25 de abril de 2014

INCERTEZAS E DESCONFIANÇAS QUE CRIAM ÓTIMOS DISCOS

Torture Squad, Noturnall e Statik Majik superam expectativas criadas pelos fãs e lançam trabalhos que primam pela musicalidade e bom gosto

Por João Messias Jr.
Imagens: Divulgação 

Antes de descobrir o heavy metal,  era fanático por programas esportivos, em especial aqueles relacionados ao futebol. Uma das horas que mais curtia era quando determinado jogador era criticado pela torcida ou visto com desconfiança pela mesma e quando davam o microfone ao atleta (em especial aos centroavantes), que respondia da seguinte forma: “Vou responder com gols”.

Esse famoso discurso acabou voltando na cabeça assim que estava nas minhas mãos três discos nacionais, dentre eles, uma banda que busca afirmação após a saída de um membro importante, outra que é formada por músicos experientes que montaram um novo grupo ao invés de ficarem na geladeira e um que busca a afirmação após a boa recepção de seu debut. São elas: Torture Squad, Noturnall e Statik Majik.

Vamos começar falando do Torture Squad. Após a saída do vocalista Vitor Rodrigues (atual Voodoopriest), a banda optou não colocar ninguém no posto e continuar como um trio, com o guitarrista André Evaristo assumindo também as vozes com o baixista Castor.

Esquadrão de Tortura
Divulgação
O primeiro trabalho dessa nova formação foi o álbum Esquadrão de Tortura. Musicalmente os caras fizeram até aqui seu disco mais diferente e trabalhado. Mais thrash e menos death, André, Castor e o baterista Amílcar Christófaro fizeram um disco baseado na ditadura militar, em que os mesmos fizeram um trabalho de campo com entrevistas com especialistas como Roniwalter Jatobá, visitas aos antigos locais como o Presídio Tiradentes. E,  tanto liricamente como musicalmente não tinha como sair errado. A veia thrash oitentista pula forte desde as primeiras faixas No Escape From Hell, Pull the Trigger e Pátria Livre, essa com a participação de João Gordo (R.D.P.). Mas o que chama a atenção é que em meio a porradaria surgem momentos intrincados e quase virtuosos, que alegrarão fãs de Coroner e Testament (The Ritual). Algumas canções que carregam essas características são Conspiracy of Silence, Wardance e Fear to the World, essa, uma das mais trabalhadas da carreira da banda.

A banda não se preocupou apenas com o aspecto musical. Esquadrão de Tortura possui um belíssimo trabalho de arte e acabamento em digipack , slipcase e um encarte suplementar, que fará com que os fãs tenham muito orgulho de mostrar o trabalho a fãs (e não fãs) de rock e metal.

Noturnall
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Igualmente agressivo, só que mais pros lados do prog metal, o Noturnall mostra que comodismo é algo destinado aos perdedores. Com o baterista Ricardo Confessori de volta as baquetas do Angra e mesmo tendo anunciado o clipe de Nocturnal Human Sinde e a capa do vindouro trabalho, Thiago Bianchi (voz), Léo Mancini (guitarra), Fernando Quesada (baixo), Juninho Carelli (teclado) não quiseram deixar o trabalho esfriar e recrutaram o baterista Aquiles Priester (Hangar) e usaram esse material para um novo grupo, batizado de Noturnall. E com toda a certeza foi uma ideia bem pensada.

A música praticada pelo quinteto impressiona, pois apesar da conexão com o Shaman, Noturnall (o álbum) tem muito mais do Karma do que a antiga banda dos integrantes. Boa parte se deve aos vocais de Thiago Bianchi, que utiliza muito o timbre mais ardido que, aliado ao instrumental pesado e intrincado da banda cria ótimas canções como as pesadas No Turn At All (que exceto pelos vocais, tem muito do Korn), Nocturnal Human Side, que recebe a participação do vocalista Russel Allen (Symphony X, Adrenaline Mob) e Hate, dona de um refrão marcante.

Outro trunfo na manga do grupo é o guitarrista Léo Mancini, que graças à sua influência hard, ele está sempre na frente dos seus colegas. Usando a técnica refinada com muito bom gosto, acaba dando um toque especial nas canções, que se tornam hits, como Sugar Pill, que mostra o estilo que mostra como o estilo que consagrou grupos como Motley Crüe soaria hoje.

Claro que as baladas são fundamentais em discos do estilo e aqui até nesse detalhe os caras capricharam. Last Wish é atmosférica e emotiva, lembrando as canções de grupos como Heavens Gate e a carreira solo de Michael Kiske, ou seja, o lance é sofisticado. Já The Blame Game, que encerra o disco é mais intimista com um quê de jazz/MPB além de um belo refrão que contagia tudo e todos!

Wrath of Mind
Divulgação
Agora, partindo para algo mais direto, na cara e com muito dos 70 e 80, temos Wrath of Mind, segundo disco da banda carioca Statik Majik. Após a ótima recepção ao debut Stoned on Music, o trio formado por Thiago Velasquez (baixo e voz), Luis Carlos (bateria) e Thiago D’Lopes (guitarra, substituído por ) fez um disco que embora calcado na sonoridade de quatro décadas atrás, não soa retrô. Um dos fatores é a produção feita por Renato Tribuzy, que apesar de permitir que todos os instrumentos e vozes sejam ouvidos com nitidez, não soa suja, o que é positivo.

Os caras pareciam estar inspirados ao trabalharem nas canções, TODAS donas de um grande potencial, como a abertura com God in the Mirror, uma paulada que é inspirada em dois clássicos do rock: Children of the Grave (Black Sabbath) e Love Gun (Kiss). Já Between 4 Walls chama atenção pelo refrão melodioso e dedilhados que vão do flamenco a música latina. Só que o lance dos caras é pegar pesado, como nas viscerais, Slaves of Greed, Drowning in Despair e Nothing Left to Admire, essa com uma energia incrível. Infelizmente o disquinho passa voando com Utopia Sunrise, que deixa o ouvinte com o astral lá em cima e o fazendo pensar como é bom ser um fã de rock.

Interessante que todas as bandas citadas passaram por algum tipo de situação ruim antes ou depois dos lançamentos e como um bom centroavante calaram a boca da crítica dentro de campo...e com muitos gols.

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