuzzle! Divulgação |
Fabio Caldeira:
Tenho muita gratidão por tudo o que o “Unpuzzle!” representou e representa para
nós. Foi nossa “prova de fogo”, e tudo ocorreu da melhor forma possível. O termo
“álbum” não é usado por acaso. As músicas que estão ali, são como fotos, representam
todo um contexto do momento que vivíamos. Não só a banda, mas de todos os envolvidos.
Heitor
Matos: Eu sempre me refiro as músicas que a gente faz como se
fossem nossos filhos. E assim, como um filho, o disco hoje cresceu e me dá
muito orgulho de ter participado dessa criação com meus irmãos (Fabio e Montanha ).
Adoro o resultado do disco, foi totalmente honesto, do começo ao fim.
Renato
Montanha: Eu tenho muito orgulho deste álbum, pois foi meu
primeiro trabalho de gravação de um disco completo. Já tinha gravado
"eps" e cds demos, mas não um álbum completo, e pude começar o
aprendizado de como gravar e dar vida a um álbum. Outro ponto da importância do
“Unpuzzle!” foi o fato de poder mostrar da forma como queríamos a nossa
linguagem musical e conceitual do Maestrick para uma gama maior de pessoas.
NHZ: Além das músicas, o
conceito em torno do CD é um pouco diferente do que era explorado por aqui.
Vocês usaram como tema uma exposição de artes em um museu. Queria que contassem
o porquê de usarem esse tema.
Fabio:
Nós acreditamos que cada pessoa é um universo distinto, então partindo daí, se
respeitar o que é natural e espontâneo pra você, com certeza terá algo
diferente a dizer. O conceito do disco foi uma consequencia então, tanto do que
tínhamos a dizer, quanto da forma como queríamos dizer.
Heitor:
Esse tema foi surgindo... Antes tínhamos a ideia de fazer o disco baseado num
personagem que fazia um tratamento de choque, mas aí foi rolando e o Fábio na
época veio com umas ideias "loucas" (no melhor sentido). A gente foi
deixando ele viajar sobre a história, sempre ouvindo e ajudando, como sempre
fizemos e sempre faremos.
Montanha:
Nós sempre gostamos de
trabalhar com uma temática e quando o Fabio nos mostrou a ideia
de um mundo fantasioso com personagens de tinta que ganhavam vida dentre outras
coisas, percebemos que poderíamos ter uma liberdade criativa maior pra pensar
fora do comum e tentar misturar estilos, cores e texturas nas composições.
NHZ: Achei muito
interessante a forma como definem sua música: Aquarela Sonora. Ouvindo
Unpuzzle, é possível “enxergar” muitas cores, texturas e variações por todas as
canções do trabalho. Exemplos ficam por conta de Aquarela e dos 21
minutos de Lake of Emotions. Como juntar momentos calmos, intensos e
instigantes numa única canção e ainda dar liga a todos esses momentos?
Heitor:
Acho que esse lance de como juntar os momentos é algo pra se pensar como se
fosse a nossa vida. Quando você está
confortável com aquilo que está fazendo, as coisas fluem como se fossem os
sentimentos que passam por nossas mentes na vida real. É claro que, quando temos um
norte pra seguir, fica muito mais fácil. Acho que as energias fluem naturalmente
pra que as sensações que estamos sentindo transpareçam na musicalidade da
banda.
Montanha:
Quando se trabalha fora do padrão no qual a musica não precisa seguir uma
fórmula pré-definida, ganha-se a possibilidade de se inspirar com a
temática possibilitando visualizar
cores, sentimentos e texturas. A partir deste ponto, podemos construir uma
historia contada pelas letras, melodias e nuances da música como se, por
exemplo, estivéssemos contando um acontecimento feliz para alguém e esse
ouvinte pudesse fechar os olhos e ter a imagem do locutor com um sorriso no
rosto, mostrando a alegria e agitação na sua fala.
NHZ: Isso acaba linkando
com uma questão interessante. Muitas pessoas não atualizam seus conhecimentos
pela TV ou internet. Mas sim buscando referências ao passado por meio de
trabalhos conceituais.
Fabio:
Essa é a prova de que as melhores obras são atemporais. Se você ler, por
exemplo, A Divina Comédia de Dante Alighieri, que é uma obra do século XIV, vai
ver que ainda é atual. Traga isso para a música, pra nossa época e vai ver que
muita coisa feita hoje é descartável, superficial. Não é uma crítica, mas um
fato. Vivemos na era da “superinformação”, temos muitas notícias , acesso
fácil a qualquer assunto, mas ao mesmo tempo pouco aprendizado, poucas lições e
alienação generalizada.
Montanha:
Isso acontece mesmo, ouvindo bandas mais atuais podemos ver as grandes
influências de grupos do passado e só mostra o quanto precisamos conhecer o
passado musical das
bandas que ouvimos e estudar o que as bandas novas acrescentaram
nas suas composições.
The Trick Side of Some Songs Divulgação |
Fabio: O
Maestrick sempre busca unir mais de um universo artístico em seus projetos,
então é natural que isso acabe levando mais tempo.
Heitor: Eu
considero o Maestrick como uma criança ainda, estamos conhecendo o mundo e entendendo do que
somos capazes. O hiato foi uma coisa natural, mostramos pro mundo nosso
primeiro trabalho e acabaram acontecendo turbulências como todo começo,
pensamentos diferentes... É como um relacionamento com cinco pessoas, tem seus
conflitos de ideias, objetivos diferentes, etc. Além disso, acho que posso
falar pelos caras também: Não acho que as bandas tenham que lançar disco a cada
dois anos, nós achamos que tem que vir de dentro, o Maestrick nasceu assim e
pretendemos mantê-lo assim. E por outro lado, temos dois discos praticamente
feitos de uma só vez!
Montanha:
Nós lançamos um material que demandava um tempo maior para mostrar os nossos
conceitos musicais e
ocasionou de usarmos mais de um ano para fazer as pré-produções
do segundo disco. O EP foi um gesto para mostrar a quem nos acompanha que não
estávamos parados.
NHZ: De onde surgiu a ideia
de lançarem um EP de covers?
Fabio:
Nós precisávamos de uma linha divisória entre o projeto do “Unpuzzle!” e do próximo
disco, “Espresso Della Vita”, que será lançado ainda esse ano. Aí a ideia de
gravar esses covers e fazer essa homenagem. O Maestrick sempre preza por
músicas autorais, mas era o momento de “relaxarmos” um pouco pra começar algo
novo. Além de poder trazer os fãs dessas bandas, como nós, ao universo do
Maestrick.
Heitor: É também
uma homenagem aos vovôs do
Rock e Prog que tivemos influência direta e indireta, então
pensamos, porque não fazer?
Montanha:
Surgiu ainda da ideia de podermos mostrar algumas influências da banda e mostrar a
nossa interpretação de alguns artistas que nos influenciaram.
NHZ: Esse trabalho conta
com versões de ícones do Classic
Rock como Beatles, Yes, Pink Floyd, Queen, Rainbow e Jethro
Tull. Como foi chegar nesse repertório e se houve alguma coisa que ficou de fora e pretendem
lançar no futuro?
Fabio:
Certamente nós vamos fazer outros EPs como esse, só não sabemos quando, porque o foco agora é totalmente no
disco novo.
Heitor: São
bandas que realmente escutamos. É até difícil escolher as músicas, mas tem
muitas influências que podem aparecer com o Maestrick mais pra frente !
Montanha:
Nós chegamos ao repertório escolhendo algumas músicas que já tocávamos nos shows e algumas que
gostávamos de ouvir
e queríamos colocar a nossa forma de tocar. Até poderíamos
colocar mais músicas, mas para um EP seria um pouco exagerado. No futuro
podemos gravar outras músicas.
NHZ: Ouvindo o trabalho,
percebe-se a fidelidade com os temas originais, soando como uma espécie de
tributo a esses ícones do rock mundial. Por que esse tipo de abordagem e qual o
feedback recebido do trabalho?
Heitor: Particularmente acho que as músicas originais são como algo sagrado, então
penso que fica legal fazer uma homenagem às bandas que gostamos com a nossa
linguagem, mesmo porque a original já soa como deve soar, é um desafio bem
legal e ao mesmo tempo apavorante.
Montanha:
Nós mantivemos a essência das músicas para que todos conseguissem
reconhecê-las, mas ao mesmo tempo inserimos o modo Maestrick de tocar para que
sentissem algo diferente sem uma grande estranheza. Nós recebemos muitos
feedbacks positivos e ficamos muito felizes com esta repercussão.
NHZ: Vocês chegaram a
enviar para algumas das bandas/artistas as canções que gravaram?
Montanha: Ainda
não.
Fabio: É
um objetivo!
Heitor: Faremos,
com certeza!
MaestricK Divulgação |
Fabio: A
escolha das músicas para o medley do Yes foi resultado de uma pesquisa grande.
Queríamos algo que soasse natural, como uma música só e seus movimentos
diferentes e não como uma colcha de retalhos com conexões
forçadas. Por isso começamos com a Soon, que é mais tranquila e
finalizamos com a Give Love Each Day com sua atmosfera apoteótica.
Heitor: Foi
difícil escolher as músicas pro medley do Yes, são músicas bem legais e bem
diferentes umas das outras. A Aqualung nós já tocamos algumas vezes ao vivo,
mas só fomos ter noção de como ficou legal e diferente depois de terminada.
Montanha:
Foi uma experiência incrível. Para poder gravar tivemos que estudar muito para
seguir as linhas das músicas originais, foi uma aula gigantesca e um trabalho
com muita dedicação e respeito.
NHZ: O ponto alto fica por
conta de While My
Guitar Gently Weeps (Beatles). Além da bela interpretação
vocal, vocês inseriram no fim da canção o trecho inicial de Still Loving You
(Scorpions). Como surgiu a ideia de inserir essa passagem na música ?
Fabio:
Muito obrigado pelo elogio. Essa música foi uma escolha óbvia como a Aqualung,
porque já a tocávamos nos shows. Como ela encerraria o EP antes da reprise da
música Near-Brain Damage, pensamos em levá-la pra uma espécie de gran finale.
Sobre o final com
a guitarra
dedilhada, foi uma mera coincidência, mas achei legal você ter interpretado
dessa forma.
Heitor: O
legal disso tudo, de fazer interpretações das bandas, é isso. Não tínhamos
ideia dessa passagem do Scorpions, não tínhamos achado essa influência
escondida ainda, é uma banda que eu particularmente gosto muito, mas não foi
intencional, com certeza não! (risos)
NHZ:
Estão preparando um novo trabalho, Espresso Della Vitta Solare, um álbum duplo,
que será divido em duas partes e que terá na produção Adair Daufembach
(Project 46, Trayce). O que podem nos adiantar desse vindouro trabalho e o
porquê da escolha de
Adair no comando dos botões?
Fabio: O
disco será uma viagem de trem de
um dia, onde o primeiro disco, o Solare, terá doze músicas
relativas as doze horas do dia. Teremos muitas referências artísticas,
experiências musicais, participações especiais e muita, muita pesquisa. Desde
os significados das horas até os instrumentos que usaríamos em cada música. O
Adair é uma pessoa iluminada, tem um coração do tamanho do talento dele e o
conhecemos através do Gustavo
Carmo , produtor do “Unpuzzle!”.
Heitor: O
que eu acho que seria legal adiantar é que com certeza estamos mais ansiosos do
que a galera que está esperando o disco, vai ser diferente do Unpuzzle, com
certeza!
Montanha:
Posso adiantar que estamos muito felizes com o novo trabalho e que aumentamos a
gama de novidades melódicas e instrumentais neste disco. Sobre o Adair, ele é
um produtor com um
excelente gosto musical e ouvidos para timbres, tem mostrado a cada dia uma
qualidade ímpar para produzir, além de já ser um amigo para nós.
NHZ: Hoje a banda é um trio.
Isso afetará alguma coisa na dinâmica e execução das canções? Faz parte dos
planos do grupo inserir mais algum músico?
Fabio:
Não afetará em absolutamente nada. Para o disco, pela sinergia que rolou com o
Adair, ele mesmo gravará as guitarras.
Heitor: Mas
faz parte sim da ideia, gostamos de compor no coletivo, é sempre legal ter
identidade diferente.
Montanha: Mas
o fato de ser trio não esta afetando em nada no nosso trabalho. Nós só vamos
analisar o assunto de inserir alguém mais para frente , pois
estamos focados na gravação agora.
NHZ:
Nessa parte da entrevista vou citar algumas situações que as bandas independentes
vivem hoje e queria a
opinião de vocês à elas:
-
Crowdfunding
Fabio:
Feito com bom senso é uma alternativa justa, pois beneficia todas as partes
envolvidas.
Heitor: É
uma saída muito legal para bandas mais undergrounds.
Montanha: Eu
acho um mecanismo válido de
pagar a produção de um disco pois a falta de incentivo é
grande.
-
Shows autorais vazios
Fabio: É
uma via de mão dupla essa questão. É triste que um show não tenha público
suficiente, mas é essencial se perguntar o motivo do desinteresse do público.
Heitor: Acho
que não é culpa só dos fãs, as bandas, principalmente brasileiras, têm que inovar.
Montanha:
Isso reflete a desvalorização do que é do Brasil, aqui existem bandas
semelhantes ou até melhores que as bandas do exterior.
Fabio: Eu
vejo essa questão de uma forma simples. Quem gosta de arte busca a arte e encontra a arte. Ela
sempre vai existir, seja em um grafite com uma frase de protesto, seja em um
quadro na sala de uma casa, seja em uma música. O que não pode deixar de existir é o interesse.
As coisas são cíclicas e é normal que modas venham e vão, mas o que é
essencial, espontâneo e feito com amor sempre fica, e aí passa no teste do tempo e se torna atemporal
como falamos anteriormente.
Heitor: Isso
me preocupa bastante!
NHZ: Muito obrigado pela
entrevista! Deixe uma mensagem aos leitores do New Horizons Zine!
Fabio:
Agradeço demais pelo espaço e pela atenção! Desejo o melhor para todos! O
“Espresso Della Vita: Solare” vem aí e espero que todos se identifiquem com as
histórias que serão contadas! Luz, Paz e Arte , amigos!
Heitor: Valeu
galera do New Horizons, espero que gostem dos próximos passos do Maestrick!
Montanha: Um
grande abraço e muita música
www.maestrick.com.br
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