12 de novembro de 2013

SEVENTH SEAL: "FOI UM POUCO DIFÍCIL, AFINAL SEMPRE FOMOS BEM UNIDOS"

Mudanças de formação é algo cedo ou tarde (infelizmente) toda banda tem de passar. Algumas não aguentam o baque e encerra as atividades, já outras se fortalecem. Como o quinteto do ABC paulista Seventh Seal. O guitarrista e fundador Tiago Claro recrutou um time de primeira com o guitarrista Thiago Oliveira, o baixista Victor Próspero, o retorno do baterista Roberto Moratti e o vocalista Leandro Caçoilo. Juntos lançaram o álbum Mechanical Souls, que chama a atenção pela sua variedade e pela produção, que deixou tudo uniforme.

Nessa entrevista, a dupla de guitarristas fala além dos assuntos acima, sobre a cena do metal nacional no país, fora dele e muito mais.


Confiram!


Por João Messias Jr.

Fotos e Imagens: João Messias Jr./Divulgação

NEW HORIZONS ZINE: Após o segundo trabalho, Days of Insanity, aos
Seventh Seal 2013
Divulgação
poucos a banda foi sofrendo mudanças de formação, restando apenas o guitarrista Tiago Claro. Como foi juntar as peças e reformular o grupo?
Tiago Claro: Foi um pouco difícil e dolorido, afinal sempre fomos bem unidos, eu formei a banda com o Ricardo e o Guilherme Busato e o Ricardo Peres entrou menos de um ano depois então ficamos tocando junto por mais de 10 anos, com o R.Peres 15 anos. Os dois irmãos foram morar na Europa e saíram antes do Days of Insanity ser lançado.

Na sequencia tivemos alguns músicos que são grandes amigos nossos, mas com certeza a entrada do Thiago Oliveira foi o ponto chave pra fazermos esse álbum. Logo depois, o Ricardo deixou a banda e chamamos o Leandro que já era um velho conhecido nosso. E também após a gravação o Roberto Moratti que gravou o Days of Insanity voltou pra banda. Ou seja é uma história um pouco confusa mesmo (risos).

Thiago Oliveira: O meu material acabou chegando nas mãos da banda através da Simone do Midnightmare, uma grande amiga. Eu já tinha visto a banda ao vivo antes e eu me impressionei muito com o vocal do Ricardo, era uma puta banda de se assistir o show. E como eu estava aqui estudando, sem nenhuma oportunidade profissional séria, eu abracei o convite com unhas e dentes.

NHZ: Hoje podemos dizer que o Seventh Seal possui uma das melhores formações de sua história, com Tiago Claro e Thiago Oliveira (guitarras), Victor Próspero (baixo), Roberto Moratti (bateria) e Leandro Caçoilo (voz). O que pesou na escolha de cada um dos novos integrantes?
Tiago Claro: Olha, quando estávamos procurando um guitarrista, recebi diversas demos e tinham muitos caras que tocam demais, só que o Thiago eu pirei não só por ele tocando mas também pelas composições, achei muito diferentes do que rola por ai. O Victor já é um grande amigo há anos e toca muito bem, o Roberto foi da banda de 2001 a 2007 mais ou menos e o Leandro foi que nós precisávamos de um grande vocalista, então ele ouviu as pré-produções deste álbum, curtiu, fizemos um show e logo em seguida ele entrou na banda.

Thiago Oliveira: A minha namorada fazia aula de canto com o Leandro e algumas vezes eu ia lá ficar de bobeira. Quando ele ficou sabendo que o Ricardo saiu eu percebi que ele ficava “curioso demais” (risos). E como o Tiago falou, eu mostrei pra ele o instrumental do disco e ele se interessou. Quando a gente fez o show com ele como contratado, a energia fluiu muito bem. Muitas bandas o convidaram pra entrar, várias de renome inclusive, ele chegou até a fazer alguns trabalhos como convidado, mas a qualidade do novo trabalho foi o fator decisivo pra que ele entrasse na banda como membro efetivo.

Mechanical Souls
Divulgação
NHZ: Com essa formação vocês lançaram recentemente o álbum Mechanical Souls, que teve como primeiro single a faixa Beyond the Sun. O que os motivaram na escolha dessa canção?
Tiago Claro: Simplesmente pelo fato de ser uma musica pesada, trabalhada mas ao mesmo tempo com um refrão direto. Acho que ela representa bem o que é o álbum
.
Thiago Oliveira: É uma composição em que a letra situa bem o ouvinte com relação à mensagem do disco. Isso sem contar que mostra onde o som está agora, com mais peso, afinação mais baixa e algumas passagens mais complexas.

NHZ: O álbum possui um direcionamento que conecta o debut, Premonition e o peso de Days of Insanity. Essa conexão entre os dois trabalhos foi planejada?
Tiago Claro: Planejada não. Na verdade, quando começamos a compor, a minha ideia era fazer algo diferente do que fizemos nos dois discos anteriores, mas sem perder a essência do que é a banda, então muitas vezes o Thiago se encontrava com o Dárcio antigo baixista) na casa dele gravavam as ideias e me mandavam para ouvir e naturalmente isso acontecia, mesmo porque eles nem estavam na banda quando lançamos os dois álbuns, mas eles mesmos tinha essa mesma intenção que eu.

Thiago Oliveira: Como eu não fazia parte da banda nessa época eu não pensei em nenhuma ponte entre os trabalhos anteriores e para ser sincero, eu acho o som bem diferente, afinal é outra época e hoje temos outras pessoas na banda. Tudo isso influi.

NHZ: Ainda falando nas músicas do disco, elas chamam a atenção pela
Tiago Claro
João Messias Jr.
variedade. Sleepless é uma balada, Dark Chaint possui momentos que beiram o black metal  e Virtual Ego com seus momentos hard e thrash. Por causa das diferenças entre uma canção e outra, chegaram a pensar em limar algumas do disco?
Tiago Claro: Não, alias essa é uma caracteristica do Seventh Seal desde o primeiro CD. Se você pegar o Premonition você irá ouvir a Falling Tears(balada) como a Die Lie que é um thrash/ death. No Days of Insanity, temos a Mistake in Love(balada) e a Grave of Sadness (thrash). Sem contar as músicas hard rock que tem em ambos, como Evil Love (Premonition) e The Miles Came Between Us (Days Of Insanity). Então, só limamos se a música não nos agrada independente do estilo delas.

Thiago Oliveira: Interessante você mencionar a Dark Chant. Ela era na verdade, uma composição de uma antiga banda que eu tive, e que foi limada do álbum. O mais legal é que agora que saiu é uma das mais bem comentadas nos reviews. No meu ponto de vista, na hora de compor a única regra é não ter regra (risos). Então, como eu já ouvi muito Dimmu Borgir, vai ter alguma coisa ali que influenciar, seria muito falso da minha parte limar uma passagem só porque não é comum ter aquilo no álbum de estilo X ou Y. Seguir rótulos só limita. O flamenco que você citou num review era porque eu tenho formação de violão erudito, então eu deixo a coisa vir independente do que pode ter originado aquilo.


NHZ: A produção foi feita no Norcal Studios pelo guitarrista Thiago Oliveira, que antes de tudo, merece os parabéns,  pois conseguiu nivelar todos os instrumentos por igual, dando ao ouvinte a oportunidade de ouvir uma banda de verdade. Para chegar nesse resultado, algum trabalho te inspirou ou seguiu o feeling?
Thiago Oliveira: Valeu João, não foi fácil chegar! Era muita coisa no arranjo e não podia sair de qualquer jeito. Com relação ao som, eu não tinha nenhum trabalho em mente, mas eu sabia bem o que eu queria. Eu queria um som moderno, mais pesado e eu sabia que ao mesmo tempo as melodias e as coisas mais sutis estariam lá. E como eu sabia o tipo de som que esse CD teria que ter, nós acabamos optando pela mixagem do Brendan no Norcal. Eu já tinha levado um trampo pra masterizar por lá e  percebi que ele tinha um ouvido muito bom pras coisas, esse é o diferencial.
Muitas vezes em uma produção algum instrumento é enterrado é porque a performance não é boa, mas nesse caso como todo mundo tocou tão bem que não tem porque esconder nada.

Thiago Oliveira
João Messias Jr.
NHZ: Thiago, existe alguma diferença em se produzir a própria banda?
Thiago Oliveira: Existe. É bem complicado. No meu caso eu escrevi as letras, fiz os arranjos, programei os sintetizadores, fiz as partes de orquestra, eu estava do lado em todos os estágios do processo e foi bem desgastante, ainda mais porque não é o trabalho de outra pessoa. È o seu próprio. Na época, eu tocava no “Cabaret”, musical da Claudia Raia, então muitas vezes eu ia gravar as minhas partes de madrugada depois de tocar duas sessões de duas horas no teatro. Então eu tinha que tocar e pilotar a gravação ao mesmo tempo depois de ter tocado antes. Tirando isso, como todo mundo já tinha bastante experiência tocando e gravando foi bem fácil. Em certos momentos eu até não falava muito e deixava a pessoa colocar a própria marca, porque afinal de contas é para aquilo que tem o outro cara na banda certo?

NHZ: Outro aspecto interessante é olhar que quase todos os membros contribuem nas canções. Sendo você o único membro original Tiago, como é ter esse tipo de contribuição de músicos que de certa forma não estavam familiarizados com o estilo do grupo?
Tiago Claro: Eu nunca coloquei para qualquer novo membro da banda que o som teria que ser desse jeito ou daquele. Mas claro, os que entram ou entraram sabem que tocamos heavy metal e dentro disso podemos explorar diversos estilos então acho que fica fácil para eles se adaptarem ao som do Seventh Seal.

Thiago Oliveira: Acho que eu não teria entrado na banda se o outro Tiago fosse um daqueles caras bitolados. Eu percebi é que sempre chegava alguma banda me convidando e era sempre o mesmo papo “queremos fazer um som estilo a banda X”. Na boa, se a banda consagrada já existe, porque perder tempo tentando fazer o que eles já fazem?

O trabalho foi lançado pela Shinigami Records, gravadora que vem prestigiando o metal nacional em seus lançamentos, como o novo do Panzer e Skinlepsy. O que os motivaram a assinar com eles?
Tiago Claro: Na verdade, eles foram ao show que nós abrimos pro Orphaned Land e pelo o que me disseram, gostaram do nosso show. Entrei em contato e eles se interessaram, então acertamos essa parceria. Mas claro que antes disso algumas bandas já haviam me falado do trabalho sério e honesto que eles fazem.

NHZ: Apesar do pouco tempo de seu lançamento, o que estão achando das primeiras resenhas do trabalho? Alguma em especial chamou a atenção da banda?
Tiago Claro: Estão ótimas, geralmente nós absorvemos muito bem as resenhas. Claro que ficamos muito mais felizes quando é positiva, óbvio (risos). Mas o legal é saber distinguir a critica construtiva para tentar melhorar ainda mais. Todas foram excelentes.

NHZ: Vocês optaram por fazerem poucos shows. Essa postura foi por não terem um disco novo para divulgar e agora com o CD lançado, pretendem mudar isso?
Tiago Claro: Ah sim com certeza nossa ideia é fazermos mais shows. Claro que depois de 18 anos de banda, precisamos de um mínimo de estrutura para fazer um show legal para nosso público, mas geralmente os produtores tem nos elogiado pela forma que trabalhamos. Isso é muito bom (risos).

Thiago Oliveira: Como a banda esteve muito ocupada com o CD nos últimos meses, a gente só pegou pra fazer os shows que a gente sentiu que seriam boas oportunidades. Agora com o CD em mãos, vamos fazer mais.

Recentemente vocês fizeram a abertura para o grupo canadense Anvil, banda que teve um “up” na carreira após ter sua trajetória num documentário. Queria saber se vocês já viram o filme e se de certa forma o mesmo encoraja a banda a seguir em frente, mesmo com todos os percalços.
Tiago Claro: Vimos o filme 63 vezes, tá bom (risos)? Brincadeira, mas eu particularmente vi varias vezes. Um lance muito legal que quando nós fomos para a Europa, o Thiago chegou em um dos ensaios que antecederam a tour e levou o filme e disse: "preciso mostrar isso a vocês". Dai assistimos juntos e foi a mesma reação de todos. Enfim esse realmente é um dos melhores filmes de rock que já vi e muita coisa o que eles passaram ali eu já passei também. Acho que as bandas iniciantes deveriam assistir para ter noção que nem tudo são maravilhas, a dificuldade no meio é gigante, infelizmente.

Thiago Oliveira: Por causa daquele filme, eu entrei no avião pra Europa morrendo de medo de ter problemas na tour, ainda bem que deu tudo certo. Mas a vida de banda é cheia de altos e baixos mesmo. Eu tocava numa orquestra de musical e trabalhava na equipe o diretor do documentário que está sendo feito sobre o Sepultura e ele comentava que até com eles a coisa é assim. Se é assim pro Sepultura, que é icone, imagina pra gente?

NHZ: Para encerrar, queria a opinião de vocês sobre o que acham da
Leandro Caçoilo
João Messias Jr.
  cena do metal nacional e o que pode ser melhorado.
Tiago Claro: A cena mudou muito nos últimos anos. Acho que a quantidade enorme de shows internacionais deu uma quebrada. Mas isso poderia vir ao nosso favor que era tendo bandas nacionais nas aberturas, mas infelizmente tem muito produtor que só pensa em dinheiro e falam que banda de abertura dá trabalho. Já ouvi isso varias vezes, é triste. Ao mesmo tempo, se você quiser fazer seu show em um bar, irá concorrer com uma banda gringa na semana e terá que ouvir aquela desculpa do publico que não tem dinheiro porque foi ver aquela banda do exterior e tal. Outro dia eu estava falando com uns amigos que falaram o seguinte: "Eu só vou a show de bandas nacionais quando eu quiser ir, eu apoio a cena quando eu quero. Se eu quiser pagar 200 pra ver a banda gringa eu vou e pronto" então muita gente pensa assim, só não falam, esses foram mais verdadeiros (risos). Acho que não adianta fazer discurso de apoio a cena e etc, não resolve mais. O lance é contarmos com aqueles que querem fazer algo realmente, então eu não tenho mais nada a falar, só agradecer todos amigos que vem nos acompanhando todos esses anos.

Thiago Oliveira: Olha, o lance da cena é bem complicado. São uma série de fatores que contribuem pras coisas estarem do jeito que estão e é uma questão que tem os dois lados.
Na boa, se eu escuto uma banda nacional ruim, ou sem criatividade eu também não vou querer saber. Tem muito jabá rolando em cima de banda mediana, então aparece quem paga, ou quem tem contatos e amizades no meio e eu acho que isso meio que queima um pouco a cena. Porque se a banda que aparece é ruim ou não acrescenta nada, quem vê tem uma imagem distorcida do underground. Aí muito fã reclama que se tenta enfiar goela abaixo certas bandas e eu concordo com isso. Tem muita banda que reclama, mas eu vi o Top 5 das vendas da Die Hard outro dia e 4 dos Cds eram de bandas nacionais, tinha o Viper, o Kernunna, o novo do Almah e mais outro que eu não lembro. Acho que quando o trabalho é bom o público reconhece. Não adianta você ir lá e copiar quem quer que seja e esperar que o público daquela banda animal, que tem uma porrada de CDs lançados e uma puta carreira vai querer comprar o seu.
Por outro lado rola um preconceito do público daqui com a cena local. Essa postura por parte de muitos fãs acaba sendo injusta para uma banda como,por exemplo, o Dynahead, que é super original e de qualidade. Aí muitas vezes você vê uma banda de fora, que toca só em muquifo na gringa e aqui é idolatrada igual a rock star.
O que a gente vê lá fora é que existe cena underground  igual aqui, com a diferença que as casas de show tem mais estrutura. E no exterior, do mesmo jeito que tem bandas muito boas, rola porcaria também. Tem que ficar esperto que os gringos também tentam empurrar porcaria e tem jabá lá fora também.

NHZ: Muito obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem aos leitores desta publicação.
Tiago Claro: Muito obrigado a você João, batalhador da cena nacional e todos nossos amigos e admiradores que nos apoiam, vocês são a razão de continuarmos na batalha. Vejo vocês nos nossos shows. Valeu!

Thiago Oliveira: Valeu pessoal! Espero que vocês embarquem na nossa viagem e espero conhecer vocês pessoalmente na estrada!

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