A técnica é importante na música, mas ela não é tudo. De que adianta notas complicadas e inusitadas se elas não comovem o ouvinte? Esse é o ponto de partida para falar dos mineiros do Cartoon. Contando hoje com Khadhu Campanema (baixo e voz), Khykho Garcia (guitarra), Bhydhu Campanema (bateria) e Raphael Rocha (teclados), exímios músicos, que preferem deixar o virtuosismo de lado e explorar a emoção das canções, algo evidenciado em todos os seus trabalhos, em especial "Unbeatable" (2013), que é recheado de melodias e climas suaves e vocais hipnotizantes. Nessa entrevista feita com Khadhu, o músico nos conta da repercussão do trabalho, shows no exterior e a amizade com o pessoal do Tuatha de Danaan.
Por João Messias Jr.
Unbeatable Divulgação |
NEW HORIZONS ZINE: Como eu disse numa
resenha feita para o mais recente trabalho de vocês, “Unbeatable” (2013), o
álbum é guiado pela emoção, focado nas melodias, climas e suaves linhas vocais.
O que pensam sobre a comparação e o que as pessoas vêm achando do trabalho
passado mais de um ano do seu lançamento?
Khadhu Capanema: Trabalhar com a emoção sempre foi
nosso objetivo principal. Ao longo da carreira usamos métodos diferentes, mas o
objetivo sempre foi este, emocionar. Este novo disco foi muito bem recebido,
mesmo com tantas mudanças que introduzimos no som e acredito que o motivo
principal é este. Continuamos trabalhando com a emoção, dizendo as nossas
verdades da maneira que melhor conseguirmos expressa-la no momento.
NHZ: “Unbeatable” foi financiado por
um fundo de cultura, que ao lado do crowdfunding vem sendo a saída para as
bandas independentes lançarem seus trabalhos. Sabendo que deve-se seguir alguns
trâmites, como foi essa parte burocrática para conseguirem bancar “Unbeatable”?
Khadhu: Sempre trabalhamos a música primeiro
e, paralelamente, buscamos a maneira mais viável pra realizar as gravações e
lançamentos. Já lançamos dois trabalhos usando a Lei de Incentivo a Cultura e
dois trabalho usando recursos próprios. O “Unbeatable” foi através da Lei
Municipal de BH. Aprovamos o projeto e conseguimos captar o recurso junto a
empresas da cidade. Dá bastante trabalho cumprir toda a burocracia, mas vale
muito a pena, pois conseguimos fazer uma gravação e mixagem de altíssimo nível.
NHZ: Alguns destaques ficam por conta de
“Promises”, “Until I Found You” e principalmente “On the Judgement Day”, que
inclusive tem um vídeo de promoção. Além dessas há alguma outra faixa que tem
se destacado no gosto das pessoas?
Khadhu: “Down on the Road Ahead”, faixa que
abre o CD, é uma canção obrigatória em nossos shows, mesmo antes de lançarmos o
disco. Foi o primeiro vídeo clipe que fizemos para este CD. The Golden Chariot
e Time is running também ganham muito destaque, especialmente nos show fora do
Brasil.
Cartoon Foto: Vitor Maciel |
NHZ: Como foi dito na primeira
questão, as linhas vocais são suaves, emotivas e cativantes, que nos fazem
sentir sensações diversas, desde pegar o encarte para pegar as letras e por que
não, chorar de tanta emoção. Conte-nos sobre a criação das linhas vocais para
este trabalho?
Khadhu: Quando se cria uma melodia, as
possibilidades são infinitas e muitas vezes é difícil escolher qual o caminho a
seguir. Procuramos criar melodias que expressem bem o que está sendo dito nas
letras e que funcionem bem com nossas vozes. O ideal é que melodia, letra e
timbre formem uma coisa só, tornando a mensagem da música poderosa e certeira.
São as melodias que carregam grande parte da emoção da música, por isso damos
tanta importância a elas. No entanto, a verdade é que, muitas vezes, a primeira
ideia melódica é a que acaba ficando, pois ela vem carregada da emoção que
gerou a música. Depois é só fazer pequenos ajustes pra lapidar, se for
necessário e pronto.
NHZ: Para promover o trabalho, vocês
fizeram um giro por algumas cidades da Europa e Estados Unidos. Dentre eles,
vocês foram banda de abertura para Bobby Kimball (ex-Toto). Como pintou a
oportunidade de se apresentarem por lá e como foi o saldo dessa tour?
Khadhu: Hoje temos um empresário e uma
produtora nos Estados Unidos que cuidam de nossas turnês e outras coisas por
lá. Eles foram os responsáveis por fechar esta tour pela costa oeste em 2015,
incluindo este show que você citou no Whisky a Go Go. Os shows na Europa foram
agenciados por nós mesmo em 2014 através de contatos que fizemos pela internet
com festivais e casas de shows. As viagens para o exterior sempre nos trouxeram grandes retornos
em todos os sentidos. Conhecemos novas pessoas, músicos, bandas, amigos e parceiros.
Conquistamos novos fãs e acima de tudo amadurecemos como banda.
NHZ: Ao voltarem desse giro, como
comparam o circuito de shows com o do Brasil?
Khadhu: Existe uma organização e uma tradição
maior com relação ao circuito de festivais e shows fora do Brasil. Também acho
que existe mais opção para uma banda de rock, apesar de que, no mundo todo, o
rock deixou de ser a primeira opção do público já faz algum tempo. Temos achado
mais fácil montar uma agenda de shows fora do Brasil do que dentro, por incrível
que pareça. Em todos os lugares existem coisas boas e ruins. Você precisa
aprender a tirar o melhor de cada oportunidade. Levando em conta que somos uma
banda de rock que canta em Inglês a maior parte do tempo, o mercado pra nós em
países de língua inglesa é bem interessante.
Cartoon Divulgação |
NHZ:Mudando de assunto, vocês possuem
uma grande amizade com o pessoal do Tuatha de Danaan. Inclusive o vocalista
Khadhu participou do Kernunna, projeto solo do vocalista Bruno Maia. Conte-nos
dessa brodagem e o que acham do retorno dos duendes mineiros?
Khadhu: Sou fã do trabalho do Tuatha e acho
que eles têm tudo a ver com o Cartoon. Fico muito feliz que eles estejam
produzindo de novo. O trabalho deles é único e merece ser reconhecido no mundo
todo. Foi um prazer gravar o disco do Kernunna. Infelizmente, a mixagem do
disco deixou muito a desejar e espero poder refazê-la em breve, pra fazer
justiça a este trabalho magnífico.
NHZ: Para encerrar, como comparam a
banda que lançou “Unbeatable” com a que lançou álbuns magistrais como Martelo e
Bigorna?
Khadhu: O Cartoon sempre foi e sempre será o
mesmo. Isso significa que estaremos sempre mudando, crescendo e experimentando
coisas novas. Nossos verdadeiros fãs entendem isso e acompanham nossa caminhada
com muita expectativa. Cada trabalho nosso reflete o que a banda é naquele
momento e por mais que mudemos alguns elementos, a essência é sempre a mesma.
Nosso compromisso é fazer música com verdade e emoção. Tocar as pessoas e fazer
com que elas acreditem no sonho e na possibilidade de um mundo melhor. A isso
dedicamos nossas vidas há mais de 20 anos.
NHZ: Obrigado pela entrevista! O
espaço é de vocês!
Khadhu: Muito obrigado a New Horizons Zine
pela oportunidade de compartilhar nossas ideias e a todos que seguem em “resistência”
a favor da arte, seja como músicos, produtores, artistas, jornalistas, ou
simplesmente expectadores e ouvintes. Cada um de nós é fundamental nesta cadeia
e nossa luta não será em vão. Together we’re unbeatable!
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