Em sua primeira tour
por São Paulo, quinteto brasiliense comove fãs com uma aula de música complexa,
experimental e agressiva
Texto e fotos: João Messias Jr.
Hoje
eu nem vou comentar sobre a pífia presença de público nas apresentações do
quinteto brasiliense Dynahead, realizadas nos dias 15 e 16 de março,
em São Paulo e São Bernardo. Por problemas particulares, não pude ir ao show do Manifesto, então as linhas abaixo serão comentados fatos do espetáculo realizado no ABC paulista.
Dynahead João Messias Jr. |
Com
uma década de estrada e atualmente formado por Caio Duarte (voz), Diogo Mafra
(guitarra), Pablo Vilela (guitarra), Diego Teixeira (baixo) e Fred Colaço
(bateria), lançou em 2013 seus mais ambiciosos trabalho, o conceitual Chordata,
que dividido em duas partes, sendo que a segunda só está disponível em download
no site da banda.
Podemos dizer que desde seu debut Antigen, a banda buscou
soluções não usuais para sua música e hoje chegou num status de que é
impossível de rótulos, tendo ambiências e texturas variadas em suas canções,
que tem tudo para agradar fãs de música experimental, progressiva e mesmo pop.
Além dos brasilienses, o evento contou com quatro grupos da região: Necromesis,
Setfire, Octopus e Alucinator.
Alucinator João Messias Jr. |
Ás
17h e sem muito alarde, o Alucinator iniciou as apresentações. Formado por
Matheus Miz (voz), Henrique Edge (guitarra) Felipe Oliveira (guitarra), Isac
Alves (baixo) e Kelvin Aguiar (bateria),
todos bem novos, mandaram um thrash crú e agressivo. O show dos caras pode ser
visto de duas formas: se por um lado há algumas coisas que devem ser
melhoradas, é louvável ver a molecada enfiando as caras e comprando
instrumentos e tocando metal, o que certamente é combustível para alimentar as futuras
gerações. O set da banda teve como destaque as canções próprias como Killer For
Fun e Enter in One Mosh, além de covers para Enter Sandman (Metallica) e Got
the Time (Anthrax).
Octopus João Messias Jr. |
Oriunda
do finado Murder, Thiago Wallkicker (vocal), Gabriel Piotto (guitarra), Daniel
Marchi (guitarra), Mega (baixo e vocais de apoio) e Dam Guilhen (bacteria), que
juntos formam o Octopus, que podemos dizer que buscam fazer algo diferente,
baseando sua música em peso e psicodelia, como mostraram nas duas primeiras
músicas do set, Hot Water Music e Suggestions. Até nos covers o quinteto foi feliz, com empolgantes
versões para Killing Yourself to Live (Black Sabbath), Born to Raise Hell
(Motorhead) e Johnny B. Goode (Chuck Berry). Mas o verdadeiro
potencial do grupo está nas canções próprias, como Marooned e Dopamine, que
farão parte do primeiro registro do grupo que está para sair. Para quem gosta
de grupos como Down, o já citado Pink Floyd, Metallica pós Black Album e C.O.C.
(fase Peeper Keenan), pode cair de cabeça na viagem dos caras.
Setfire João Messias Jr. |
Voltando
ao thrash, o quinteto Setfire mostrou como é fazer um som agressivo, com muita
gana e vontade. Retornando após um período de incertezas, Artur (voz), Klemer
(guitarra), Michael Douglas (guitarra), Felipe (baixo) e Alex (bateria) também
mesclaram músicas do seu mais recente trabalho, o EP Desert Land, que mescla as
vertentes do thrash com momentos mais trabalhados. Junto com os sons autorais,
a banda mandou versões bem feitas para Troops of Doom (Sepultura), I’m Broken
(Pantera) e a inusitada e bem vinda Sacred Serenity (Death), dedicada ao
pessoal do Necromesis, que mostrou a
importância da música de Chuck Schuldiner para a música pesada. O set dos caras passou voando com a inédita
Wandering Psychopath, que estará no próximo trabalho do grupo, previsto para
2015 e Envy Shit, do já citado EP e que a partir de abril terá sua versão em
vídeo.
Necromesis João Messias Jr. |
Já
passavam das 20h quando o Necromesis deu início a sua apresentação. Com uma
rotina forte de shows, que incluiu apresentações ao lado de nomes como
Desdominus e Master, além do novo trabalho, o EP Echoes of a Memory, Mayara
Puertas (voz), Daniel Curtolo (guitarra e voz), Gustavo Marabiza (baixo) e Gil
Oliveira (bateria) estão preparados para um novo e determinante passo na
consolidação da carreira. Com um som que mescla as vertentes mais brutais, com
passagens intrincadas que vão ao progressivo ao regionalismo brazuca, o
quarteto mandou sons novos como Indifferent Echoes of A Sensitivity, The Life
is Dead como Unlives As Undeads, Building an Underworld e Demonic Source, que
encerrou mais uma apresentação que foi segura e agressiva nos momentos certos.
Dynahead João Messias Jr. |
Ás
21h15 chegou o grande momento. Com Abiogenesis, do seu mais recente registro,
Chordata, o Dynahead deu início ao seu segundo show em São Paulo. Essa música
mostrou que Caio, Diogo, Pablo, Diego e Fred merecem um espaço maior na música
pesada nacional, pois ela alterna momentos melódicos, agressivos, progressivos
e técnicos sem soar chato ou sisudo e ao mesmo tempo soam fáceis aos nossos
ouvidos, assim como Collective Skin, essa dona de riffs intrincados. Mas o
grupo não esqueceu dos primeiros trabalhos e do debut, Antigen mandaram Layers
of Days, que mostrou mais um diferencial dos caras: os backing vocals sincronizados.
Reforçando o que disse linhas acima, a banda faz uma apresentação descontraída
que faz com que as mesmas canções técnicas e repletas de variações fiquem
intimistas, como numa celebração entre amigos.
Dynahead João Messias Jr. |
Um exemplo são as narrações humorísticas de Caio Duarte, que mostrou que se daria muito bem como âncora de rodeio, além de ter atuado como cinegrafista. O segundo trabalho e a segunda
parte de Chordata não foram esquecidos e deles foram representados por Eventide
(que possui um interessante vídeo), Ylem e Jugis.
Join
and Surrender e Bloodish Eyes, do já citado Antigen entraram na reta final da
apresentação, que foi impecável em todos os aspectos, pois conseguiu ser
intenso, hipnótico e de fácil assimilação e compreensão.
Após
o show se conclui que o Dynahead já cravou seu lugar na história da música contemporânea por
não ter medo de ousar e com certeza será lembrado como uma banda de vanguarda
ao lado de monstros consagrados como System of a Down, Therion, Diablo Swing
Orchestra, entre outros.
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