Mudanças de formação é algo cedo ou tarde (infelizmente) toda banda tem de passar. Algumas não aguentam o baque e encerra as atividades, já outras se fortalecem. Como o quinteto do ABC paulista Seventh Seal. O guitarrista e fundador Tiago Claro recrutou um time de primeira com o guitarrista Thiago Oliveira, o baixista Victor Próspero, o retorno do baterista Roberto Moratti e o vocalista Leandro Caçoilo. Juntos lançaram o álbum Mechanical Souls, que chama a atenção pela sua variedade e pela produção, que deixou tudo uniforme.
Nessa entrevista, a dupla de guitarristas fala além dos assuntos acima, sobre a cena do metal nacional no país, fora dele e muito mais.
Confiram!
Por João Messias Jr.
Fotos e Imagens: João Messias Jr./Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Após o segundo trabalho, Days of Insanity, aos
poucos a banda
foi sofrendo mudanças de formação, restando apenas o guitarrista Tiago Claro.
Como foi juntar as peças e reformular o grupo?
Nessa entrevista, a dupla de guitarristas fala além dos assuntos acima, sobre a cena do metal nacional no país, fora dele e muito mais.
Confiram!
Por João Messias Jr.
Fotos e Imagens: João Messias Jr./Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Após o segundo trabalho, Days of Insanity, aos
Seventh Seal 2013 Divulgação |
Tiago
Claro: Foi um pouco difícil e dolorido, afinal sempre fomos bem
unidos, eu formei a banda com o Ricardo e o Guilherme Busato e o Ricardo Peres
entrou menos de um ano depois então ficamos tocando junto por mais de 10 anos,
com o R.Peres 15 anos. Os dois irmãos foram morar na Europa e saíram antes do
Days of Insanity ser lançado.
Na sequencia tivemos alguns músicos que são grandes amigos
nossos, mas com certeza a entrada do Thiago Oliveira foi o ponto chave pra
fazermos esse álbum. Logo depois, o Ricardo deixou a banda e chamamos o Leandro
que já era um velho conhecido nosso. E também após a gravação o Roberto Moratti
que gravou o Days of Insanity voltou pra banda. Ou seja é uma história um pouco
confusa mesmo (risos).
Thiago
Oliveira: O meu material acabou chegando nas mãos da banda através da
Simone do Midnightmare, uma grande amiga. Eu já tinha visto a banda ao vivo
antes e eu me impressionei muito com o vocal do Ricardo, era uma puta banda de
se assistir o show. E como eu estava aqui estudando, sem nenhuma oportunidade
profissional séria, eu abracei o convite com unhas e dentes.
NHZ: Hoje
podemos dizer que o Seventh Seal possui uma das melhores formações de sua
história, com Tiago Claro e Thiago Oliveira (guitarras), Victor Próspero
(baixo), Roberto Moratti (bateria) e Leandro Caçoilo (voz). O que pesou na
escolha de cada um dos novos integrantes?
Tiago
Claro: Olha, quando estávamos procurando um guitarrista, recebi
diversas demos e tinham muitos caras que tocam demais, só que o Thiago eu pirei
não só por ele tocando mas também pelas composições, achei muito diferentes do
que rola por ai. O Victor já é um grande amigo há anos e toca muito bem, o
Roberto foi da banda de 2001 a 2007 mais ou menos e o Leandro foi que nós precisávamos
de um grande vocalista, então ele ouviu as pré-produções deste álbum, curtiu,
fizemos um show e logo em seguida ele entrou na banda.
Thiago
Oliveira: A minha namorada fazia aula de canto com o Leandro e
algumas vezes eu ia lá ficar de bobeira. Quando ele ficou sabendo que o Ricardo
saiu eu percebi que ele ficava “curioso demais” (risos). E como o Tiago falou,
eu mostrei pra ele o instrumental do disco e ele se interessou. Quando a gente
fez o show com ele como contratado, a energia fluiu muito bem. Muitas bandas o
convidaram pra entrar, várias de renome inclusive, ele chegou até a fazer
alguns trabalhos como convidado, mas a qualidade do novo trabalho foi o fator
decisivo pra que ele entrasse na banda como membro efetivo.
Mechanical Souls Divulgação |
Tiago
Claro: Simplesmente pelo fato de ser uma musica pesada, trabalhada
mas ao mesmo tempo com um refrão direto. Acho que ela representa bem o que é o
álbum
.
Thiago
Oliveira: É uma composição em que a letra situa bem o ouvinte com
relação à mensagem do disco. Isso sem contar que mostra onde o som está agora,
com mais peso, afinação mais baixa e algumas passagens mais complexas.
NHZ: O
álbum possui um direcionamento que conecta o debut, Premonition e o peso de
Days of Insanity. Essa conexão entre os dois trabalhos foi planejada?
Tiago
Claro: Planejada não. Na verdade, quando começamos a compor, a
minha ideia era fazer algo diferente do que fizemos nos dois discos anteriores,
mas sem perder a essência do que é a banda, então muitas vezes o Thiago se
encontrava com o Dárcio antigo baixista) na casa dele gravavam as ideias e me
mandavam para ouvir e naturalmente isso acontecia, mesmo porque eles nem
estavam na banda quando lançamos os dois álbuns, mas eles mesmos tinha essa
mesma intenção que eu.
Thiago
Oliveira: Como eu não fazia parte da banda nessa época eu não pensei
em nenhuma ponte entre os trabalhos anteriores e para ser sincero, eu acho o
som bem diferente, afinal é outra época e hoje temos outras pessoas na banda.
Tudo isso influi.
NHZ: Ainda
falando nas músicas do disco, elas chamam a atenção pela
variedade. Sleepless é
uma balada, Dark Chaint possui momentos que beiram o black metal e Virtual Ego com seus momentos hard e
thrash. Por causa das diferenças entre uma canção e outra, chegaram a pensar em
limar algumas do disco?
Tiago Claro João Messias Jr. |
Tiago
Claro: Não, alias essa é uma caracteristica do Seventh Seal desde
o primeiro CD. Se você pegar o Premonition você irá ouvir a Falling
Tears(balada) como a Die Lie que é um thrash/ death. No Days of Insanity, temos a Mistake in Love(balada) e a Grave of
Sadness (thrash). Sem contar as músicas hard rock que tem em ambos, como Evil
Love (Premonition) e The Miles Came Between Us (Days Of Insanity). Então, só
limamos se a música não nos agrada independente do estilo delas.
Thiago
Oliveira: Interessante você mencionar a Dark Chant. Ela era na
verdade, uma composição de uma antiga banda que eu tive, e que foi limada do
álbum. O mais legal é que agora que saiu é uma das mais bem comentadas nos
reviews. No meu ponto de vista, na hora de compor a única regra é não ter regra
(risos). Então, como eu já ouvi muito Dimmu Borgir, vai ter alguma coisa ali
que influenciar, seria muito falso da minha parte limar uma passagem só porque
não é comum ter aquilo no álbum de estilo X ou Y. Seguir rótulos só limita. O
flamenco que você citou num review era porque eu tenho formação de violão
erudito, então eu deixo a coisa vir independente do que pode ter originado
aquilo.
NHZ: A
produção foi feita no Norcal Studios pelo guitarrista Thiago Oliveira, que
antes de tudo, merece os parabéns, pois
conseguiu nivelar todos os instrumentos por igual, dando ao ouvinte a
oportunidade de ouvir uma banda de verdade. Para chegar nesse resultado, algum
trabalho te inspirou ou seguiu o feeling?
Thiago
Oliveira: Valeu João, não foi fácil chegar! Era muita coisa no
arranjo e não podia sair de qualquer jeito. Com relação ao som, eu não tinha nenhum
trabalho em mente, mas eu sabia bem o que eu queria. Eu queria um som moderno,
mais pesado e eu sabia que ao mesmo tempo as melodias e as coisas mais sutis
estariam lá. E como eu sabia o tipo de som que esse CD teria que ter, nós
acabamos optando pela mixagem do Brendan no Norcal. Eu já tinha levado um trampo
pra masterizar por lá e percebi que ele
tinha um ouvido muito bom pras coisas, esse é o diferencial.
Muitas vezes em uma produção algum instrumento é enterrado é
porque a performance não é boa, mas nesse caso como todo mundo tocou tão bem
que não tem porque esconder nada.
Thiago Oliveira João Messias Jr. |
Thiago
Oliveira: Existe. É bem complicado. No meu caso eu escrevi as letras,
fiz os arranjos, programei os sintetizadores, fiz as partes de orquestra, eu
estava do lado em todos os estágios do processo e foi bem desgastante, ainda
mais porque não é o trabalho de outra pessoa. È o seu próprio. Na época, eu
tocava no “Cabaret”, musical da Claudia Raia, então muitas vezes eu ia gravar
as minhas partes de madrugada depois de tocar duas sessões de duas horas no
teatro. Então eu tinha que tocar e pilotar a gravação ao mesmo tempo depois de
ter tocado antes. Tirando isso, como todo mundo já tinha bastante experiência
tocando e gravando foi bem fácil. Em certos momentos eu até não falava muito e
deixava a pessoa colocar a própria marca, porque afinal de contas é para aquilo
que tem o outro cara na banda certo?
NHZ: Outro
aspecto interessante é olhar que quase todos os membros contribuem nas canções.
Sendo você o único membro original Tiago, como é ter esse tipo de contribuição
de músicos que de certa forma não estavam familiarizados com o estilo do grupo?
Tiago Claro: Eu nunca
coloquei para qualquer novo membro da banda que o som teria que ser desse jeito
ou daquele. Mas claro, os que entram ou entraram sabem que tocamos heavy metal
e dentro disso podemos explorar diversos estilos então acho que fica fácil para
eles se adaptarem ao som do Seventh Seal.
Thiago
Oliveira: Acho que eu não teria entrado na banda se o outro Tiago
fosse um daqueles caras bitolados. Eu percebi é que sempre chegava alguma banda
me convidando e era sempre o mesmo papo “queremos fazer um som estilo a banda
X”. Na boa, se a banda consagrada já existe, porque perder tempo tentando fazer
o que eles já fazem?
O trabalho
foi lançado pela Shinigami Records, gravadora que vem prestigiando o metal
nacional em seus lançamentos, como o novo do Panzer e Skinlepsy. O que os
motivaram a assinar com eles?
Tiago
Claro: Na verdade, eles foram ao show que nós abrimos pro Orphaned
Land e pelo o que me disseram, gostaram do nosso show. Entrei em contato e eles
se interessaram, então acertamos essa parceria. Mas claro que antes disso
algumas bandas já haviam me falado do trabalho sério e honesto que eles fazem.
NHZ: Apesar
do pouco tempo de seu lançamento, o que estão achando das primeiras resenhas do
trabalho? Alguma em especial chamou a atenção da banda?
Tiago
Claro: Estão ótimas, geralmente nós absorvemos muito bem as
resenhas. Claro que ficamos muito mais felizes quando é positiva, óbvio
(risos). Mas o legal é saber distinguir a critica construtiva para tentar
melhorar ainda mais. Todas foram excelentes.
NHZ: Vocês
optaram por fazerem poucos shows. Essa postura foi por não terem um disco novo
para divulgar e agora com o CD lançado, pretendem mudar isso?
Tiago
Claro: Ah sim com certeza nossa ideia é fazermos mais shows. Claro
que depois de 18 anos de banda, precisamos de um mínimo de estrutura para fazer
um show legal para nosso público, mas geralmente os produtores tem nos elogiado
pela forma que trabalhamos. Isso é muito bom (risos).
Thiago
Oliveira: Como a banda esteve muito ocupada com o CD nos últimos
meses, a gente só pegou pra fazer os shows que a gente sentiu que seriam boas
oportunidades. Agora com o CD em mãos, vamos fazer mais.
Recentemente
vocês fizeram a abertura para o grupo canadense Anvil, banda que teve um “up”
na carreira após ter sua trajetória num documentário. Queria saber se vocês já
viram o filme e se de certa forma o mesmo encoraja a banda a seguir em frente,
mesmo com todos os percalços.
Tiago
Claro: Vimos o filme 63 vezes, tá bom (risos)? Brincadeira, mas eu
particularmente vi varias vezes. Um lance muito legal que quando nós fomos para
a Europa, o Thiago chegou em um dos ensaios que antecederam a tour e levou o
filme e disse: "preciso mostrar isso a vocês". Dai assistimos juntos
e foi a mesma reação de todos. Enfim esse realmente é um dos melhores filmes de
rock que já vi e muita coisa o que eles passaram ali eu já passei também. Acho
que as bandas iniciantes deveriam assistir para ter noção que nem tudo são
maravilhas, a dificuldade no meio é gigante, infelizmente.
Thiago
Oliveira: Por causa daquele filme, eu entrei no avião pra Europa
morrendo de medo de ter problemas na tour, ainda bem que deu tudo certo. Mas a
vida de banda é cheia de altos e baixos mesmo. Eu tocava numa orquestra de
musical e trabalhava na equipe o diretor do documentário que está sendo feito
sobre o Sepultura e ele comentava que até com eles a coisa é assim. Se é assim
pro Sepultura, que é icone, imagina pra gente?
NHZ: Para
encerrar, queria a opinião de vocês sobre o que acham da
cena do metal nacional e o que pode ser
melhorado.
Leandro Caçoilo João Messias Jr. |
Tiago Claro:
A
cena mudou muito nos últimos anos. Acho que a quantidade enorme de shows
internacionais deu uma quebrada. Mas isso poderia vir ao nosso favor que era
tendo bandas nacionais nas aberturas, mas infelizmente tem muito produtor que só
pensa em dinheiro e falam que banda de abertura dá trabalho. Já ouvi isso
varias vezes, é triste. Ao mesmo tempo, se você quiser fazer seu show em um
bar, irá concorrer com uma banda gringa na semana e terá que ouvir aquela
desculpa do publico que não tem dinheiro porque foi ver aquela banda do
exterior e tal. Outro dia eu estava falando com uns amigos que falaram o
seguinte: "Eu só vou a show de bandas nacionais quando eu quiser ir, eu
apoio a cena quando eu quero. Se eu quiser pagar 200 pra ver a banda gringa eu
vou e pronto" então muita gente pensa assim, só não falam, esses foram
mais verdadeiros (risos). Acho que não adianta fazer discurso de apoio a cena e
etc, não resolve mais. O lance é contarmos com aqueles que querem fazer algo
realmente, então eu não tenho mais nada a falar, só agradecer todos amigos que
vem nos acompanhando todos esses anos.
Thiago
Oliveira: Olha, o lance da cena é bem complicado. São uma série de
fatores que contribuem pras coisas estarem do jeito que estão e é uma questão
que tem os dois lados.
Na boa, se eu escuto uma banda nacional ruim, ou sem
criatividade eu também não vou querer saber. Tem muito jabá rolando em cima de
banda mediana, então aparece quem paga, ou quem tem contatos e amizades no meio
e eu acho que isso meio que queima um pouco a cena. Porque se a banda que
aparece é ruim ou não acrescenta nada, quem vê tem uma imagem distorcida do
underground. Aí muito fã reclama que se tenta enfiar goela abaixo certas bandas
e eu concordo com isso. Tem muita banda que reclama, mas eu vi o Top 5 das
vendas da Die Hard outro dia e 4 dos Cds eram de bandas nacionais, tinha o
Viper, o Kernunna, o novo do Almah e mais outro que eu não lembro. Acho que
quando o trabalho é bom o público reconhece. Não adianta você ir lá e copiar
quem quer que seja e esperar que o público daquela banda animal, que tem uma
porrada de CDs lançados e uma puta carreira vai querer comprar o seu.
Por outro lado rola um preconceito do público daqui com a
cena local. Essa postura por parte de muitos fãs acaba sendo injusta para uma
banda como,por exemplo, o Dynahead, que é super original e de qualidade. Aí
muitas vezes você vê uma banda de fora, que toca só em muquifo na gringa e aqui
é idolatrada igual a rock star.
O que a gente vê lá fora é que existe cena underground igual aqui, com a diferença que as casas de show
tem mais estrutura. E no exterior, do mesmo jeito que tem bandas muito boas,
rola porcaria também. Tem que ficar esperto que os gringos também tentam
empurrar porcaria e tem jabá lá fora também.
NHZ: Muito
obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem aos leitores desta publicação.
Tiago
Claro: Muito obrigado a você João, batalhador da cena nacional e
todos nossos amigos e admiradores que nos apoiam, vocês são a razão de
continuarmos na batalha. Vejo vocês nos nossos shows. Valeu!
Thiago
Oliveira: Valeu pessoal! Espero que vocês embarquem na nossa viagem e
espero conhecer vocês pessoalmente na estrada!
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