São vinte anos de estrada, três álbuns de estúdio, um disco ao vivo, dois
giros pela Europa e muita história para contar. Esse é o Uganga, quinteto
mineiro cujo som possui base no thrash metal e hardcore, mas que abre espaço
para experimentações e essa mistura aparece cada vez mais coesa, como podemos
ouvir em seu último registro, o álbum Eurocaos Ao Vivo, que como o nome diz é
um trabalho que registrou a banda nos palcos. Com uma boa produção e sem truques e maquiagens, o CD mostra de
forma honesta como é uma apresentação do quinteto formado atualmente por Manu
Joker (voz), Christian Franco (guitarra), Thiago Soraggi (guitarra), Raphael
Franco (baixo) e Marco Henriques (bateria). O trabalho além das músicas ao
vivo, apresenta versões para bandas como Sepultura, Sarcófago, Stress e Pastel
de Miolos, um trabalho gráfico caprichado e um diário de bordo com um relato da
tour escrito pelo próprio vocalista.
Nessa entrevista, os cinco integrantes do grupo nos conta da
convivência na estrada e do novo álbum que está sendo preparado, que terá o
título de Opressor.
Confiram:
Por João Messias Jr.
Eurocaos ao Vivo Divulgação |
NEW HORIZONS ZINE: Rapaziada,
em primeiro lugar, parabéns pelo excelente trabalho no CD Eurocaos Ao Vivo, que
sintetiza muito bem como uma banda deve se portar no palco, sem truques e
maquiagens. Como se prepararam para a gravação do show? Pois ouvindo o disco
temos a impressão que estão calmos e tranqüilos.
Manu “Joker”: Obrigado pelos elogios mano! Estamos bem satisfeitos
com esse álbum e realmente trata-se de algo crú e sem maquiagens, como achamos
que deve ser. Essa formação está bem segura, nos conhecemos há um bom tempo e
tocamos juntos há 12 anos, com exceção do Thiago que está conosco há seis. O
show do Razorblade foi quase no final da tour e a banda estava realmente bem
afiada. Na verdade minha garganta já não estava a mesma, pois vinha de uma seqüência
de mais de 10 shows direto e nesse dia bebi bastante, mas no final rolou legal
(risos).
Thiago Soraggi: Conseguimos um bom resultado no disco porque
trabalhamos muito antes e durante a tour. Como era a primeira experiência fora
do Brasil, fomos preparados para dar o melhor, independente de tudo. A seqüência
de shows antes das gravações ajudou bastaste, pois por mais cansados que
estivéssemos, no palco era outra historia, todo mundo na pilha para mostrar que
a mineirada estava representando bem Minas Gerais e o Brasil no velho mundo.
NHZ: O álbum foi gravado na Alemanha e Portugal em 2010. Quais os
motivos da escolha desses países para a gravação?
Marco Henriques: A idéia inicial era gravar no Razorblade, na
Alemanha, por se tratar de um festival maior, com uma estrutura legal. Nós já
havíamos combinado com o mesário sobre a gravação e fomos pra Europa com o
esquema já meio acertado. O show de Portugal foi um bônus, não sabíamos que
seria gravado. Mas o resultado ficou legal e acabou entrando no CD.
Raphael Franco: Na verdade não houve uma programação quanto a isso,
o que aconteceu é que nesses dois shows a equipe de som estava com equipamentos
que possibilitava a gravação e nos ofereceram por um preço quase que simbólico
e daí resolvemos registrar os shows que acabaram virando o nosso primeiro disco
ao vivo.
Uganga Divulgação |
NHZ: A primeira parte de trabalho é baseada no último registro de
estúdio, o aclamado “Vol.3: Caos, Carma, Conceito” (2010). Quais os motivos de
não colocarem materiais dos álbuns anteriores?
Manu “Joker”: Quando fomos pra Europa pela primeira vez não estava
decidido que iríamos lançar um disco ao vivo. Sabíamos da possibilidade de
gravar o material, mas como ele seria usado, ainda não estava definido. Olhando
pra trás, acho que seria válido termos incluído alguma música mais antiga tipo
“Procurando O Mar” ou “Çorrida”, mas na época o foco era promover o “Vol.
03:...” e o material desse disco foi priorizado. Por esse motivo decidimos
colocar as faixas bônus e acho que o resultado final ficou legal. Tem sons do
“Vol.03:...” tocados ao vivo e versões de bandas que curtimos, além de faixa
multimídia, encarte, livreto, etc. Estamos conversando sobre gravarmos um DVD
comemorando dos 20 anos do Uganga em 2014 e nesse show com certeza tocaremos
coisas mais antigas, além de material inédito até aqui.
NHZ: Outra parte do repertório são versões ao vivo e de estúdio para
clássicos do Sepultura, Sarcófago, Stress e Pastel de Miolos. O que essas
canções representam para o Uganga e qual a importância delas estarem no disco?
Manu “Joker”: Sepultura e Sarcófago são influências no Uganga, direta
ou indiretamente, dependendo dos integrantes, mas são. Somos de Minas Gerais e
não tem como não ser influenciado, não só por essas duas bandas, como por
outras da fase de ouro da Cogumelo como Overdose, Holocausto e Witchhammer. Eu
particularmente venho dessa geração e em relação ao Sarcófago a ligação se
torna ainda maior por ter tocado na banda e gravado na minha opinião, a versão
definitiva de “Nightmare”. Além de tudo, misturar as duas bandas no setlist é
nossa maneira de prestar um tributo a ambas e dar um belo foda-se pra toda a
rivalidade que sempre existiu, e que
nunca nos interessou. Stress é um ícone do metal latino americano e não
pensamos duas vezes para aceitar o convite para participar do tributo feito
pela Metal Soldiers (Portugal). Gravamos em Goiânia no Rocklab em um dia
(mixamos no outro) com o Gustavo Vazquez, com quem fizemos nosso CD novo. Com o
Pastel De Miolos foi a mesma coisa, é uma banda clássica do punk baiano, e
gostei da nossa versão. Gravamos aqui em Araguari no Vintage Estúdio
praticamente ao vivo com uns chegados fazendo os backings, tipo festa mesmo. Por
fim, ainda colocamos umas vinhetas, coisa que fazemos desde o primeiro álbum e
que poucos entendem (risos).
Cartaz tour europeia Divulgação |
Manu “Joker”: Desde moleque me amarro em escrever. Comecei a fazer
um diário da tour de 2010, todos acharam legal e resolvemos coloca-lo num
segundo encarte no CD com mais uns depoimentos dos outros integrantes e do
Eliton (Tomasi, empresário da banda). Saiu mais ou menos no formato da minha
coluna no zine Páginas Vazias, com fotos, etc. Eu sou da velha escola e gosto
de ver o material todo, não só ficar baixando música pela internet.
Marco Henriques: Queríamos lançar um material bem completo,
mostrando bem como foi a tour. Ter esse diário foi demais, a pessoa tem uma
idéia bem clara da realidade do que uma banda independente vive em uma tour
pela Europa. E, além disso, acaba sendo um material mais atrativo pro
consumidor, que vai levar um CD, um livreto, um vídeo da tour, um encarte com
fotos... Em dias que as pessoas preferem baixar uma música do que comprar um
disco, temos que buscar sempre algo além do básico.
NHZ: Ainda falando no diário, que reflete como é a vida de uma banda na
estrada. Para aqueles que pensam que fazer tour no exterior é as mil
maravilhas, conte-nos dos apuros e situações inusitadas que aconteceram com a
banda.
Manu “Joker”: Cara, estrada é trabalho duro e se você achar que é
só festa pode ficar pelo meio do caminho. Em nossas duas tours pela Europa, assim
como no Brasil, passamos por várias experiências, todas muito positivas, pois
delas vem o aprendizado. Não é fácil ficar sete caras dentro de uma van por um
mês, comendo comidas diferentes das que está acostumado, lidando com línguas
que não entende nada, estradas que não conhece, temperamentos e personalidades
distintas, além de alguns malas que vez ou outra aparecem (risos). Tivemos
bebedeiras, treta com um nazi, passamos calor, frio, poucas horas de sono e até
brigamos entre nós na Espanha (risos), mas tudo dentro do tolerável. Na verdade,
o Eliton, nosso manager, organiza essas tours de maneira bem profissional e já
na de 2013 tivemos uma estrutura muito superior à primeira, o que nos permitiu
ralar menos e curtir mais.
Raphael Franco: Acredito que nem nas turnês das grandes bandas conhecidas
mundialmente seja só mil maravilhas. Acho que ninguém acorda de bom humor todos
os dias, ainda mais depois de viajar mil kilometros apertado numa van, fazer um
show e dormir numa cama estranha. Uma tour como essa é cheia de altos e baixos,
sempre, dias excelentes e dias de puro estresse, sempre vai rolar uma roupa
suja pra lavar (risos), mas é assim que se aprende e se exercita a aceitação. No
caso do Uganga, acredito que tudo isso tenha sido positivo, que no final
acabamos crescendo como verdadeiros amigos.
Uganga Divulgação |
Raphael Franco: Tentamos levar o respeito dentro da banda na frente
de qualquer coisa. São cinco cabeças diferentes o que acarreta em muitas vezes
cinco opiniões distintas sobre um mesmo assunto, então se não houver respeito e
aceitação para se chegar em um consenso e tomar decisões, com certeza não
funcionaria como tem funcionado.
Manu “Joker”: Fácil não é, mas tem funcionado (risos).
Thiago Soraggi: Existe também o fator família na história da banda
que eleva a questão do respeito. São duas duplas de irmãos e eu, o bastardo
inglório da parada (risos). Creio que independente da situação, boa ou ruim,
conseguimos levar como objetivo principal o coletivo positivo do Uganga. O
compromisso com a banda vem na frente de qualquer opinião divergente, qualquer
desentendimento pessoal ou profissional. Acho que fórmula não existe, mas se
existisse os pilares seriam respeito e dedicação.
NHZ: Curiosamente, Eurocaos ao Vivo foi lançado dez anos após o
primeiro disco de vocês, Atitude Lótus. O que representa essa década para a
banda e podemos dizer que o recente trabalho fecha um ciclo?
Christian Franco: A palavra mais adequada pra mim é consolidação do
nosso som, o que também não quer dizer estagnação. Encontramos uma forma de
trabalhar e dentro dela temos um monte de coisas para melhorar, mas a
identidade tá pronta.
Manu “Joker”: Pra mim representa a maturidade da banda. Começamos
como algo experimental e descompromissado e do segundo álbum em diante
encontramos nosso estilo que vem sendo aprimorado desde então. Basicamente
trabalhamos com metal e hardcore, mas à nossa maneira, sem seguir uma formula
de um determinado estilo seja thrash, crossover, metal core ou sei lá o que
mais... A primeira década foi de busca e a segunda de aprimoramento.
Marco Henriques: Experiência, estrada, aprendizados e a criação de
uma identidade sonora. Hoje a banda tem uma identidade forte, que não tinha há
alguns anos, mas que nunca teria se não passasse por tudo que passou nesse
tempo.
Uganga Divulgação |
Christian Franco: Peso, groove e letras positivas, como sempre foi
e falamos, mas dessa vez de uma forma mais forte e bem mais lapidada.
Manu “Joker”: É Uganga na essência, mas com uma clara evolução em
todos aspectos. Pra mim é isso.
NHZ: Para encerrar, como estamos iniciando um novo ano, digam quais as
expectativas da banda para 2014.
Marco Henriques: Lançar o novo disco, trabalhar bastante e tocar
muito! Voltar nas cidades por onde passamos, conhecer novos lugares... Estrada!
Thiago Soraggi: Em 2013 conseguimos atingir todas as metas que
traçamos e em 2014 não será diferente! O novo disco está pronto, mais pesado,
mais coeso, vamos trabalhar ainda mais forte no próximo ano!
NHZ: Obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores desta
publicação.
Manu “Joker”: Agradecemos o espaço para divulgar nossa música,
esperamos encontrar todos vocês na estrada e se quiserem saber mais a respeito
do Uganga acessem nosso site. Apoiem as bandas independentes e autorais! Saúde
e paz a todos!
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